Érica
Santana - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - A elevação
do nível do mar ocasionada pelo aquecimento
global pode provocar, até o fim deste
século, um desastre na cidade de Santos,
no litoral de São Paulo. A cidade poderá
ser atingida por ondas gigantes, mostra um
dos estudos brasileiros sobre as mudanças
climáticas e seus efeitos sobre a biodiversidade
divulgados hoje pelo Ministério do
Meio Ambiente.
O estudo desenvolvido em
parceria entre a Fundação Centro
Tecnológico de Hidráulica (FCTH)
e a Universidade de São Paulo (USP)
simulou aumento do nível do mar em
1,5 metro na baía e no estuário
de Santos e São Vicente, em São
Paulo, e revela que, se essa elevação
ocorresse de fato, os impactos seriam desastrosos
em toda a região.
Segundo uma das autoras
do estudo, Emilia Arasaki, caso essas previsões
se confirmem, ocorrerá o mesmo que
aconteceu em abril de 2005, na Baía
de Santos, quando a cidade foi tomada por
ondas gigantes. “Foi o evento meteorológico
que coincidiu com a elevação
da maré acima de 1 metro com ventos,
que gerou ondas de 4 metros na baía
de Santos", diz ela. "Houve essa
invasão com inundação
na área dos prédios e a destruição
de toda faixa da ponta da praia. Por isso,
a gente pode ter uma idéia de como
pode ser o cenário se houver essa elevação.”
A intensificação
do processo de erosão e redução
das faixas de areais das praias, a inundação
de mangues e o desaparecimento de moluscos,
crustáceos e minhocas marinhas que
habitam o litoral seriam as principais conseqüências
da invasão do mar, segundo a pesquisadora.
Essa situação é apontada
por ela como possível de acontecer
em 2100.
Para chegar a essa conclusão,
os pesquisadores construíram uma maquete
de 1000 metros quadrados que reproduziu as
mesmas condições físicas
da região, como a simulação
de marés altas e baixas. “Através
desse modelo foi possível ver a velocidade
das ondas. Ela ( a maquete) tem a capacidade
de simular ondas e marés e medir a
variação do nível da
água”, disse pesquisadora.
De acordo com a pesquisadora,
no ensaio sobre a erosão das praias,
o resultado apontou que as de menor largura
serão as mais atingidas. Entre elas
estão a praia das Pitangueiras, no
Guarujá, a dos Milionários,
na região de São Vicente e a
da Ponta da Praia, em Santos.
Já a redução
das faixas de areia, que poderá ocorrer
caso o nível do mar suba 1,5 metro,
afetará a distribuição
da fauna que existe nesses locais. “Se não
for possível o deslocamento das espécies
que habitam essa zona, elas vão desaparecer”,
alerta Arasaki.
A pesquisadora recomenda
dar continuidade aos estudos que estão
sendo produzidos, levando em conta características
locais como a influência dos ventos
na região. Além disse, ela sugere
a implantação de políticas
públicas para monitorar a elevação
do nível do mar. “É importante
considerar a velocidade dessa elevação,
a circulação da água,
a própria ação dos ventos
como a gente já destacou e acompanhar
esses processo erosivos."
+ Mais
Rio de Janeiro cria
grupo para lutar contra efeitos do aquecimento
global
Luiza Bandeira - Agência
Brasil - Rio de Janeiro - Uma pesquisa divulgada
hoje (27) pelo Ministério do Meio Ambiente
mostrou que o Rio de Janeiro será um
das cidades mais afetadas pelo aquecimento
global em todo o Brasil. O estudo, feito pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), prevê que, nos próximos
cem anos, o nível do mar vai aumentar
aproximadamente 40 centímetros, provocando
inundações em cidades que ficam
à beira-mar.
Para tentar diminuir os
problemas do efeito estufa no Rio de Janeiro,
a prefeitura do Rio criou hoje (27) a Comissão
Superior de Gestão e Monitoramento
dos Compromissos Relativos ao Aquecimento
Global. Ela vai fiscalizar a realização
das ações previstas no Protocolo
de Intenções do Rio, lançado
no último dia 14 pelo prefeito Cesar
Maia.
No protocolo, estão
previstas medidas para diminuir o lançamento
de gases de efeito estufa na atmosfera, como
o planejamento do sistema de transportes,
visando à redução na
quantidade de ônibus, e o tratamento
dos depósitos de lixo.
