Moradores da RDS
Cujubim utilizam sistema de radiocomunicação
para denunciar extração ilegal
de madeira
Belém, 25 de maio
de 2006 — Os moradores da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável (RDS) Cujubim, localizada
no rio Jutaí, afluente do rio Solimões
no estado do Amazonas, fizeram uma denúncia
de exploração madeireira ilegal
na unidade de conservação que
resultou na apreensão de 98 toras e
120 pranchas beneficiadas de cedro, no rio
Juruazinho, dentro da RDS.
A operação
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recu rsos Naturais Renováveis (Ibama)
e do Instituto de Proteção Ambiental
do Amazonas (Ipaam) que autuou em flagrante
os madeireiros que cometiam crimes ambientais
na reserva só foi possível graças
a um sistema de radiocomunicação
instalado na RDS Cujubim, situada em área
remota e de difícil comunicação.
Ontem (23), os moradores
da RDS Cujubim comunicaram, à equipe
de campo da reserva, nova embarcação
extraindo madeira ilegalmente. A denúncia
foi encaminhada ao Ibama de Jutaí e
à SDS.
Segundo o secretário
executivo adjunto de extrativismo, Ademar
Cruz, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável (SDS)
do governo do Amazonas, a denúncia
era um mecanismo de ação social
desconhecido dentro da maior parte das unidades
de conservação do Estado.
"O fato é inédito
e representa um novo momento na gestão
de UC em nosso Estado, voltado para o estabelecimento
de parcerias institucionais e um novo modelo
de gestão de áreas protegidas,
que prioriza a participação
dos moradores das reservas no monitoramento
da biodiversidade local", afirma Ademar
Cruz.
Esta mudança de paradigma
descrita por Cruz teve início com a
implantação de um sistema de
radiocomunicações na RDS Cujubim.
Os equipamentos melhoram a vida das pessoas
tirando-as do isolamento total e são
também um poderoso aliado no controle
do território e na garantia de sua
integridade.
No episódio da denúncia,
além de possibilitar a comunicação
rápida com o Ibama e com o Ipaam, os
rádios serviram para que os moradores
monitorassem a rota dos madeireiros, indicando
com precisão, para os fiscais, onde
os infratores se localizavam.
Para José Maria Cardoso
da Silva, vice presidente de ciência
da Conservação Internacional
(CI-Brasil), esta é a prova de que
a criação de unidades de conservação
com o apoio das comunidades tradicionais é
uma das formas mais efetivas de garantir o
desenvolvimento sustentável do Amazonas,
pois com a criação das reservas,
há também um esforço
para que as comunidades, com capacitação
e tecnologia adequadas, possam elas próprias
gerenciarem os seus recursos naturais. "Na
verdade, a criação de unidades
de conservação de uso sustentável
no Amazonas é talvez um dos melhores
e mais efetivos programas de redistribuição
de renda no Brasil, pois garante trabalho
e renda para várias gerações
de ribeirinhos e extrativistas que são
geralmente marginalizados nos modos tradicionais
de se promover o desenvolvimento social e
econômico no país", comenta
Silva.
Embora ainda não
esteja definido, o destino da madeira apreendida
deverá ser a própria reserva.
Como nunca ocorreu uma apreensão de
madeira ilegal na área, devido à
falta de monitoramento adequado, as autoridades
precisam definir os critérios mais
ágeis e eficientes para que a madeira
apreendida seja devolvida aos comunitários.
O equipamento de radiocomunicação
foi doado aos moradores da RDS pela organização
não-governamental CI-Brasil com apoio
da Embaixada Britânica.
Expedição
– Inicia-se no dia 05 de junho uma nova expedição
para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Cujubim. Essa fase dos trabalhos científicos
tem como objetivo gerar estudos para a elaboração
do Plano de Gestão do Cujubim.
A previsão é
de que até o início de 2007,
a extração de madeira esteja
regulamentada dentro da reserva e ocorra de
forma controlada, com base em planos de manejo
comunitários feitos e monitorados por
especialistas qualificados. Para isso, existe
uma parceria entre o Ibama e o Ipaam para
definir as regras de manejo florestal na UC.
Cruz afirma que com a elaboração
do Plano de Gestão e a implantação
de planos de manejo para produtos florestais–
aumentem o valor agregado destes produtos
e contribuam para a melhoria da renda e da
qualidade de vida dos comunitários
que vivem na reserva.
A RDS Cujubim - A Reserva
de Desenvolvimento Sustentável Cujubim
foi criada em 2003 no município de
Jutaí, extremo oeste do Amazonas, pelo
Governo do Estado. Com cerca de 2,4 milhões
de hectares - uma área maior que a
do Estado de Israel - é uma das maiores
unidades de conservação de uso
sustentável do Brasil.
Localiza-se na bacia do
rio Jutaí, afluente da margem direita
do rio Solimões, entre a Terra Indígena
do Vale do Javari, ao sudoeste, e a Terra
Indígena do Biá, ao norte; e
faz parte de um dos maiores blocos contínuos
de áreas protegidas em florestas tropicais,
totalizando 12,2 milhões de hectares.
A RDS Cujubim é rica
em diferentes tipos de vegetação.
Ao longo dos rios é possível
encontrar florestas sazonalmente alagáveis
de várzea ou igapó. Nos setores
mais altos, a floresta é de terra firme,
podendo ser densa ou mais aberta, de acordo
com a variação do relevo.
Aproximadamente 290 pessoas,
distribuídas em 56 famílias,
vivem na área da RDS, sendo que a maioria
tem como principal atividade econômica
a agricultura de subsistência, aa pesca
e o extrativismo.
A Conservação Internacional
(CI-Brasil) tem sede em Belo Horizonte-MG.
Outros escritórios estão estrategicamente
localizados em Brasília-DF, Belém-PA,
Campo Grande-MS e Salvador-BA. A Conservação
Internacional (CI) foi fundada em 1987 com
o objetivo de conservar o patrimônio
natural do planeta - nossa biodiversidade
global - e demonstrar que as sociedades humanas
são capazes de viver em harmonia com
a natureza. Como uma organização
não-governamental global, a CI atua
em mais de 40 países, em quatro continentes.
A organização utiliza uma variedade
de ferramentas científicas, econômicas
e de conscientização ambiental,
além de estratégias que ajudam
na identificação de alternativas
que não prejudiquem o meio ambiente.