25/08/2006 - O Aquífero Guarani,
a mais importante reserva de água doce
subterrânea da América do Sul,
com uma área aproximada de 1,2 milhão
de Km2, equivalente à soma dos territórios
da Inglaterra, França e Espanha, está
tendo uma redução de até
30 metros no nível da água em
algumas cidades paulistas. A informação
foi divulgada durante a Jornada Estadual Aquífero
Guarani, realizada entre os dias 16 e 18 de
agosto, em Botucatu. Diante deste quadro,
representantes dos 16 comitês de bacias
hidrográficas do Estado, sob influência
deste imenso manancial, decidiram discutir
projetos e definir políticas públicas
para a melhor gestão e proteção
do aquífero.
O encontro reuniu estudiosos da Unicamp e
da Unesp, da CETESB, dos comitês de
bacias e da Secretaria de Meio Ambiente. Segundo
o professor Ricardo Hirata, da Universidade
de São Paulo, é importante o
aprofundamento dos conhecimentos a respeito
deste manancial que, em alguns pontos, especialmente
no território brasileiro, é
intensamente utilizado no abastecimento público
e em atividades como a indústria, a
agricultura e o turismo.
No Brasil, o aquífero se estende pelos
estados de Goiás, Minas Gerais, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul. Na América do Sul, abrange
parte dos territórios do Uruguai, Argentina
e Paraguai. No Estado de São Paulo,
o Guarani é explorado por mais de 1.000
poços, ocupando uma área de
recarga de aproximadamente 17.000 Km2.
Justamente é esta área, extremamente
vulnerável, que deve ser objeto de
programas de planejamento e gestão
ambiental permanentes para se evitar a contaminação
da água subterrânea e sobreexplotação
(retirada maior do que a capacidade de reposição)
do aquífero, com o conseqüente
rebaixamento do lençol freático
e o impacto dos corpos d´água
superficiais.
Propostas
Vários palestrantes destacaram alguns
pontos críticos que envolvem o uso
da água do aquífero, como a
perfuração de poços próximos
uns dos outros e a questão da poluição
por lixões ou esgoto não coletado
e tratado nas zonas de recarga. Ao final de
três dias de debates, algumas propostas
foram retiradas do encontro.
Os representantes do Comitê de Bacia
dos Rios Sorocaba e Médio Tietê,
que tem a participação ativa
da técnica da Agência Ambiental
da CETESB de Sorocaba, Jussara de Lima Carvalho,
apresentou como principal medida a elaboração
do Plano de Desenvolvimento e Proteção
Ambiental da área de exposição
e recarga do Sistema Aquífero Guarani,
com base no mapeamento detalhado da geologia
e hidrologia da região de influência
do manancial, o desenvolvimento de um modelo
de circulação, balanço
hídrico e recarga e o mapeamento de
vulnerabilidade à contaminação
em maior escala.
Propuseram, ainda, a atualização
do cadastro de erosão, bem como o levantamento
de todos os poços que utilizam a água
do Guarani, a ampliação da rede
de monitoramento de qualidade e o levantamento
de usos e agroquímicos e destinação
final de seus recipientes, já que a
sub-bacia do Médio Tietê - trecho
inferior (que compreende os municípios
de Botucatu, Anhembi, Conchas, Bofete, Pereiras,
Porangaba e Torre de Pedra) tem consumo de
água estimado na agricultura muito
elevado, cerca de 2,02 metros cúbicos
por segundo.
Como ações práticas,
defenderam o desenvolvimento de programas
de educação ambiental com enfoque
nas águas subterrâneas, o estabelecimento
de iniciativas integradas e articuladas entre
os comitês e municípios que possuem
áreas de exposição e
recarga do aquífero, e elaboração
de Planos Diretores Municipais articulados
com Planos de Bacias, para garantir ações
que aumentem a recarga e protejam a área,
como planos de manejo e conservação
do solo, recomposição e conservação
florestal e proteção de mananciais.
O professor Antônio Tubelis, da UNESP
de Botucatu, apresentou como proposta a implantação
da Área de Proteção Ambiental
(APA) da Cuesta de Botucatu, com o desenvolvimento
de um programa de recuperação
da área de recarga do aquífero.