Além disso, a prefeitura
do Rio se comprometeu a levar projetos de
educação ambiental a todas as
escolas do município e se dispôs
a plantar 1,2 milhão de mudas de árvores
por ano.
Os Jogos Pan-americanos,
que acontecem em julho próximo, serão
usados para conscientizar tanto a população
quanto os milhares de turistas que estarão
na cidade, para a necessidade de preservação
do meio-ambiente.
“Vamos tornar o Pan um evento
carbono-neutro. O que ele emitir a mais de
gases de efeito estufa, por conta da passagens
de aviões e de outros meios de transporte,
será compensado com o plantio de árvores”,
disse Sérgio Besserman., presidente
do Instituto Municipal Pereira Passos, que
é dedicado a estudos de urbanismo.
Quanto aos efeitos do aquecimento
global sobre a cidade, Sérgio Besserman
explicou que fenômenos como ressacas,
variação de marés e tempestades
vão se tornar mais freqüentes
e intensos.
Segundo Besserman, o aumento
no nível do mar vai afetar toda a infra-estrutura
da cidade. Algumas das principais vias de
transporte e os aeroportos do município,
assim como as redes de esgoto sanitário
e pluvial, serão danificados. A atividade
econômica, principalmente o turismo,
também será prejudicada, não
só pela diminuição da
faixa de areia nas praias, mas também
pelo aumento do calor e das chuvas.
“Ainda teremos conseqüências
no plano da saúde, porque somos uma
cidade verde, com muitas áreas florestais,
e esse ambiente, com a temperatura mais alta,
se tornará hospitaleiros para mosquitos
vetores de doenças que há muito
tempo não existem no município”,
ressaltou Besserman.
Subcomissão
aprova convites para ministros debaterem aquecimento
global
Iolando Lourenço
- Repórter da Agência Brasil
- Brasília - A subcomissão do
Aquecimento Global aprovou hoje requerimentos
para que os ministros das Relações
Exteriores, Celso Amorim, e do Meio Ambiente,
Marina Silva, compareçam à subcomissão
para prestar esclarecimentos sobre a questão
do aquecimento global. Segundo o autor dos
requerimentos e presidente da subcomissão,
senador Renato Casagrande (PSB-ES), a presença
dos ministros é muito importante para
o trabalho do colegiado.
Casagrande informou que
os dois ministros deverão comparecer
ao colegiado já na próxima semana.
“A vinda deles depende das agendas de cada
um”, disse. Ainda hoje, a subcomissão,
que integra a Comissão de Meio Ambiente
do Senado, aprovou o roteiro dos trabalhos
para este semestre. Casagrande informou que
no dia 5 de junho a subcomissão vai
realizar um seminário para tratar da
matriz energética brasileira.
Além do seminário,
a subcomissão vai promover audiências
públicas em várias regiões
brasileiras para discutir o problema do aquecimento
global. A primeira, segundo o seu presidente,
deve ser realizada em São Paulo. Outros
encontros serão realizados em Belém
e em Manaus para tratar da biodiversidade
e da proteção da floresta amazônica.
Especialistas discutem
efeitos do aquecimento global na agricultura
Agência Brasil - Brasília
- Especialistas discutirão os impactos
do aquecimento global na agricultura, oferta
de água e saúde pública
por meio de palestras e mesas redondas. Eles
participam hoje (28), a partir das 9 horas,
na sede do Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet), em Brasília, do seminário
"Mudanças Climáticas Globais
e seus Efeitos na Agricultura, Recursos Hídricos
e Saúde Pública", que terá
na abertura a presença do ministro
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
Luís Carlos Guedes Pinto.
O encontro é realizado
em parceria com o Instituto de Pesquisas Espaciais
(Inpe), a Sociedade Brasileira de Meteorologia
(SBMet), a Agência Nacional das Águas
(ANA) e a Universidade de São Paulo
(USP).
O professor Pedro Leite
da Silva Dias, da Universidade de São
Paulo (USP), e o técnico do Inpe José
Antônio Marengo Orsini apresentarão
os principais pontos do relatório do
Painel Intergovernamental para Alterações
Climáticas (IPCC), divulgado neste
mês, sobre as conseqüências
do aquecimento global.
O relatório do IPCC,
que agrupa a Organização Mundial
de Meteorologia e o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), constata,
entre outras previsões, que até
o fim deste século, a temperatura da
Terra pode subir de 1,8ºC até
4ºC. O nível dos oceanos vai aumentar
de 18 a 59 centímetros até 2100,
podendo levar 200 milhões de pessoas
a abandonar suas casas.
