23-05-2006
- São Paulo - Estratégia do
governo canadense busca eliminar apoio para
os projetos de redução das emissões
no país, o que ocasionará maiores
impactos na mudança climática
no mundo
O governo do Canadá
está usando as negociações
internacionais da Convenção
de Mudança de Clima e do Protocolo
de Kyoto, que terminam dia 26 de maio na Alemanha,
para impedir que os países alcancem
um acordo internacional que fortaleça
os esforços de prevenção
contra os desastres climáticos.
Isso ficou evidente com
a revelação das instruções
confidenciais para os negociadores do governo
canadense, que vazaram para a imprensa. Os
documentos detalham a estratégia do
Canadá para bloquear os progressos
e enfraquecer os esforços do Protocolo
de Kyoto e da Convenção de Clima.
O peso do Canadá
nas negociações é grande,
já que está presidindo as reuniões,
conforme regra da ONU, que estabelece que
o país sede da última reunião
presida a próxima. Em dezembro passado,
a conferência foi em Montreal, quando
o governo canadense, anterior ao atual, dava
pleno apoio ao acordo internacional.
“Está claro que o
novo governo do Canadá juntou forças
com a administração Bush para
impedir os esforços globais de prevenção
à mudança climática”,
disse Mark Lutes do Climate Action Network
(CAN) e do Vitae Civilis, que está
participando da reunião de Bonn.
Eleito em janeiro último,
o novo primeiro-ministro do Canadá,
Stephen Harper, anunciou que eles não
iriam cumprir seus compromissos em relação
ao Protocolo de Kyoto, que exige que o país
reduza suas emissões de gases de efeito
estufa para 6% abaixo dos níveis de
11000. As emissões do Canadá
estão hoje 35% acima das de 11000.
O governo de Harper descartou
o plano que a administração
anterior tinha para reduzir emissões
e cumprir as metas do país. Harper
cortou fundos e eliminou programas voltados
para a redução das emissões
e para a eficiência energética.
Em abril, quatro especialistas
brasileiros em mudança climática
enviaram uma carta para Harper expressando
suas preocupações sobre a política
do novo governo e pedindo informações
sobre os seus planos. Não obtiveram
nenhuma resposta ainda.
Os autores estão
preocupados com os impactos que essas novas
políticas teriam nos esforços
globais para prevenção das mudanças
climáticas e dos projetos que estão
sendo levados a cabo no Brasil. Para o professor
Luís Gylvan Meira Filho, do Instituto
de Estudos Avançados da USP, “a atitude
do Canadá põe em risco o esforço
mundial para mitigar as causas de aquecimento
do planeta”.
“A posição
do governo canadense é pior do que
imaginávamos – eles estão bloqueando
as negociações, o que eliminaria
no final das contas o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL), um fundo que dá suporte
a projetos executados em países em
desenvolvimento como o Brasil”, diz Rubens
Born, do Vitae Civilis.
Hoje, apenas Estados Unidos
e Austrália não fazem nenhum
esforço para o combate às mudanças
climáticas. “Com essa mudança
de posição, o Canadá
se junta ao grupo de vilões do clima
do planeta e ameaça todos os avanços
obtidos nas negociações internacionais
sobre o clima”, afirmou Carlos Rittl, coordenador
da campanha de clima do Greenpeace no Brasil.
“Em vez de começar
a reduzir as emissões mundiais até
2020, o que é necessário para
evitar impactos de proporções
incalculáveis, a nova posição
do governo canadense pode dobrar as emissões
até 2050. Isto será uma tragédia
para todo o planeta, até mesmo para
o Brasil, que é extremamente vulnerável
às mudanças climáticas",
acrescentou Rittl. “Não há tempo
para retroceder, é o momento de avançar.
Todos têm que aumentar suas contribuições.
Inclusive o Brasil”, concluiu.