20
de julho - Próximos à fogueira
no centro da bela aldeia Tanguro, do povo
Kalapalo, os homens descansavam após
um período de batalha contra um boneco
feito de folhagem amarrada com embira, localizado
logo ao lado. Contra ele, gritavam ofensas
e arremessavam lanças, um de cada vez,
enquanto o restante do grupo cantava ao redor
do boneco. Pintados, somava-se ao urucum e
o jenipapo a brancura da argila proveniente
da beira das águas do rio Xingu. Todos
portam cocares e adereços e, sempre
cantando, fazem com que a tradicional cerimônia
do Jawari, celebrada neste ano entre dias
14 a 16 de julho, seja considerada uma das
mais belas dos povos do Alto Xingu.
Após os “treinamentos”
no boneco, o rito ganha um ar de disputas,
cada qual entre dois indivíduos de
etnias diferentes, posto um de frente ao outro.
Além dos Kalapalo, foram convidados
os Kuikuro, Matipu e Nafukuá que, como
é tradicional entre os povos xinguanos,
ficaram acampados ao lado da aldeia. Em meio
a um corredor humano, cada guerreiro atira
dardos no oponente, com o objetivo de atingi-lo
da cintura para baixo. Os jogadores se protegem
esquivando-se atrás de um feixe de
varas, que não podem mover do chão.
Os dardos têm suas pontas embotadas
com cera, para não perfurar a pela.
Mas, naturalmente, a força do impacto
continua a causar dor.
Entre os convidados também
estavam dirigentes da Funai - entre eles o
presidente Mércio Pereira Gomes, o
diretor de Assistência, Slowacki de
Assis, e o coordenador-geral de Meio Ambiente
e Patrimônio Indígena, Izanoel
Sodré--, representantes do Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS), além do embaixador da Austrália,
Peter Heyward, acompanhado de sua mulher,
Susan.
Depois de terminada a cerimônia,
os anfitriões ofereceram peixes e beijus
para todos os convidados. A situação
foi propícia para uma reunião
entre as autoridades e as lideranças
presentes para a discussão de projetos
e assistência. Mazinho Kalapalo, uma
jovem liderança, indagou sobre o processo
fundiário da Terra Indígena
Pequizal do Naruvôtu, que corre na Diretoria
de Assuntos Fundiários, e que é
um dos projetos de ampliação
geográfica do Parque do Xingu, enquanto
as lideranças mais velhas obtiveram
informações com as autoridades
sobre o processo de construção
da barragem de Paranatinga, no rio Culuene,
atualmente parado por ordem judicial.