01/11/2006
- De acordo com a ONG Urihi - Saúde
Yanomami, a Fundação Nacional
de Saúde admite em relatório
técnico o avanço dos casos de
malária entre os Yanomami. Somente
no primeiro semestre de 2006 foram notificados
2.591 casos, representando um aumento de 470%
em relação ao mesmo período
no ano anterior.
Como divulgado pelo ISA
na reportagem especial sobre saúde
indígena, publicada em junho deste
ano, o avanço da malária na
Terra Indígena Yanomami, situada em
Roraima e Amazonas, caminha para uma situação
catastrófica. Segundo um comunicado
divulgado neste primeiro de novembro pela
organização Urihi - Saúde
Yanomami - ONG responsável pelo atendimento
sanitário na região até
a metade de 2004 -, as taxas de incidência
da doença podem superar, até
o final de 2006, os elevados níveis
observados na década de 11000.
Aquele período foi
marcado pelos efeitos da invasão de
cerca de 40 mil garimpeiros, que levaram a
desestruturação social e sanitária
para o interior da área indígena,
causando a destruição do meio
ambiente e a morte de aproximadamente um quarto
da população Yanomami do Brasil.
A novidade agora, de acordo com o comunicado
da Urihi, é que o avanço da
malária está sendo admitido
pela Fundanção Nacional de Saúde
(Funasa), responsável pela gestão
do sistema de saúde indígena
no Brasil. Leia abaixo o comunicado no íntegra.
RELATÓRIO DA FUNASA
CONFIRMA GRAVE EPIDEMIA DE MALÁRIA
E CRISE NA ASSISTÊNCIA DO DISTRITO SANITÁRIO
YANOMAMI
Finalmente a FUNASA através
do “Relatório Técnico da Malária-
Distrito Sanitário Yanomami - 2006”
reconhece que está em curso no Distrito
Sanitário Yanomami (DSY) uma grave
epidemia de malária que pode superar,
até o final do ano, os níveis
epidêmicos registrados na década
de 90 que foram motivo de escândalo
internacional e de vergonha para o Brasil.
Somente no primeiro semestre
de 2006 foram notificados 2.591 casos, representando
um aumento de 470 % em relação
ao mesmo período no ano anterior. Além
dos fatores que sempre contribuíram
para a penetração da doença
no DSY (garimpo e frentes de colonização),
e que não se alteraram significativamente
nos últimos dois anos, a FUNASA identificou
problemas no gerenciamento do DSY e os conseqüentes
efeitos na qualidade e intensidade das ações
de controle da doença:
“Outros fatores importantes
que contribuíram significativamente
para o incremento, disseminação
da doença e falta de sustentabilidade
das ações de controle executadas
foram a instabilidade dos convênios
com as ONG’s parceiras (FUBRA e SECOYA principalmente),
falta de repasses dos recursos e paralisação
dos trabalhos de campo pelos funcionários.”
Nenhuma novidade. Desde
o início de 2005, lideranças
yanomami reiteradamente denunciaram a degradação
da assistência e o aumento da malária.
Reclamavam que as aldeias deixaram de receber
visitas na freqüência desejável
e algumas comunidades de mais difícil
acesso foram simplesmente abandonadas. Com
dados obviamente incorretos pela sub-notificação,
a FUNASA negava a palavra dos yanomami e permanecia
inerte à situação.
A omissão da FUNASA
pode ser confirmada pela análise do
número de exames de sangue realizados
no DSY para o diagnóstico da malária.
De 2000 até a metade de 2004 a URIHI
se responsabilizou pela assistência
de cerca de 50 % da população
yanomami. Encontrando a malária em
níveis epidêmicos, a URIHI coletou,
em seu primeiro ano de trabalho, 73.650 exames.
Os casos diagnosticados eram prontamente tratados.
Assim, o número de
casos nas áreas atendidas pela organização
foi diminuindo a cada mês e, ao final
de 2003, foi alcançada uma redução
de 99% na incidência da doença.
De principal causa de morte entre os yanomami
na década de 90, a partir de 2002 a
mortalidade pela malária caiu a zero.
Já em 2005, início da atual
epidemia, foram realizados em todo o DSY apenas
72.963 exames, o que representa uma queda
de 50 % na principal atividade de controle
da malária. Óbitos pela doença
voltaram a ocorrer. Para aumentar a estranheza
e a indignação, a decadência
da assistência da população
yanomami ocorre enquanto são triplicados
os gastos com a sua saúde.
Diante de tudo disso, o
Conselho Distrital de Saúde do DSY
vem exigindo repetidamente que a FUNASA tome
providências concretas para enfrentar
essa desastrosa crise na saúde dos
yanomami. Dentre as medidas recomendadas estão
a revisão do modelo de gestão
do DSY, a investigação do inexplicável
aumento dos gastos bem como a substituição
dos convênios claramente ineficientes
por uma parceria com o Conselho Indígena
de Roraima, organização com
reconhecida experiência no atendimento
à saúde indígena.
Urihi-Saúde Yanomami
1 de novembro de 2006.