20
de Fevereiro de 2007 - Alana Gandra - Repórter
da Agência Brasil - Rio de Janeiro -
O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), uma
unidade de pesquisa do Ministério da
Ciência e Tecnologia, concluiu a primeira
fase do projeto de lixiviação
bacteriana, colocando em funcionamento a primeira
Unidade Semi-Piloto de Biolixiviação
computadorizada. O objetivo é reduzir
a emissão de gases poluentes durante
a extração do concentrado de
cobre, o que diminui, em conseqüência,
as emanações que contribuem
para o efeito estufa na atmosfera.
Com isso, ganha também
o cidadão, principalmente o que reside
em áreas próximas das minas,
que pode respirar um ar mais limpo.
Segundo o coordenador do
projeto, Luís Sobral, a unidade visa
à utilização de microorganismos,
ou seja, organismos vivos que estão
presentes no próprio minério,
“e fazer com que estes, de forma bioestimulada,
acelerem o processo oxidativo dos sulfetos
de cobre, que são estruturas minerais
contendo cobre”. A bactéria abre essas
estruturas para liberar o cobre de forma solúvel,
de onde ele é recuperado na forma de
metal, explicou Sobral, em entrevista à
Agência Brasil.
Ele informou que isso é
feito convencionalmente por um processo pirometalúrgico,
em que a queima de sulfetos de cobre ocorre
a temperaturas superiores a mil graus centígrados.
No processo pirometalúrgico, as peças
mineralógicas de cobre são transformadas
diretamente em cobre metálico, também
conhecido como cobre blister. Esse material
é impuro, porque o processo não
é seletivo somente para cobre, destacou
Sobral. Por isso, é necessário
que o material passe por um processo denominado
eletrorrefino, que consome muita energia,
a exemplo do pirometalúrgico, de transformação
dos sulfetos em cobre metálico.
A meta do Cetem é
substituir de forma gradual o processo pirometalúrgico
pelo bio-hidrometalúrgico, de lixiviação
bacteriana. “O processo de biolixiviação
é menos poluente, evita as emanações
do processo piro, causadas por metais como
arsênio, cádmio, chumbo, mercúrio,
telúrio, selênio e bismuto, elementos
voláteis nessa temperatura”, destacou
Sobral. Ele explicou que o processo piro necessita
de um sistema sofisticado de retenção
dos metais para que não cheguem à
atmosfera, para que não poluam. Além
de afetar o meio ambiente, tal processo implica
elevado consumo de energia.
Na biolixiviação,
usam-se organismos vivos presentes no próprio
minério. “É só uma questão
de bio-estimulá-los, de fazer com que
eles funcionem de maneira mais efetiva, com
o uso de incentivos como fontes de carbono,
nutrientes, nitrogênio, fósforo
e potássio. O que se faz é só
estimular o crescimento dessas bactérias
e seu funcionamento. Aí, consegue-se
extrair o cobre de maneira menos poluente.
Esses metais não vão para o
meio ambiente e, com isso, tem-se cobre extraído
dos bens minerais, a um custo bem inferior
ao do processo piro”, afirmou Sobral.
Em termos de investimento
geral, ele estimou que o processo biológico
desenvolvido pelo Cetem é cerca de
60% mais barato do que o processo convencional.
“Ele chega a reduções de gastos
de mais de 60%”, destacou Sobral. Ele enfatizou,
entretanto, que o grande ganho da nova tecnologia
é o aspecto ambiental. “É o
grande diferenciador. Deve ser levada em consideração
em primeira instância a eliminação
do impacto que o processo piro acarreta ao
meio ambiente”.
O pesquisador lembrou o
valor que o mercado externo dá à
comercialização de produtos
que apresentem o que se chama de “pegadas
do processo”. Segundo Sobral, nesse caso,
toda a malha produtiva é rastreada
e avalia-se o impacto no meio ambiente.
A empresa cuidadosa com
sua malha produtiva, e que se preocupa em
afetar cada vez menos o meio ambiente, acaba
recebendo incentivos na forma de sobrepreço,
disse Sobral. “Isso é bom porque, além
do preço naturalmente praticado, tem-se
um bônus por não impactar o meio
ambiente. Do ponto de vista econômico,
a nova tecnologia é satisfatória,
mas é muito mais ainda quando agrega
as características de não contaminação”,
afirmou.