Representantes de entidades não-governamentais,
como a ONG SOS Cuesta de Botucatu, Associação
Nascentes e Associação Brasileira
de Agricultura Biodinâmica, entre outras,
apresentaram como proposta a elaboração
de diretrizes técnicas para subsídio
aos Planos Diretores Municipais (que se encontra
em processo de discussão em vários
municípios), bem como ao processo de
regulamentação da Área
de Proteção Ambiental Perímetro
Botucatu.
Participação da CETESB
Como órgão gestor da qualidade
do recursos hídricos do Estado, desde
2000 a CETESB participa das discussões
sobre as bases técnicas e os aspectos
institucionais do Projeto Sistema Aquífero
Guarani. Em parceria com outros órgãos
da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, inicialmente
forneceu os resultados obtidos no Projeto
anteriormente executado em cooperação
entre a SMA e o Governo da Baviera, com o
destaque para o estabelecimento de áreas
de proteção dos poços,
delimitação de áreas
de recarga do aquífero, bem como o
arcabouço hidrogeológico no
município de Ribeirão Preto.
Dentro do trabalho de monitoramento das águas
subterrâneas do Estado, executado desde
11000, a CETESB mantém o acompanhamento
da qualidade das águas em 48 poços
no Guarani. “Reconhecendo que o nosso Estado
possui uma grande extensão de área
de recarga do aquífero, temos a necessidade
de desenvolver atividades de proteger o manancial”,
palavras do presidente da CETESB, Otávio
Okano, transmitidas durante o encontro em
Botucatu, pela coordenadora do Fórum
Paulista de Comitês de Bacias, Maria
Emília Botelho.
O Fórum deve sugerir aos comitês
do estado, em face da reserva estratégica
que a água subterrânea constitui,
maior atenção e empenho na gestão
das águas subterrâneas, em primeira
escala ao Guarani, dado aos estudos em andamento,
da abrangência e problemas já
detectados que indicam a super explotação,
vulnerabilidade; e, em segunda escala, com
a mesma preocupação, aos demais
aqüíferos do estado, em uso.
Projeto Ribeirão Preto
O uso indiscriminado e crescente de águas
do Aquífero Guarani, nos últimos
30 anos, resultou preocupante rebaixamento
do nível do mesmo, na área central
de Ribeirão Preto. Aliado a este fato
e agravando a situação, empresas
perfuradoras de poços profundos, vislumbrando
maiores lucros e valendo-se de vulnerabilidades
nos procedimentos de emissões de outorgas,
iniciaram um verdadeiro assédio aos
condomínios horizontais e verticais
de Ribeirão Preto, propondo aberturas
de poços profundos de modo a torná-los
independentes do sistema público de
abastecimento efetuado pelo DAERP - Departamento
de Água e Esgotos de Ribeirão
Preto.
“Os fatos chegaram ao conhecimento do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Pardo, que
encaminhou à Câmara Técnica
de Saneamento e Águas Subterrâneas.
Imediatamente, esta Câmara articulou-se
para elaborar, com a formação
de um Grupo Técnico Multidisciplinar,
documento estabelecendo Critérios para
a Área de Restrição e
Controle Temporários (dois anos, prorrogáveis
por no máximo dois anos), para a captação
e uso das águas subterrâneas
em Ribeirão Preto”, informou Marco
Antonio Artuzo, gerente da CETESB de Ribeirão
Preto e integrante do CBH-Pardo e da Câmara
Técnica de Saneamento, que apresentou
em Botucatu o projeto “Critérios para
Autorização de Perfuração
de Poços para Captação
de Água, no Município de Ribeirão
Preto”.
Além de criar uma ferramenta de trabalho
que propicia Gestão Conjunta entre
a Prefeitura Municipal, o DAEE - Departamento
Estadual de Águas e Energia Elétrica
- e o CBH-Pardo, para fins de emissões
das outorgas pelo DAEE, este documento estabelece
medidas de precaução visando
a preservação quantitativa e
qualitativa do aqüífero, através
do estabelecimento de três Zonas na
Área de Restrição, com
critérios definidos de exploração
de novos poços.
No evento em Botucatu, foi prestada uma homenagem
ao professor Fernando Almeida, um ícone
da área de geologia no país
e um dos pioneiros nos estudos sobre a o aquífero
Botucatu, que anos depois passou a ser reconhecido
como Guarani. O próximo encontro da
Jornada Estadual do Aquífero Guarani
deverá acontecer na cidade de Bauru.
Foto: José Jorge