24 Jan 2007 - por Bruno
Taitson - José Francisco Conceição
começou a colher castanha do Brasil
(também chamada de castanha do Pará)
na Amazônia há 32 anos, no Estado
do Acre. Mas apenas em 2006 ele conseguiu
comprar uma casa. “É um sonho que se
torna realidade. Isso só foi possível
porque hoje a gente consegue vender as castanhas
por um preço muito melhor do que antigamente”
explica José Francisco, de 53 anos.
A sonhada casa própria
e uma melhor qualidade de vida se tornaram
realidade por intermédio do Projeto
Castanha, iniciado em 2001. A iniciativa,
financiada pelo WWF-Brasil, dá aos
produtores da castanha do Brasil condições
de se organizarem em cooperativas, ter a produção
certificada (certificação orgânica,
comércio justo e FSC) e encontrar novos
mercados compradores.
O principal objetivo do
Projeto Castanha é aumentar a renda
de comunidades que se dedicam à exploração
da castanha do Brasil. Celso Custódio
da Silva, presidente da Associação
de Produtores Extrativistas da Comunidade
de Porongaba, afirma que antes do projeto,
uma lata com 10 quilos do produto era vendida
por R$ 2. Atualmente, o preço pago
aos produtores da região é de
aproximadamente R$ 10 por lata, um aumento
de cerca de 500%.
“Vendíamos nossa
produção por preços muito
baixos. Agora nossas castanhas têm uma
melhor qualidade e ganhamos mais dinheiro.
Recentemente consegui, pela primeira vez na
vida, comprar uma geladeira”, diz.
A significativa elevação
nos preços pagos ao produtor foi resultado
de muito trabalho. O Projeto Castanha foi
criado como uma iniciativa-piloto liderada
pelo WWF-Brasil e executada por associações
locais, sob a coordenação da
organização acreana Instituto
Ecoamazon. Muitas reuniões foram realizadas
para treinar os produtores em relação
às melhores práticas de colheita,
armazenamento, secagem e transporte das castanhas.
Danuza Lemos, diretora do
Ecoamazon, coordenou a maior parte do processo
no campo. “Temos obtido sucesso em mostrar
ao produtor a importância de se obter
a certificação para aumentar
o preço de venda”, relata Danuza.
Superando velhos hábitos
Ela afirma que muitos hábitos
dos produtores da região tiveram que
ser mudados. Era comum deixar para recolher
as castanhas no solo muito tempo depois que
elas caíam da árvore. Atualmente,
explica Danuza, os produtores sabem da importância
de não deixar o produto exposto ao
calor e à umidade.
“Nossos treinamentos também
reforçam a importância de armazenar
as castanhas longe de produtos cultivados
com uso de pesticidas. Se esses procedimentos
não forem seguidos à risca,
torna-se impossível obter a certificação
orgânica”, descreve.
Na primeira fase, entre
2001 e 2004, o projeto beneficiava 30 famílias
nos municípios acreanos de Epitaciolândia
e Brasiléia, associadas a uma cooperativa
(Capeb). A Capeb obteve as certificações
orgânica e comércio justo (fair
trade).
Em 2006 a iniciativa foi
ampliada pelo Sebrae e, com co-financiamento
pelo WWF-Brasil, alcançou 260 famílias
em nove municípios, além da
adesão de outras duas cooperativas
(Caex e Cooperacre).
A segunda fase do Projeto
Castanha acontece entre 2006 e 2008. A meta
é fazer com que as três cooperativas
obtenham as certificações orgânica,
comércio justo e FSC. No final de 2006
a Cooperacre assinou um contrato de concessão
por 10 anos com o governo do Acre para utilizar
as instalações de uma usina
de beneficiamento de castanha em Brasiléia.
A unidade já está em operação
e toda a produção vem sendo
comercializada.
Preço justo e boas
perspectivas
Uma das principais inovações
trazidas pelo Projeto Castanha é a
forma com que a produção é
comercializada. Segundo João de Almeida
Melo, vice-presidente da Associação
de Produtores Extrativistas da Comunidade
de Porongaba, as castanhas eram vendidas para
um atravessador que sempre pagava preços
muito baixos.
“Vender para ele era a única
opção que tínhamos. Precisávamos
do dinheiro e não tínhamos condições
de procurar outros mercados”, explica. Depois
que a qualidade do produto melhorou de forma
significativa e que os produtores passaram
a fazer parte de cooperativas, a situação
mudou. “Atualmente nós decidimos para
quem vender a produção”, resume
João.
Buscando novos mercados
e aumentar a renda, a Associação
dos Trabalhadores Extrativistas da Comunidade
do Vai-se-Ver passou a fazer parte do Projeto
Castanha em novembro de 2006. Jorgenilson
Costa, presidente da associação,
está otimista.
Ele acredita que, além
de ajudar a comunidade a produzir castanhas
de melhor qualidade e incrementar a renda,
o projeto também contribuirá
para que os produtores se organizem. “Não
estamos pensando apenas em obter certificação
e exportar. Estamos desenvolvendo a habilidade
de nos organizar para exigir dos governos
melhorias nas áreas de saúde,
transporte e educação”, avalia.
As melhorias mencionadas
por Jorgenilson são na verdade itens
básicos de infra-estrutura rural e
urbana. Na comunidade do Vai-se-Ver, distante
75 quilômetros da capital Rio Branco,
há apenas escola de primeira a quarta
séries. Um médico visita a área
somente uma vez por mês e a única
forma de chegar à localidade na estação
das chuvas é pelo riacho Vai-se-Ver,
já que os acessos rodoviários
não são asfaltados. Desafios
que o Projeto Castanha, indiretamente, poderá
ajudar a comunidade a vencer.