As chuvas, diz o documento, devem aumentar
cerca de 20% e o aquecimento do planeta será
mais sentido nos continentes do que no oceano.
O hemisfério norte será mais
afetado que o sul e, no Brasil, o aquecimento
mais intenso ocorrerá no final deste
século, no Centro-Oeste e no Norte.
Durante o seminário, serão discutidos,
entre outros temas, o futuro do regime climático,
negociações internacionais e
ações para orientação
de política pública.
Estudo sugere uso
de proteínas para monitorar mudanças
climáticas
Érica Santana - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva,
o secretário de Biodiversidade e Florestas
do Ministério do Meio Ambiente, João
Paulo Capobianco (à esquerda dela na
foto), e pesquisadores divulgam os resultados
preliminares de oito estudos sobre mudanças
climáticas e os efeitos sobre a biodiversidade
brasileira
Brasília - Proteínas encontradas
nos seres vivos podem indicar alterações
climáticas e antecipar acontecimentos
ligados à elevação da
temperatura. Essa é uma das conclusões
apresentadas em um dos oito projetos preliminares
de pesquisa sobre as mudanças climáticas
e seus efeitos sobre a biodiversidade brasileira,
divulgados hoje (27) pelo Ministério
do Meio Ambiente.
De acordo com a pesquisa
da Fundação Universidade do
Rio Grande, a temperatura, quando ultrapassa
os limites suportados por um organismo, provoca
a produção de proteínas
ligadas à sobrevivência dos seres
vivos, chamadas de "proteínas
de choque térmico".
O coordenador do estudo,
Adalto Bianchini, diz que essa reação
pode indicar se determinada espécie
resiste ou não a uma temperatura acima
da média máxima da região
costeira sul – onde foi feito o estudo –,
que é de 27 graus. “Nós não
falaríamos em alterações
depois de elas acontecerem. Nós daríamos
subsídios para tentar prever o que
aconteceria com a elevação da
temperatura”, explica Bianchini.
Os pesquisadores analisaram
a reação de cinco espécies
encontradas na zona costeira do sul do país
– uma de marisco, uma de caranguejo, a corvina
(peixe), o lagarto-de-dunas e o camundongo.
O marisco foi o único que não
resistiu ao ser submetido a temperaturas entre
30 e 33 graus, para simular um cenário
de aquecimento mais moderado e um mais severo.
Bianchini diz que isso não
significa que apenas os demais seres são
resistentes às mudanças climáticas.
Ao contrário, para ele, isso afeta
diretamente o ser humano, já que demonstra
que os níveis inferiores da cadeia
alimentar são os mais sensíveis.
“Então, não
devemos nos preocupar porque os mamíferos
não terão grandes problemas?",
indaga o coordenador. "Devemos, porque
a nossa base da cadeia estaria sofrendo. Na
verdade, a preocupação é
com os níveis inferiores da cadeia,
que depois vão repercutir nos demais.”
Ele destaca que, se as mudanças
não forem contidas, algumas espécies
poderão não se adaptar. “Não
vamos dar tempo para os animais e vegetais
responderem na mesma velocidade com que as
mudanças climáticas estão
ocorrendo”. Essa pesquisa e as outras sete
divulgadas hoje são preliminares, ou
seja, não têm caráter
conclusivo.
Agricultura e pesca
em ilha gaúcha estão ameaçadas
por mudanças climáticas
Irene Lôbo - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- Um dos estudos apresentados hoje (27) pelo
Ministério do Meio Ambiente sobre mudanças
climáticas faz um alerta sobre os possíveis
impactos da elevação do nível
do mar na Ilha dos Mangueiros, localizada
no estuário da Laguna dos Patos, no
Rio Grande do Sul.
Elaborada pelo pesquisador
Carlos Tagliani, da Fundação
Universidade Federal do Rio Grande (Furg),
a pesquisa mostra que uma elevação
de 50 centímetros no nível do
mar provocaria a inundação de
30% das áreas com matas nativas e 86%
das chamadas áreas de marismas, ou
seja, áreas invadidas por água
do mar.
Se a elevação
for de um metro, esses percentuais mudam para
67% e 99%, respectivamente, o que inundaria
todas as áreas agricultáveis
da ilha.
