29/03/2006 - Rio
- No último dia 21, a Comissão
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(CMADS) da Câmara dos Deputados aprovou
relatório sobre a segurança
das instalações nucleares brasileiras.
O documento fez alertas quanto à segurança
da população, do meio ambiente
e dos trabalhadores do setor, apontando a
inexistência de locais próprios
para o depósito de lixo radioativo,
entre outras denúncias.
Hoje, em palestra para jornalistas,
o assistente da presidência da Eletronuclear,
Leonam dos Santos Guimarães, disse
que o Brasil não desenvolveu ainda
uma alternativa para a deposição
dos rejeitos radiativos no país porque
só sofrerá o problema em cerca
de três décadas, e as autoridades
preferem esperar até lá, quando
deverá haver alternativas tecnológicas
mais eficientes para resolver o problema.
"Nenhum país do mundo tem uma
política de deposição
definitiva de rejeitos radioativos",
disse ele.
"A gente resolve o
problema (de gerenciamento de rejeitos) quando
ele existe. Hoje, a gente não está
pensando em resolver um problema que vai ter
daqui a 30 anos", argumentou Guimarães,
durante Seminário sobre o Sistema Elétrico
para Jornalistas, em Furnas Centrais Elétricas.
De acordo com o relatório
da Câmara, só existe no país
um único depósito definitivo
de rejeitos nucleares, que é o de Abadia
de Goiânia (GO). No local, está
depositado o lixo radioativo resultante do
maior acidente do gênero ocorrido no
país, em 1987, quando uma cápsula
do elemento químico césio 137,
desativada, foi manipulada por catadores de
lixo, provocando contaminação
em cerca de 300 pessoas. Outros oito depósitos
funcionam sem licenciamento, segundo o relatório,
que aponta que "a questão dos
rejeitos nucleares é tratada de forma
provisória, improvisada".
O texto do relatório
tem como autor o deputado Edson Duarte (PV/BA)
e se baseou em visitas de um grupo de deputados
a instalações nucleares e debates
com entidades civis, entre outras ações,
empreendidas desde abril de 2005. O relatório
propõe nove projetos de lei para corrigir
as falhas que teriam sido encontradas na operação
do setor nuclear no Brasil.
O especialista da Eletronuclear
explicou que "o problema da deposição
definitiva de combustível usado se
coloca quando você já tem uma
quantidade de rejeito muito grande que não
consegue armazenar dentro das centrais".
O primeiro país a enfrentar esse problema
atualmente são os Estados Unidos, disse
ele. "As soluções propostas
hoje certamente são piores do que as
que vão estar disponíveis em
30 anos."
Segundo Guimarães,
o Brasil poderá vir a se beneficiar
das experiências de outros países
que enfrentarão esse tipo de problema
numa etapa anterior. A política vigente
no Brasil estabelece que, até 2011,
o depósito inicial dos rejeitos de
baixa e média radioatividade seja construído
próximo às fontes produtivas,
isto é, as usinas nucleares de Angra
I e II, localizadas no município de
Angra dos Reis, na Costa Verde Fluminense.
Esses depósitos, em maior volume, têm
a guarda de responsabilidade da Eletronuclear.
Após 2011, os rejeitos
serão transferidos para um depósito
final, sob a responsabilidade da Comissão
Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O local
de construção desse deposito
está sendo definido pela Cnen, com
a ajuda da Eletronuclear.
Já os rejeitos de
alta radioatividade ficam guardados em uma
piscina no interior das unidades produtoras.
O segundo passo para os resíduos desse
tipo é um depósito intermediário
de longa duração. No relatório
da Câmara, os deputados analisam que
as piscinas que guardam os rejeitos de Angra
I e II são provisórias, mostrando
capacidade que poderá não ultrapassar
o ano de 2015.
Guimarães afirmou
que, nesse depósito final que a Cnen
vai administrar, ficarão armazenados
não só os rejeitos das centrais
nucleares, mas também os rejeitos de
aplicações nucleares em medicina,
agricultura, saúde etc. "E a Cnen
é responsável por recolher e
gerenciar esses rejeitos", lembrou, acrescentando
que esse gênero de resíduo é
menor em quantidade, mas pior devido à
facilidade de dispersão.