20
de Agosto de 2006 - Brasília - O Brasil
está optando por trocar as 11 mil espécies
de plantas do cerrado por uma só –
a soja –, afirma o biólogo e professor
titular do Departamento de Zoologia da Universidade
de Brasília (UnB) Jader Soares Marinho
Filho. Cultivada na agricultura mecanizada
de larga escala nas terras desse bioma (grande
comunidade ecológica, caracterizada
por um tipo de vegetação em
uma determinada região – outros exemplos
são a mata atlântica e a floresta
amazônica), a soja deve ganhar novo
impulso com o programa de produção
de biodiesel, uma frente de desenvolvimento
tratada como prioridade pelo governo federal.
“Estamos substituindo uma
riqueza imensa que é única e
que só o Brasil tem por uma lavoura
alienígena [que vem de fora]”, comenta
o biólogo. “Não me parece um
bom negócio. Na minha avaliação,
a gente não pode nem sequer imaginar
que, no cenário atual em que falamos
em mudanças climáticas, devamos
apostar todas as fichas no desenvolvimento
do país calcado no agronegócio,
no biodiesel, ou em commodities”, destacou,
em entrevista à Agência Brasil.
Marinho Filho reconhece
a importância do papel do agronegócio
para o país. Mas defende que é
necessário encontrar uma maneira de
conciliar a produção de larga
escala com a conservação da
natureza.
"O Brasil precisa
muito da soja, assim como do arroz, do milho
e do trigo. Mas para mantermos o agronegócio
vivo em nosso país, a melhor estratégia
seria conservar a natureza, conservar o cerrado".
Desta forma, destacou, garante-se a atividade
econômica atual e a possibilidade de
outras atividades ainda mais rentáveis
e importantes que dependem do avanço
do conhecimento científico. “Em vez
de vendermos só commodities, precisamos
vender serviços, que também
trazem riquezas”, destacou, em entrevista
à Radiobrás, ao explicar que
se explorar o potencial do cerrado, investindo
em pesquisas sobre a sua biodiversidade, o
país poderá obter muito mais
vantagens financeiras do que o agronegócio
traz hoje.
Da forma como vem sendo
produzida, a soja tem sido "o pior inimigo"
do cerrado, destacou o professor da UnB. Outras
atividades com forte impacto ecológico
no bioma são a pecuária extensiva
e a produção de carvão.
Segundo ele, mantidos os cenários atuais,
talvez em duas ou três décadas
não se consiga plantar mais nada no
Brasil central, região onde se concentra
o cerrado brasileiro.
“Não podemos mais
só derrubar, devastar para plantar
soja, arroz, milho ou algodão”, comenta.
“Precisamos de um grande esforço de
conservação. Com apenas 20%
de cerrado existente, não temos outra
opção senão cuidá-lo,
protegê-lo.”
Além de conhecer
melhor o bioma, Jader Soares Marinho Filho
diz que é preciso ampliar a malha de
unidades de conservação do cerrado.
Ana Paula Marra