Recife
(09/03/07) - Desde a expedição
Igarakuê, realizada entre 1991
e 1993 (que mapeou as ocorrências
de peixes-bois marinhos no litoral do
norte e nordeste do país), o
animal era tido como extinto na Bahia,
em Sergipe e em Pernambuco, muito embora
tenham sido encontrados vestígios
da ocorrência de peixes-bois nessas
áreas.
Na semana passada,
uma ação do Projeto Peixe-Boi
conseguiu identificar um indivíduo
da espécie em águas pernambucanas.
Trata-se de um macho, de 2,9 metros,
que estava na praia de Casa Caiada,
em Olinda, Grande Recife.
A equipe do Projeto
Peixe-Boi Marinho, com o apoio do GBMAR,
realizou a primeira marcação
com sistema de radiotelemetria de animal
nativo na costa brasileira. A veterinária
Fernanda Niemeyer e a bióloga
Ana Emília Alencar, com mais
alguns estagiários do Projeto,
conseguiram colocar um rádio
para monitorar, via VHF, os hábitos
desse peixe-boi. O trabalho foi uma
ação conjunta com o Grupamento
de Bombeiros Marítimo (GBMAR).
Além de poder
observar, pela primeira vez no Brasil,
os hábitos de um peixe-boi que
nunca passou pelo cativeiro, também
vai ser possível acompanhar os
deslocamentos desse animal. "A
área era considerada sem ocorrência
de peixe-boi, agora poderemos monitorá-lo
a fim de verificar se existem outros
nativos junto com ele", explica
Fernanda Niemeyer.
"O que sabemos
até agora é que ele estava
acompanhado de Lua, o primeiro peixe-boi
reintroduzida pelo Projeto, em 1994,
e que os dois animais foram vistos copulando
nos primeiros dias de monitoramento,
completa a bióloga Ana Emília
Alencar”. A veterinária explicou
que coletou o sangue do animal para
análises. Assim, caso Lua tenha
ficado prenhe vai ser possível
saber se ele é o pai.
Esta semana foi verificada
a presença de outros peixes-bois
no mar da Ilha de Itamaracá.
De acordo com Luisa Lopes, analista
ambiental responsável pelo Centro
de Triagem de Animais Silvestres (Cetas)
do CMA\Ibama, pescadores informaram
que um peixe-boi freqüentemente
é avistado na região.
"No dia seis deste mês eles
informaram que o animal ficou preso
em um curral de pesca. Uma equipe nossa
foi libertá-lo e constatou que
não é o mesmo que foi
marcado com o rádio em Olinda",
explica.
O Projeto Peixe-Boi
foi criado em 1980 e é executado
pelo Centro Mamíferos Aquáticos,
do Ibama. Em 11000 foi criada a ONG
Fundação Mamíferos
Aquáticos, que passou a ser parceira
do governo federal na execução
do Projeto, que conta desde 1997, com
o patrocínio oficial da Petrobras.
Ao todo, a equipe do Projeto já
resgatou 54 peixes-bois vivos, salvos
de cativeiros inadequados ou vítimas
de encalhes. Depois de passarem por
um sério processo de reabilitação,
quinze desses animais foram devolvidos
ao habitat natural. Dez peixes-bois
estão nos oceanários na
sede do projeto, na Ilha de Itamaracá
(PE), onde podem ser visitados pelo
público, e 17 filhotes se recuperam
em regime fechado.
O peixe-boi marinho
(Trichechus manatus) é uma espécie
criticamente ameaçada de extinção.
Na natureza, segundo estimativas dos
pesquisadores do Projeto Peixe-Boi,
existem cerca de 500 animais numa faixa
de cinco mil quilômetros entre
o Amapá e Alagoas. Na lista oficial
do Ibama, o animal é o mamífero
aquático mais ameaçado
de extinção do país.
Até os dois anos, os filhotes
de peixes-bois alimentam-se apenas de
leite materno, depois dessa idade passam
a ser herbívoros, sendo considerados
os únicos mamíferos marinhos
que se alimentam essencialmente de vegetais.
Luís Boaventura
+ Mais
Resgatado filhote
fêmea de peixe-boi em Manaus
Manaus (08/03/07)
– Um filhote de peixe-boi da Amazônia
(Trichechus inunguis) órfão
foi resgatado, no dia 23 de fevereiro,
por técnicos do Ibama/AM na Terra
indígena Kwata Laranjal localizada
no município de Nova Olinda do
Norte/AM.
Participaram da operação
de resgate equipe técnica da
Divisão de Controle e Fiscalização
(Dicof) e do Núcleo de Fauna
(Nufas), além de membros da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente de Autazes/AM
(logística fluvial), da Funai
de Nova Olinda do Norte, que solicitaram
o resgate e forneceram guia local.
A equipe do Ibama
fez contato com o guia indígena
Yapunã, que se dirigiu ao povo
da etnia Munduruku localizado na Terra
Indígena Kwata Laranjal. De lá,
Yapunã se encontrou com outro
guia que indicaria à equipe do
Ibama o local onde estava o filhote
de peixe.
O filhote de peixe-boi
foi encontrado amarrado na localidade
de Cite Nova Barreirinha. A equipe o
desamarrou e o retirou da água,
colocadondo-o dentro da canoa motorizada,
sobre o forro feito com folhas de bananeira
(Musa sp). Os técnicos passaram
hidratante sobre a pele exceto na região
ocular, deram ao animal leite desnatado
na mamadeira, e cobriram o corpo parcialmente
com toalha de algodão umedecida,
protegendo os olhos, porém deixando
o nariz exposto.
O filhote de peixe-boi
era uma fêmea, com aproximadamente
um mês de vida, porque ainda estava
com parte do cordão umbilical,
o umbigo não estava fechado,
não tinha trocado nenhuma parte
da pele, e tinha 70 cm de comprimento.
O animal foi entregue ao Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (Inpa).