22/03/2006 - Brasília
- O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Mércio Gomes,
classificou de "estapafúrdio"
o relatório das Nações
Unidas (ONU) sobre racismo e discriminação
no Brasil, divulgado na semana passada. O
relator da ONU, Doudou Diène, esteve
no Brasil no ano passado para levantar dados
sobre o tema e de volta aos Estados Unidos,
fez duras críticas à Funai.
Segundo Diène, os índios têm
uma relação conflituosa com
a Fundação, sentem-se abandonados
e perseguidos pelas autoridades públicas.
"Esse relator esteve
comigo em outubro. Conversamos, apresentei
o quadro da situação indígena
brasileira, as dificuldades. Depois, ele saiu
daqui e foi conversar com organizações
não-governamentais e mudou a opinião
completamente. Ele não conversou com
índios e depois veio com esse relatório
estapafúrdio", disse Gomes.
Em entrevista hoje (22)
à Rádio Nacional, o presidente
da Funai rebateu acusações do
relator da ONU, que chegou a afirmar que o
governo brasileiro tentou mudar trechos do
relatório: "Isso não é
verdade [que o governo tentou mudar]. É
um relatório que ele apresentou preliminarmente
à missão brasileira na ONU.
A missão tinha o direito de rebater
e rebateu. Nós rebatemos o que ele
disse porque ele disse mentiras".
Na opinião do presidente
da Funai, Diène foi arrogante por usar
o relatório para dizer como o Brasil
tem que decidir sobre suas questões.
Gomes fez esse comentário em função
da sugestão do relator das Nações
Unidas para que o governo brasileiro coloque
um indígena na presidência da
Funai. "Isso é uma decisão
de governo. Certamente, um dia, um índio
será presidente da Funai, mas não
porque um relator da ONU acha que deva ser
assim", observou.
Para o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, é natural
que um relator das Nações Unidas
faça críticas em relação
ao tema que investiga, em qualquer país
que seja. Amorim disse que o Brasil não
tem dificuldades em aceitar críticas
e que trata com transparência todos
os relatórios da ONU. "Ao contrário
de muitos países desenvolvidos que
têm dificuldades que se faça
relatórios, por exemplo, sobre a situação
dos migrantes. Agora, é preciso ver
o grau das críticas. Se são
justas ou se exageram, os órgãos
colegiados (das Nações Unidas)
vão avaliar. E nós faremos nossas
apresentações", disse.
Amorim admitiu que existem
problemas no Brasil relativos ao tema investigado
pelo relator da ONU, mas ressaltou que o atual
governo tem feito "muito para melhorar
essa situação". Para o
ministro, também ainda há muito
o que fazer para o país alcançar
uma verdadeira democracia racial. "Quando
se olha para uma delegação brasileira
no exterior, é difícil de acreditar
que há uma democracia racial. Nós
temos muito que fazer", reconheceu o
ministro.