Em
sua primeira visita ao Brasil após
empossado no cargo, o diretor-executivo
do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma),
Achim Steiner, foi o principal palestrante
no painel Os desafios do desenvolvimento
sustentável e as respostas do
sistema multilateral ocorrido hoje pela
manhã no auditório do
Ibama/Sede, em Brasília. Estiveram
presentes à mesa representantes
dos setores governamental, legislativo,
não-governamental e popular:
a ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva, o presidente do Ibama, Marcus
Barros, o deputado federal Fernando
Gabeira, entre outras autoridades.
Nascido no Brasil
em 1961, Steiner foi chefe da União
Internacional para a Conservação
da Natureza (IUCN), a maior organização
mundial de proteção à
natureza. Considerado um dos maiores
pensadores de meio ambiente da atualidade,
para ele, “o homem mudou a batida do
coração do planeta”. “Fomos
além do momento onde nossas ações
têm impacto”, explica. Mesmo com
60% de todos os ecossistemas mundiais
degradados ou usados de formas insustentáveis,
o diretor-executivo acredita que a sociedade
está diante de uma grande oportunidade
de mudança positiva. “É
necessário uma reforma do sistema
multilateral, um novo entendimento que
emerge por causa da mudança climática
e da possibilidade de uma globalização
inteligente”, afirma.
Por outro lado, o
secretário-executivo do Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas,
Luiz Pinguelli Rosa, aponta alguns dos
problemas para se combater as mudanças
climáticas. Segundo ele, os países
desenvolvidos, à exceção
da Inglaterra e Alemanha, estão
longe das metas do protocolo de Kyoto;
os países em desenvolvimento
seguem os padrões de consumo
dos desenvolvidos; e dentro de cada
país se reproduz as desigualdades
entre os países, com os mais
ricos sendo os mais responsáveis
pelas emissões de gases prejudiciais.
Mesmo assim, Pinguelli observa que o
Brasil traz imensas vantagens ao utilizar
em sua matriz energética energias
renováveis. “O uso de carvão
e óleo diesel pode ser evitado”,
acredita.
Para Paulo Moutinho,
representante do Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (IPAM),
o grande desafio é a operacionalização
de um novo modo de consciência
nas respostas multilaterais. “É
necessário mudar paradigmas.
Uma ação multilateral
precisa de um mínimo de consenso
entre países”, lembra. Essa mudança
passa por uma nova forma de ver que
a biodiversidade pode ser um ativo.
“O governo que opta por valorizar a
floresta deve ser compensado pelos serviços
ambientais prestados ao planeta, pois
é tão caro para o país
em desenvolvimento fazer uso da sustentabilidade
quanto para o já desenvolvido
mudar sua matriz energética”,
afirma. Opinião semelhante tem
o secretário de Biodiversidade
e Florestas do Ministério do
Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.
Segundo ele, não há nada
que diga que o Brasil não possa
receber créditos de carbono por
diminuir o desmatamento, por exemplo.
Além disso, para ele, o país
deve aproveitar suas vantagens comparativas
em biocombustíveis “viáveis
e os que melhor funcionam economicamente”.
Mas o Congresso Nacional
não fica de fora desse debate.
Como o tema extrapola os círculos
acadêmicos e científicos
e se transforma em preocupação
social, o deputado federal Fernando
Gabeira informa que há dois projetos
de lei sobre política de mudança
climática em tramitação.
“Além disso, cinco comissões
díspares colocaram o tema aquecimento
global em sua pauta”, informa. Para
ele, “o álcool não pode
ser apenas uma commoditie, mas devem
ser levados em consideração
os custos sociais e ambientais”. “O
brasileiro protege o meio ambiente não
apenas por uma questão de sobrevivência,
mas, principalmente, porque gosta da
natureza, e isso deve se expressar em
nossa política”, enfoca.
Com um pouco menos
de otimismo, Roberto Kishinami, consultor
ambiental independente, pensa que, mesmo
que sejam tomadas todas as medidas possíveis
num curto espaço de tempo para
se minimizar os efeitos das emissões
de gases responsáveis pelo efeito
estufa, o melhor a fazer é nos
adaptarmos às mudanças.
“Isso não significa acomodação.
Devemos olhar para a frente e ver nossas
oportunidades”, enfatiza. Mesmo assim,
Kishinami tem grande preocupação
com a questão dos biocombustíveis.
“Falta cuidado com as cláusulas
ambientais no caso Brasil/Eua: são
muito frouxas”, informa.
De acordo com o presidente
o Ibama, Marcus Barros, o Brasil deve
fazer uma reflexão sobre que
tipo de desenvolvimento quer. “Não
devemos crescer a qualquer custo”, enfatiza.
Para ele, o governo brasileiro pode
se posicionar por meio de um Programa
de Aceleração do Crescimento
(PAC) que leve em consideração
a variável ambiental.
Para a ministra do
Meio Ambiente, “estamos criando uma
nova narrativa para o que fazemos”.
Segundo Marina, a sociedade caminhou
da posse de terras para a de dinheiro,
depois para a tecnológica e,
agora, apenas marcas. “Devemos produzir
uma marca que respeite o sócio-ambiental
e o ético, com uma narrativa
baseada na realidade, não na
mídia”, sugere. Para ela, a marca
apenas construída no midiático
não sobrevive “pois o novo olhar
é de sobrevivência e vida
na terra”.
Para finalizar, Steiner
afirma que, por causa das mudanças
climáticas, todos sofreremos
as conseqüências, sem vencedores.
Segundo ele, a natureza não é
apenas uma externalidade, mas uma variável
fundamental no desenvolvimento econômico.
“Este painel mostra que o futuro deve
ser desenvolvido com os países
vivendo em comunidade”, sonha. “Foi
bom ver como o Brasil está agindo,
pois é um dos países que
pode mudar a inflexibilidade mundial”,
observa.
Luis Lopes