16
de Janeiro de 2007 - Juliane Sacerdote - Da
Agência Brasil - Brasília - Os
índios guarani-kaiowá liberam
hoje (16) a estrada MS-289, que liga Amambaí
a Coronel Sapucaia, no sudoeste de Mato Grosso
do Sul. O fim da ocupação da
estrada, que durava desde sábado, ocorreu
após negociações com
o procurador da República, Charles
Pessoa.
Os indígenas protestavam
contra a decisão judicial que negou
o sepultamento de Kurutê Lopes, de 70
anos, nas terras da fazenda Madama, local
do assassinato. A área é considera
pelos índios como tekoha (terra de
ocupação tradicional dos Kaiowá)
e é chamada de Kurusu Amba. Sem definição,
os Kaiowá acabaram sepultando Kurutê
Lopes, sábado, perto da aldeia, segundo
o administrador regional da Fundação
Nacional do Índio (Funai), Gildo Martins.
O administrador da Funai
afirma que, mesmo assim, as negociações
se seguiram em clima tenso. Mas nega que tenha
sido mantido de refém, como foi noticiado
pela imprensa na noite de ontem. "Fui
para conversar com os índios e convencê-los
a liberar a estrada. Eles exigiram a presença
do procurador [Charles Pessoa] e pediram que
eu esperasse a chegada dele. Não fui
forçado fisicamente a ficar lá,
mas fizemos um acordo que quando o procurador
chegasse, eles deveriam liberar a estrada.
Mas essa liberação não
aconteceu ontem à noite, só
na tarde de hoje”, explicou Martins, em entrevista
à Agência Brasil.
Após o enterro de
Kurutê Lopes perto da aldeia, os índios
mantém reivindicações
à Funai, como a vinda de um grupo de
trabalho de Brasília para analisar
a situação dos indígenas
e identificar as terras. Martins afirmou que
o pedido, para que o grupo de trabalho vá
visitar a região, já está
em preparação e deve ser enviado
à sede da Funai, em Brasília,
até sexta-feira (19).
De acordo com informações
da Polícia Civil da região,
os quatro indígenas presos no dia da
morte da índia, ainda continuam detidos
na cadeia pública da cidade. Eles foram
acusados de roubar uma carreta. Entre os presos,
está o líder dos Kaiowá,
Francisco Fernandes. O administrador regional
da Funai enfatizou que já existe uma
pessoa cuidando da defesa dos índios,
o procurador da Funai, Luís César
Martins.
O Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) divulgou uma nota hoje alertando para
a situação dos índios
do Mato Grosso do Sul, que classifica de “genocídio”.
O texto denuncia a ação de fazendeiros
que contratam jagunços para solucionar
problemas de terras, “e esses ficariam na
impunidade, enquanto índios estariam
presos”. A nota critica ainda a Funai e diz
que a fundação “tem se omitido
sistematicamente a criar grupos de trabalhos
para identificar as terras tradicionais dos
índios”. A assessoria de imprensa da
Funai de Brasília não quis comentar
a nota do Cimi.
Cerca de 35 mil a 40 mil
Guarani-Kaiowá vivem em Mato Grosso
do Sul. Eles habitam cerca de 30 áreas
indígenas, que têm ao todo cerca
de 50 mil hectares. A maior parte dessa população
vive em áreas superlotadas, demarcadas
pelo antigo Serviço de Proteção
ao Índio (SPI) nos anos 20. Ao lado
das cidades de Dourados e Amambai ficam as
áreas indígenas mais populosas
e problemáticas. A área da fazenda
Madama não é reconhecida como
área indígena, segundo informou
assessoria da Funai.
Comissão visita acampamento
dos Guarani Kaiowá em Mato Grosso do
Sul
20 de Janeiro de 2007 -
Agência Brasil - Brasília - O
Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
informa que uma comissão de representantes
de movimentos sociais e sindicatos visita
hoje (20) o acampamento dos Guarani Kaiowá
na beira da rodovia MS-289, em Mato Grosso
do Sul.
Eles foram retirados da
terra tradicional Kurus Ambá, na região
de Amambaí e Coronel Sapucaia, que
haviam retomado em operação
que resultou na morte de uma indígena
de 70 anos, no dia 9.
Além de representantes
da vice-presidência do Cimi, a comissão
tem ainda integrantes da Central Única
dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), Comissão Pastoral
da Terra (CPT) e da Federação
dos Professores do Estado, entre outras entidades.
O objetivo é "avaliar com os indígenas
quais as melhores formas de transformar a
solidariedade em ações concretas".
O grupo de índios
tem cerca de 36 famílias acampadas
e, segundo o Cimi, três dos líderes
participaram de reuniões ontem (18)
em Campo Grande, onde um deles, Ortiz Lopes,
informou que a prisão "dá
maior liderança da retomada",
Francisco Fernandes, e de mais quatro homens
foi uma "armação".
Os quatro indígenas
foram presos sob a acusação
de terem roubado um trator. Ortiz Lopes narrou
o episódio: "O fazendeiro da fazenda
Madama chegou lá, conversou com as
lideranças, cedeu o trator e disse
que a gente podia usar. O líder da
retomada estava indo de trator buscar comida
para a comunidade, e aí a polícia
apareceu. Foi uma armadilha".
Ele acrescentou que em nenhum
momento foi ouvida a versão dos Guarani.
E informou que desde a retirada dos índios
por um grupo armado e encapuzado, que chegou
ao local em 12 caminhonetes e com um ônibus,
está desaparecido um jovem de 14 anos.