Macapá
(28/11/06) - Está em curso uma das
maiores ações já realizadas
em unidades de conservação federais
no Amapá: a segunda expedição
à área norte da Reserva Biológica
(REBIO) do Lago Piratuba, iniciada em 07 de
novembro, que coletará dados da diversidade
biológica existente em uma das regiões
de mais difícil acesso do estado. As
informações irão subsidiar
o Plano de Manejo da unidade de conservação,
em fase de elaboração, que determinará
as atividades permitidas no interior e entorno
da área protegida, orientando sobre
o uso e manejo dos recursos naturais.
Composta por 90 pessoas
e coordenada por analistas ambientais da Superintendência
do Ibama no Amapá, a equipe reúne
40 pesquisadores, entre profissionais dos
Institutos de Pesquisas Científicas
do Estado do Amapá (IEPA) e de Pesquisas
da Amazônia (INPA), do Museu Paraense
Emílio Goeldi, e das Universidades
Federais do Amapá (UNIFAP), do Pará
(UFPA) e do Maranhão (UFMA). Participam
ainda técnicos da Secretária
de Estado do Meio Ambiente (SEMA) e do Instituto
de Desenvolvimento Rural do Amapá (RURAP),
além de oficiais do 34º Batalhão
de Infantaria de Selva (BIS) que atuam na
função de socorristas em situações
de resgate. Cerca de 30 comunitários
que atuam como pilotos, guias, práticos
e responsáveis pela alimentação
completam a equipe, que atuará na região
até o dia 30 deste mês.
Entre as áreas pesquisadas,
estão mamíferos, insetos, aves
e morcegos, incluindo levantamentos de espécies
de samambaias e avencas. Como a unidade abriga
diversos lagos em seu interior, estão
sendo desenvolvidos estudos sobre a qualidade
da água e as espécies que se
desenvolvem em ambientes aquáticos
ou vivem parte de seu ciclo biológico
em substratos, como caranguejos, camarões
e lavras de insetos, bem como pesquisas sobre
algas, lavras de peixes e peixes. Na área
de répteis, foi incluída a realização
de um censo sobre os jacarés. Também
serão analisados aspectos da geologia
e da geomorfologia da região.
A complexidade de uma operação
desse porte exigiu um planejamento minucioso,
especialmente em relação à
logística. “O acesso à água
potável é muito difícil
nessa época do ano na vila de Sucuriju.
Trouxemos água para consumo pessoal
e fazemos abastecimento periódico na
cidade de Amapá”, relata a analista
ambiental Patrícia Pinha, chefe da
Rebio do Lago Piratuba e coordenadora da expedição.
Toda a água consumida durante a expedição
foi transportada nas embarcações
que servem de base para a equipe. O transporte
é realizado em pequenas embarcações
a motor, conhecidas por voadeiras, até
os locais de estudo acessíveis por
via fluvial: os lagos próximos ao Sucuriju,
áreas da costa norte e leste da unidade
e a região do igarapé Macarri,
que integram o cinturão lacustre oriental.
Apesar das dificuldades, os resultados são
animadores. “O mais importante nessa expedição
é que iremos acessar a área
central onde, até o momento, não
foi realizado nenhum levantamento científico”,
afirma Patrícia Pinha. Com apoio do
Núcleo de Operações Aéreas
(NOA) da Diretoria de Proteção
Ambiental (DIPRO), a equipe pretende alcançar
áreas acessíveis somente por
via aérea: a área central e
o extremo noroeste da reserva.
A iniciativa encerrará o ciclo de expedições
científicas promovidas pelo Ibama e
parceiros na REBIO Piratuba. As duas primeiras
ocorreram em 2005, no cinturão lacustre
meridional na região sul da unidade,
abrangendo o baixo curso do rio Araguari;
a terceira ocorreu em junho deste ano, na
região norte. Com os resultados dos
diagnósticos, a equipe pretende finalizar
a elaboração do Plano de Manejo,
a ser apresentado até o final de 2007.
Sucuriju - A vila de Sucuriju
é uma pequena comunidade de, aproximadamente,
600 moradores, localizada na foz do rio de
mesmo nome, ao norte da foz do rio Araguari,
região que compõe o Cabo Norte,
na costa do município de Amapá
(AP). O acesso à localidade ocorre
apenas através do mar, em viagens que
duram em média 12 horas, equivalente
a duas marés. A maior dificuldade é
o acesso à água potável
pois, em função da proximidade
com o Oceano Atlântico, as águas
do rio Sucuriju são salobras e o abastecimento
é feito apenas através da coleta
e armazenamento das águas das chuvas
em cisternas. No verão, ocorre o racionamento,
sendo distribuídos semanalmente apenas
30 litros de água por pessoa. A expedição
movimenta a economia local, baseada quase
que exclusivamente na atividade pesqueira,
com a participação dos comunitários
na equipe de apoio e o aluguel do barco “Cabo
Norte” pertencente à Associação
de Moradores da Vila de Sucuriju.
REBIO Piratuba - Segunda
unidade de conservação mais
antiga do Amapá, a Reserva Biológica
do Lago Piratuba foi criada em 16 de julho
de 1980 e ocupa uma área de 357.000
ha, abrangendo dois municípios amapaenses:
Tartarugalzinho e Amapá, incluindo
na sua faixa litorânea o lado norte
da foz do rio Araguari e o entorno do Cabo
Norte. O seu limite sul fica na margem esquerda
do mesmo rio Araguari. Possui diversos corpos
aquáticos interiores, como os lagos
Comprido e Piratuba, que formam a chamada
“região dos lagos”. A vegetação
tem formação pioneira, campos
inundáveis, manchas de floresta tropical
úmida densa de planície aluvial,
manguezais e manchas de cerrado. Instituída
com o objetivo de preservação
integral da biota e dos atributos naturais
existentes em seus limites, a unidade sofre
pressões pela prática de atividades
pecuárias como a criação
de búfalos na área de entorno
e a ocorrência de incêndios florestais.
A unidade está inserida no Programa
Áreas Protegidas da Amazônia
(ARPA).
Patrícia Sullivam