20
de julho - Em cena estavam os belos adereços
que marcam o ritual do aruanã: a vestimenta
de palha sobre o corpo de dois homens, com
máscaras e altos cocares de penas de
araras; pintura corporal de jenipapo e chumaços
de penas brancas sobre a pele de duas jovens
mulheres que os acompanham na dança.
Idas e vindas pelo pátio central da
aldeia Javaé Boto Velho, chamada de
Inywebohona, cantando músicas junto
de chocalhos.
A celebração
pelo primeiro ano da homologação
da Terra Indígena Iñawébohona,
localizada na Ilha do Bananal (TO), na sexta-feira
14 de julho, reuniu cerca de 500 pessoas,
incluindo representantes de comunidades vizinhas,
como Karajá e Xerente. Entre as autoridades,
estavam o presidente da Funai (Fundação
Nacional do Índio), Mércio Pereira
Gomes, o embaixador da Austrália, Peter
Heyward, com sua mulher Susan, a Secretária
de Trabalho e Ação Social do
Tocantins, Valquíria Moreira Rezende,
o procurador da República Mário
Lúcio Avelar, deputados e o vereador
de origem indígena do Município
Lagoa da Confusão, José Hani
Karajá.
“É uma luta de mais
de trinta anos pelo reconhecimento de nosso
território tradicional”, lembrou, na
abertura da cerimônia, o cacique Wagner
Javaé. Liderança jovem na aldeia,
Wagner passou a palavra para os mais velhos,
como Miguel e Ronaldo. “Sofremos muito com
posseiros e invasores, e ainda tivemos que
provar que cuidamos bem de nossa terra”, desabafou
Miguel.
Ele fazia referência
à sobre posição da Terra
Indígena sobre a unidade de conservação
ambiental. Iñawébohona está
localizada ao nordeste da Ilha do Bananal,
cercada pelos rios Javaé e Araguaia,
dentro do Parque Nacional do Araguaia, unidade
de conservação protegida pelo
Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis).
Nas discussões políticas durante
o processo de homologação, contou
a ancestralidade do território. E prevaleceu
o aspecto cultural da área, agora protegido
com uma dupla afetação pela
lei.
Desde o governo Getúlio
Vargas, no início dos anos 30, que
índios Karajá, Javaé
e Xambioá, considerados povos irmãos,
ganharam status como um dos principais povos
indígenas brasileiros. “Souberam, como
poucos, manter a integralidade de uma das
mais ricas culturas de nosso País,
com luta e resistência que começa
a ser reconhecida pelo direito nacional”,
disse o presidente da Funai, Mércio
Gomes. “Mostraram a toda a humanidade a grande
habilidade que possuem com suas longas canoas,
o conhecimento que possuem sobre as águas,
as cheias, a agricultura em terrenos difíceis,
e encantaram desde os primeiros contatos com
a beleza de seus rituais”, complementou.
Encantamento que cativou
o embaixador da Austrália, em seu primeiro
contato com os povos indígenas do Brasil.
“Compartilho a alegria de vocês nesse
momento, pelo reconhecimento da luta de um
povo indígena pela sua terra. E levo
para o meu país, que também
possui uma grande população
indígena, esta bela experiência”,
disse Peter Heyward. Como lembrança,
ele ganhou uma borduna do cacique Miguel,
símbolo guerreiro dos Javaé.
A festa teve a fartura de
muitos peixes pescados pelos próprios
Javaé, farinha e gado. E mais danças
e cantos. Puxados pelo canto de Juarez Uraiá
Javaé, os Javaé desfrutaram
o momento e celebraram a reconquista de seu
território.