01/02/2007
- A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva,
receberá o maior prêmio das Nações
Unidas na área ambiental, o Champions
of the Earth (Campeões da Terra) de
2007, como reconhecimento ao seu trabalho
em favor da preservação da floresta
amazônica e da valorização
das comunidades locais e tradicionais da região.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira
(01) pelo Programa das Nações
Unidas pelo Meio Ambiente (PNUMA). Marina
Silva é uma das sete personalidades
que serão premiadas. O Campeões
da Terra será entregue numa cerimônia
prevista para o dia 19 de abril, em Cingapura.
O sub-secretário
da Organização das Nações
Unidas (ONU) e diretor-executivo do PNUMA,
Achim Steiner, em carta enviada à ministra,
elogia a sua dedicação na defesa
das questões ambientais. "Vossa
Excelência reconheceu que a construção
de uma aliança de apoio para proteger
o meio ambiente exige adesão a um conjunto
básico de valores. Sua crença
de que o sucesso da luta para salvar a vida
sobre a Terra exige que princípios
estejam à frente de nossos esforços
fez com que fosse merecedora do prêmio
Champions of the Earth 2007", escreve
ele.
O prêmio existe desde 2004. Seu objetivo
é contemplar pessoas que tenham uma
contribuição significativa e
reconhecida, global e regionalmente, na proteção
e gestão sustentável do meio
ambiente e dos recursos naturais. Os premiados
são selecionados por um painel de alto
nível, a partir de indicações
que o Pnuma recebe. O prêmio não
reverte em dinheiro. Ele é simbolizado
por uma escultura de metal reciclado, assinada
pelo queniano Kioko, que simboliza os quatro
elementos fundamentais à vida: sol,
ar, terra e água. Na carta, Steiner
classificou como "extraordinária"
a contribuição de Marina Silva
no Ministério do Meio Ambiente para
a proteção da Amazônia
e mencionou a queda estimada de mais de 50%
na taxa do desmatamento da região nos
últimos dois anos. "É um
resultado dos novos processos governamentais
implementados", ressalta o diretor-executivo
do PNUMA.
Entre 2003 e 2006, a ministra inaugurou um
novo modelo de gestão ambiental no
governo federal, cujo princípio básico
é o envolvimento efetivo de diferentes
setores de governo e da sociedade na busca
de soluções para problemas de
meio ambiente. Defendeu a cooperação
entre os vários ministérios
e governos estaduais, obtendo importantes
resultados que refletem a capacidade do Estado
e da sociedade em implementar uma política
ambiental capaz de dar respostas aos desafios
de conservação da atualidade.
Com isso, conseguiu consolidar várias
propostas da sociedade civil em novos instrumentos
de política ambiental, como o Plano
de Ação para a Prevenção
e Controle do Desmatamento na Amazônia
e a Política Nacional para o Desenvolvimento
Sustentável das Comunidades Tradicionais,
que abrange todos os biomas brasileiros.
No Senado, Marina Silva apresentou inúmeros
projetos de lei e trabalhou pela aprovação
de outros tantos - grande parte deles voltados
para a preservação das florestas,
proteção dos direitos das comunidades
tradicionais e inclusão social. Como
senadora, apresentou o primeiro Projeto de
Lei para regular o acesso aos recursos genéticos.
Esse empenho foi igualmente reconhecido pelo
PNUMA e destacado por Steiner na carta.
A dedicação
de Marina Silva na implementação
da CDB, cujos objetivos são a promoção
da conservação, do uso sustentável
e da repartição de benefícios
gerados a partir da biodiversidade, também
teve forte influência na decisão
do painel do PNUMA. Desde março de
2006, o Brasil, representado pela ministra,
ocupa a presidência da CDB - mandato
que encerra em 2008.
Ao lado de Marina Silva,
receberão o Campeões da Terra
de 2007: o ex-vice presidente dos Estados
Unidos, Al Gore, pela sua atuação
na proteção ambiental e na educação
sobre os perigos decorrentes do aumento de
gases de efeito estufa na atmosfera; o Príncipe
Hassan Bin Talal, da Jordânia, por sua
crença na colaboração
transfronteiriça para proteger o meio
ambiente e tratar dos temas ambientais de
maneira holística; Jacques Rogge e
o Comitê Olímpico Internacional,
pelos avanços no esporte e na agenda
ambiental, por meio da provisão de
mais recursos para o desenvolvimento sustentável
e pela introdução de requisitos
ambientais mais rigorosos às cidades
candidatas a sediar os Jogos Olímpicos;
Cherif Rahmani, pelo avanço na agenda
de direito ambiental e pela abordagem do tema
desertificação na Argélia;
Elisea "Bebet" Gillera Gozun, pelo
avanço na agenda ambiental nas Filipinas;
e,Viveka Bohn, da Suécia, pelo desempenho
de destaque em negociações multilaterais
e liderança em esforços globais
para a segurança química. Já
foram premiados em edições anteriores,
o ex-presidente da União Soviética,
Mikhail Gorbachev; o povo da África
do Sul e sua presidenta, Thabo Mbeki; e a
ex-vice presidente do Irã, Massoumeh
Ebtekar.
