Macaco-prego
é encontrado em fragmentos de Mata
Atlântica e já se encontra criticamente
ameaçado de extinção
Pernambuco, 17 de maio de
2006 — Pesquisadores da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE) publicaram recentemente
a descoberta de nova espécie de primata,
designado Cebus queirozi. Os responsáveis
pela descoberta do novo macaco-prego, Antônio
Rossano Mendes Pontes, Alexandre Malta e Paulo
Henrique Asfora, encontraram um pequeno grupo
na Mata Atlântica do Nordeste, área
situada acima do Rio São Francisco,
uma das regiões mais ricas em biodiversidade
e, ao mesmo tempo, mais ameaçadas de
toda a Terra. O artigo foi publicado na Zootaxa,
uma revista científica internacional
dedicada, principalmente, à publicação
de artigos que contêm descrições
de espécies novas e, também,
revisões taxonômicas de vários
grupos de animais.
O macaco-prego-louro ou
macaco-prego-galego foi identificado durante
um inventário realizado em uma propriedade
particular, no município de Ipojuca
no estado de Pernambuco. A espécie,
que chama a atenção pela cor
de seu pêlo dourado, vive sob forte
ameaça em pequenos fragmentos de terra,
isolados por plantações de cana-de-açúcar.
Conscientes da importância da descoberta,
os proprietários da área intensificaram
a fiscalização e se comprometeram
a restaurar alguns fragmentos de floresta
na região. O nome dado à espécie
foi uma homenagem à família
Queiroz, proprietária da fazenda onde
a espécie foi encontrada, que protegeu
a área por mais de 30 anos.
De acordo com a União
para a Conservação Mundial da
Natureza (IUCN), existe uma série de
critérios para considerar uma espécie
ameaçada de extinção.
Dentre eles, estão: a acentuada redução
no tamanho das populações, a
fragmentação do habitat onde
a espécie ocorre e o endemismo restrito
(ocorrência em uma pequena área
geográfica). “Esta é exatamente
a situação em que se encontra
a Mata Atlântica ao norte do rio São
Francisco, região que inclui todas
as florestas litorâneas, entre os estados
do Rio Grande do Norte e Alagoas. Neste contexto,
a nova espécie de macaco-prego recém-descoberta
já se enquadrada, imediatamente, na
categoria de mais alta ameaça”, explica
Rossano Pontes, coordenador do Laboratório
de Estudo e Conservação da Natureza,
da Universidade Federal de Pernambuco.
Para prevenir o desaparecimento
de numerosas espécies, incluindo o
macaco-prego-louro ou macaco–prego-galego,
a região necessita de ações
de conservação urgentes. A Mata
Atlântica do Nordeste, acima do rio
São Francisco, é denominada
Centro de Endemismo de Pernambuco, pois a
região apresenta várias espécies
endêmicas, ou seja, não encontradas
em nenhuma outra parte do planeta. “Para reverter
o processo de degradação da
Mata Atlântica, nessa região,
é preciso uma nova abordagem, criando
uma rede de paisagens sustentáveis
e ampliando a conectividade entre os remanescentes
florestais, que torne possível a manutenção
e regeneração da floresta e
as necessárias trocas genéticas
para a continuidade da vida de muitas espécies,
como vem sendo trabalhado através da
estratégia do Corredor de Biodiversidade
do Nordeste”, alerta Marcelo Tabarelli, diretor
do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste
(CEPAN) e professor da Universidade Federal
de Pernambuco.
Dos 56.400 km2 de floresta
original da Mata Atlântica, ao norte
do rio São Francisco, sobraram menos
de 2.000 km2 (menos de 4%) de florestas em
razoável estado de conservação,
distribuídos em pequenos fragmentos.
A destruição da floresta nesta
região é muito antiga, e é
decorrente da época de exploração
do pau-brasil, da criação extensiva
do gado e da plantação de cana-de-açúcar.
“O Corredor de Biodiversidade
do Nordeste é uma das regiões
mais críticas da Mata Atlântica
e, para reverter essa situação,
temos que agir rapidamente, em diferentes
escalas, com embasamento científico
e, através de parcerias e alianças
entre os diversos setores da sociedade daquela
região”, salienta Luiz Paulo Pinto,
diretor do Programa Mata Atlântica da
Conservação Internacional (CI-Brasil).
O artigo está disponível
no link: www.mapress.com/zootaxa/