17/05/2006 - Manaus
- Uma semana após a chegada em Santarém,
no Pará, do navio Arctic Sunriseno,
do Greenpeace, o clima de tensão entre
produtores de soja e membros da organização
não-governamental ambientalista continua.
O navio é uma das três embarcações
da entidade, um quebra-gelo que estava sendo
usado em protestos contra a caça de
baleias.
"No sábado nós
tivemos uma ativista que queimou a perna,
um fotógrafo nosso que teve a câmera
empurrada contra o rosto e machucou o nariz.
No domingo, outro fotógrafo teve o
olho atingido por um feixe de raio laser apontado
por sojeiros", contou o coordenador do
Programa de Áreas Protegidas da Campanha
Amazônia, André Mugiatti. "Estamos
registrando essas ocorrências hoje,
da maneira que for aconselhada por nossos
advogados".
As agressões aconteceram
no último fim de semana, à noite,
quando os ambientalistas mostrariam ao ar
livre gravações de desmatamento
feitas na região. No sábado,
elas seriam exibidas em um telão estendido
em um barco regional, próximo à
orla da cidade – mas fogos de artifício
foram atirados contra o bote que continha
o projetor. Os manifestantes avançaram
também contra o fotógrafo independente
Carlos Matos, que registrou as cenas de violência.
"Muita gente tentou
impedir, mas eles tiraram à força
a máquina do Carlos e a jogaram no
chão", contou o editor da Gazeta
de Santarém, Celivaldo Carneiro. "Eu
disse para pararem com aquilo, que ele era
um trabalhador da nossa terra. Mas me chamaram
de índio, de preguiçoso, disseram
que eram eles que traziam o progresso para
a região".
O coordenador afirmou ainda
que como os três ativistas feridos são
estrangeiros (uma canadense, um alemão
e um espanhol), as queixas devem ser registradas
na Polícia Federal. Mas o Greenpeace
estuda também entrar com uma representação
no Ministério Público Federal,
já que a Polícia Militar, segundo
os ambientalistas, estaria atuando em favor
dos agressores.
No domingo, o vídeo
seria projetado no prédio da Cargill,
multinacional exportadora de soja, em referência
ao fato da soja impulsionar o desmatamento
da região. "Quatro carros entraram
na área reservada do Porto e ficaram
jogando luz alta no nosso barco, dizendo que
iriam queimá-lo. Era um horário
em que para entar lá nós tínhamos
que fornecer nome completo e número
da identidade, mas eles passaram livremente",
revelou Muggiati. "Eles estavam acompanhados
da Polícia Militar. O policial nos
disse que estava lá para impedir que
a gente os atacasse".
O presidente do Sindicato
dos Produtores Rurais de Santarém,
Adenor Batista, esclareceu que a diretoria
da entidade não participou nem incentivou
os protestos violentos. "Mas é
difícil segurar as pessoas. O Greenpeace
fica provocando, fazendo palestras em escolas
contra a soja, jogando os estudantes uns contra
os outros", ponderou. "Eles pregam
a estagnação, mas a gente precisa
de desenvolvimento – com responsabilidade.
É só sair nas ruas que você
verá alguns dos 10 mil carros com adesivos
'Fora Greenpeace! A Amazônia é
dos brasileiros' ".
A equipe de reportagem da
Radiobrás não conseguiu o contato
da Polícia Militar de Santarém
pelos telefones disponíveis.