Perfil
Do seringal, de onde saiu aos 16 anos, até
o Ministério do Meio Ambiente, cargo
que ocupa atualmente, Marina Silva percorreu
um longo caminho. Viveu na floresta amazônica,
onde nasceu em 1958, num seringal no interior
do Acre, até os 16 anos, quando foi
morar na capital do estado, Rio Branco. Alfabetizou-se
aos 17 anos. Foi empregada doméstica
e costureira. Aos 26, conquistou o diploma
de Bacharel em História pela Universidade
Federal do Acre.
Antes mesmo de formada, iniciou a militância.
Em 1984, participou da fundação
da Central Única dos Trabalhadores
(CUT) do Acre e foi a primeira vice-coordenadora
da entidade, ao lado de Chico Mendes. Um ano
depois, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores.
Participou das Comunidades Eclesiais de Base,
de movimentos de bairro e do movimento dos
seringueiros. Apenas três anos depois,
elegeu-se a vereadora mais votada da Câmara
Municipal de Rio Branco. Outros dois anos
bastaram para tornar-se a deputada estadual
mais votada do Acre.
Marina Silva foi a mais jovem parlamentar
a ocupar uma vaga no Senado Federal na República.
Com 36 anos, foi eleita a primeira vez, em
1994. Foi reeleita em 2002. Como senadora,
foi vice-presidente da Comissão Especial
do Congresso de Combate à Pobreza,
criada a partir de uma proposta sua, vice-presidente
da Comissão de Assuntos Sociais e membro
titular da Comissão de Educação.
Em 1999, foi líder da bancada do PT
e do Bloco de Oposição. Durante
sua legislatura, apresentou diversos projetos,
como o que disciplina o acesso aos recursos
da biodiversidade brasileira e ao conhecimento
das populações tradicionais.
Propôs ainda a criação
da reserva de 2% do Fundo de Participação
dos Estados e do Distrito Federal para os
estados que tenham, em seus territórios,
unidades de conservação federais
e terras indígenas demarcadas. Defendeu,
também por meio de um projeto, uma
nova estrutura para o orçamento para
garantir que verbas destinadas a gastos sociais
sejam efetivamente aplicadas nesses setores.
Considerada uma dos 100 parlamentares mais
influentes do Congresso Nacional, teve sua
biografia publicada no Brasil e no exterior.
Em 2003, afastou-se do Senado para assumir
o cargo de ministra de estado do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva. Deixava
a defesa do meio ambiente no Poder Legislativo
para defender as questões ambientais
no Poder Executivo. Sua atuação,
entre 2003 e 2006, inaugurou um novo modelo
de gestão ambiental, que conta com
a participação de diferentes
setores do governo federal e da sociedade.
Foi a partir desse modelo que surgiu o Plano
de Ação para Prevenção
e Controle do Desmatamento, em 2004. Resultado
do trabalho de 13 ministérios coordenados
pela Casa Civil, o plano foi definidor na
redução estimada de mais de
50% na taxa de desmatamento da Amazônia
entre 2004-2005 e 2005-2006.
Recebeu diversos prêmios no Brasil e
no exterior. Entre eles, estão:
• Prêmio Goldmann de Meio Ambiente,
como representante das Américas do
Sul e Central - São Francisco/EUA (1996);
• Homenagem a "25 Mulheres em Ação
no Mundo pela Vida na Terra", do Programa
das Nações Unidas para o Meio
Ambiente - ONU, Nova York/EUA, (1997);
• Premio al Desarrollo Sostenible 2003 - Fundacion
Ecologia y Desarrollo, Barcelona/Espanha (2003);
• Prêmio "Imprensa Estrangeira
2003" - Associação dos
Correspondentes de Imprensa Estrangeira no
Brasil, Rio de Janeiro/RJ (2003);
• Prêmio Mulheres Mais Influentes Forbes
Brasil, Revista Forbes Brasil (2006).
Além disso, seu nome constou na lista
de Jovens de Futuro no Mundo, em 1995, elaborada
pela revista Time (Nova Iorque/ EUA). Também
foi escolhida Mulher do Ano, em 1997, pela
revista Miss Magazine (Washington/EUA).
Marina Silva é casada com Fábio
Vaz de Lima e tem quatro filhos: Shalom, Danilo,
Moara e Mayara.