22-03-2007 - onflito no Pará aguarda
ação do governo
Cresce tensão na gleba Nova Olinda,
onde omissão dos governos acirra atritos
entre comunidades, madeireiros e grileiros.
Até quando?
A área da gleba Nova Olinda, localizada
entre os municípios de Santarém
e Juruti, no oeste do Pará, é
palco de conflitos entre madeireiros, grileiros
e comunidades ribeirinhas desde 2002. Desde
que o governo do estado assumiu a aprovação
de planos de manejo florestal, há um
ano, a situação tem ficado cada
vez mais séria na região, com
o agravamento da extração ilegal
de madeira, grilagem de terras e violência
contra as comunidades. O Greenpeace sobrevoou,
na semana passada, a região do conflito
e se reuniu com as comunidades locais e representantes
dos governos federal e estadual.
“Estivemos na região a pedido das
comunidades e verificamos que realmente existem
planos de manejo florestal aprovados sem vistoria
prévia ou monitoramento adequado",
relata o engenheiro florestal Marcelo Marquesini
da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Segundo Marquesini, procedem as denúncias
de que os madeireiros estão cortando
árvores fora das áreas autorizadas
e grileiros estão ocupando as terras
dos comunitários.
O caso da gleba Nova Olinda é mais
um exemplo de como a ausência de governança
continua provocando desmatamento e conflito
fundiário na Amazônia. A extração
madeireira realizada dentro e fora de áreas
de manejo aprovadas pela gestão passada
da Secretaria Estadual de Tecnologia e Meio
Ambiente (Sectam) é acompanhada por
cooptações, intimidações,
ameaças de morte e expulsão
de moradores tradicionais.
Manuel Matos, secretário do Sindicato
de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de
Santarém (STR), é uma das lideranças
que enfrenta a violência permitida pela
omissão do poder público. “De
2002 para cá, foram 41 ofícios
enviados para diferentes órgãos
estaduais e federais, com relatos, documentos,
abaixo-assinados, denúncias e solicitações
de providências para resolver os conflitos
na gleba. Nada aconteceu. Pelo contrário,
só piorou, porque os madeireiros se
instalaram na área com autorizações
dadas pelos próprios governos”, conta
Matos.
O conflito que se arrasta nos últimos
anos poderia ter sido evitado com a criação
de unidades de conservação ou
projetos de assentamentos agroextrativistas
que visam garantir o direito à terra
aos moradores da região e o uso responsável
dos recursos naturais, combatendo as investidas
de madeireiros e grileiros.
Desde 1997, quando a Reserva Extrativista
Federal Tapajós-Arapiuns, vizinha à
área da gleba Nova Olinda, foi criada,
os comunitários demandam ações
do governo para também ter regularizado
o seu direito à terra.
Entretanto, uma manobra dos madeireiros,
com a conivência do Instituto de Terras
do Pará (Iterpa), teria precipitado
a demarcação de lotes individuais
na gleba, facilitando a entrada de grupos
originários do sul do país a
partir de 2004.
Com a descentralização da gestão
florestal na Amazônia (veja nota sobre
a descentralização), intensificada
pelo governo federal a partir da aprovação
da Lei de Gestão de Florestas Públicas,
em março de 2006, os grupos começaram
a receber autorizações da Sectam
para explorar a madeira, ignorando o pleito
das comunidades.
"Depois que entraram as máquinas,
começaram a descer as balsas carregadas
de madeira. Eles saem no final de semana e
sempre passam sábado de noite em Santarém,
no escuro", relata o secretário
do STR. Manuel Matos conta que os comunitários
decidiram entrar em contato com o Greenpeace
porque estariam cansados de agir por meio
de documentos. "Tivemos pela primeira
vez a oportunidade de sobrevoar a área.
A gente fica muito sentido de ver aquela floresta
como ela está sendo destruída,
e a aquela população que era
muito tranqüila e agora vive com medo",
lamenta.
"Atividades como licenciamento de propriedades
rurais, autorizações de manejo
florestal e desmatamento, monitoramento e
fiscalização foram transferidas
aos órgãos ambientais estaduais,
sem que tais órgãos adequassem
sua estrutura operacional, estabelecessem
boas normas de governança, transparência
administrativa e controle social", explica
Marquesini. "Isso é particularmente
grave no caso dos estados amazônicos,
onde as deficiências administrativas
dos órgãos ambientais são
notórias e flagrantes", complementa.
Em 2003, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) já havia constatado crimes
na área, mas nada de efetivo foi feito
para reverter o quadro de irregularidades
que envolvem a destruição de
floresta primária, a abertura de estradas
sem autorização, o desmatamento
para abertura de pistas de pouso e a extração
ilegal de madeira, inclusive em áreas
de preservação permanente. À
época, foram apreendidas máquinas,
armas e munições, posteriormente
devolvidas pela Justiça estadual. A
fiscalização do Ibama só
retornou na área no final de 2006,
após muita solicitação
das comunidades.
“Por ironia do destino, no mesmo dia em que
documentávamos as irregularidades,
o ex-secretário da Sectam, Raul Porto,
que assinou as autorizações
de manejo florestal na Gleba Nova Olinda,
era preso pela Polícia Federal por
suspeita de corrupção”, lembra
Marquesini.