Um outro estudo, também
da Furg, feita pelos pesquisadores César
Costa, Ulrich Seeliger e Carlos Bemvenutti,
aponta para um aumento da temperatura média
de várias bacias do Rio Grande do Sul
na ordem de 0,5 a 2 graus até a metade
deste século.
Neste cenário, a
vazão média da Laguna dos Patos,
a principal do estado, iria sofrer um aumento
que poderia prejudicar pescarias artesanais,
condições de navegação
e as atividades do Porto de Rio Grande.
Um terceiro levantamento,
de autoria dos pesquisadores João Paes
Vieira e Alexandre Garcia, ambos também
da Furg, pesquisou em um universo de 63 peixes
da Laguna dos Patos quais seriam possíveis
indicadores biológicos sensíveis
aos impactos trazidos pelas mudanças
climáticas. Quatro espécies
de peixes foram detectadas e poderão
servir de parâmetro de reflexão
sobre o aumento da concentração
de dióxido de carbono na atmosfera.
Ainda na costa brasileira,
um estudo da pesquisadora Cátia Barbosa,
da Universidade Federal Fluminense, fez um
diagnóstico da saúde ambiental
dos recifes costeiros da Costa dos Corais
(PE) e de Porto Seguro (BA), dos recifes oceânicos
de Fernando de Noronha (PE) e do arquipélago
de Abrolhos (BA) frente às mudanças
climáticas.
Outra pesquisa, do cientista
Emilio Rezende, da Embrapa Pantanal, avaliou
a resposta de peixes, ninhos de jacaré,
da ave tuiuiú e de outras espécies
frente a variações climáticas.
Os resultados mostram que
o Pantanal poderá ser muito afetado
pelas mudanças climáticas, com
descaracterização de seu ecossistema,
diminuição de algumas espécies
e até mesmo extinção
de alguns peixes.
Plano de combate
a mudanças climáticas pode ser
necessário, prevê ministra
Irene Lôbo - Repórter
da Agência Brasil - BrasÝlia
- A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva,
e o secretßrio de Biodiversidade e Florestas
do MinistÚrio do Meio Ambiente, JoÒo
Paulo Capobianco, divulga os resultados preliminares
de oito estudos sobre mudanþas climßticas
e os efeitos sobre a biodiversidade brasileira
Brasília - O Ministério do Meio
Ambiente divulgou hoje (27) um conjunto de
estudos sobre o impacto das mudanças
climáticas nos ecossistemas brasileiros.
O levantamento revela perspectivas
preocupantes de aumento no nível do
mar e da temperatura média do país.
Depois de apresentar os dados, a ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu que
o governo planeje suas políticas considerando
os diferentes cenários, utilizando
as informações e a tecnologia
atualmente disponíveis.
Ela sugeriu a união
de diferentes setores do governo para atuar
no problema do aquecimento global, a exemplo
do que teria ocorrido em relação
ao desmatamento da Amazônia.
"Advogo que se faça
algo semelhante ao que fizemos em relação
ao desmatamento da Amazônia. Nós
fizemos um plano de prevenção
e combate ao desmatamento da Amazônia
e talvez tenhamos que fazer o mesmo em relação
à questão das mudanças
climáticas”, afirmou a ministra.
Ao todo, foram divulgadas
hoje oito pesquisas sobre mudanças
climáticas e seus efeitos sobre a biodiversidade
brasileira. Realizado pelo cientista José
Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), um dos estudos mostra que
Amazônia e Pantanal são as regiões
mais vulneráveis do país à
mudança de clima. O Semi-Árido
é a região onde a população
estará mais sensível às
mudanças climáticas.
Em relação
ao nível do mar, o estudo observou
uma tendência de aumento do nível
do mar da ordem de 40 centímetros por
século ou quatro milímetros
por ano. As conseqüências desse
possível aumento poderão atingir
as cidades litorâneas e 25% da população
brasileira, ou seja, 42 milhões de
pessoas que vivem na zona costeira, sendo
que a cidade do Rio de Janeiro é uma
das mais vulneráveis, juntamente com
a Ilha do Marajó.
Em relação
à temperatura, a pesquisa diz que o
aumento da temperatura média no ar
pode chegar até 4 graus acima da média
em 2100, sendo que na Amazônia a temperatura
pode subir até 8 graus. O estudo fala
ainda da probabilidade de maior redução
de chuvas na Amazônia e no Nordeste.