Ibama inicia fiscalização
do porto da Cargill
20-03-2007 – Manaus - Técnicos do
órgão têm até dia
26 para embargar terminal graneleiro que multinacional
construiu ilegalmente em Santarém (PA)
Técnicos do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) iniciaram na semana passada, em Santarém
(PA), a análise dos documentos de licenciamento
do terminal graneleiro irregular da empresa
Cargill. A ação é resultado
de um pedido do Ministério Público
Federal (MPF) do Pará que, em 26 de
fevereiro, solicitou a "fiscalização
e paralisação imediata das atividades
do porto, além de autuação
da empresa por operação irregular".
Inicialmente previsto para ser concluído
no último dia 12, o procedimento de
fiscalização teve seu prazo
estendido pelo MPF até a próxima
segunda- feira (26), a pedido do próprio
Ibama. Até lá, o órgão
ambiental espera conseguir juntar elementos
para constatar a irregularidade na operação
do porto, que funciona há quatro anos
sem os Estudos de Impacto Ambiental (EIA)
exigidos pela legislação brasileira.
Desde 2000, quando o MPF do estado do Pará
moveu a primeira ação contra
a instalação ilegal do porto,
a empresa se nega a reconhecer o equívoco
e vem protelando a realização
do EIA.
"A Cargill não pode mais adiar
a realização do EIA. A sua decisão
de aderir à moratória, deixando
de comprar soja plantada em novas áreas
desmatadas, é um reconhecimento de
que a atividade da empresa provoca desmatamento",
analisa Tatiana de Carvalho, da campanha de
Florestas do Greenpeace. Para Tatiana, "é
fundamental que o EIA contemple os impactos
da instalação do porto em toda
a região".
Em vez de adequar suas operações
de exportação de soja à
legislação ambiental brasileira,
a empresa, com sede em Minneapolis (EUA),
tem preferido travar uma batalha judicial
para ganhar tempo. Enquanto isso, além
de alimentar a derrubada da floresta, a existência
do porto estimula a expulsão de ribeirinhos
e comunidades que, pressionadas por grileiros
e sojeiros, são obrigadas a abandonar
as terras que ocupam tradicionalmente.
"Florestas foram dizimadas, populações
foram expulsas, seja pela violência
ou pela pressão dos grupos econômicos
que chegavam na região. Houve um aumento
tremendo no tráfico clandestino de
terras públicas, que estão sendo
ocupadas à base da pistolagem e do
cárcere privado de pessoas que ousam
entrar nestas regiões", comentou
o procurador da República Felipe Braga,
em entrevista à Rádioagência
Notícias do Planalto, na última
sexta-feira (16). "Tudo isso pela valorização
que estas terras receberam, pois potencialmente
elas podem ser exploradas para a agricultura
mecanizada da soja", complementou o procurador,
que acompanha o caso pelo MPF.
Em uma última tentativa de adiar o
embargo do porto, a Cargill impetrou um mandado
de segurança que pretendia impedir
o Ministério Público Federal
de agir ou divulgar atos para fechamento do
terminal graneleiro da empresa no rio Tapajós.
A Cargill tentava com a ação
impedir a fiscalização do Ibama
e o consequente embargo do porto.
Na semana passada, o juiz federal de Santarém,
Francisco de Assis Garcês Castro Júnior,
indeferiu os pedidos da empresa.
Porto da Cargill em Santarém
é fechado pelo Ibama
24-03-2007 - Decisão final do Tribunal
Regional Federal (TRF) da 1a Região
encerra polêmica e ordena a imediata
suspensão das atividades do porto até
a realização dos Estudos de
Impacto Ambiental (EIA). Cargill terá
de cumprir determinação judicial
se quiser continuar operando na região
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
com o apoio da Polícia Federal, fechou
hoje, às 9 da manhã, o terminal
graneleiro da multinacional norte-americana
Cargill em Santarém, no oeste do Pará.
A ação é resultado do
pedido do Ministério Público
Federal (MPF) do Pará de “fiscalização
e paralisação imediata das atividades
do porto, além de autuação
da empresa por operação irregular”
e foi confirmada no final do dia de ontem
pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1a
Região.
A pedido do MPF, o desembargador federal
do TRF da 1a Região, Souza Prudente,
ordenou o cumprimento integral da decisão
de 2000 que suspendeu as licenças de
funcionamento do porto da Cargill em Santarém.
O terminal graneleiro desobedece às
leis brasileiras que exigem a realização
de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para
empreendimentos desse porte. De acordo com
o MPF, “a ordem encerra a pretensão
da multinacional de desobedecer a liminar,
impede suas atividades na região e
garante a elaboração de Estudos
de Impacto Ambiental para o funcionamento
do terminal graneleiro”.
Para o procurador da República em
Santarém, Felipe Fritz Braga, “a decisão
é histórica e muda o paradigma
de ausência de governança na
região”.
“A paralisação das atividades
do porto da Cargill coroa a luta de muitos
anos das comunidades locais de Santarém
e daqueles que combatem a expansão
da soja na Amazônia. A soja e outros
produtos do agronegócio são
vetores fundamentais do desmatamento, que
ameaça a biodiversidade e provoca mudanças
climáticas”, disse Tatiana de Carvalho,
da campanha do Greenpeace pela proteção
da Amazônia.
Segundo Tatiana, a Justiça está
dando uma indicação clara de
que os grandes empreendimentos do agronegócio
não podem mais se esquivar de atender
a legislação brasileira. “Confiamos
que a Cargill respeitará a decisão
judicial fazendo (e fará) um amplo
estudo de impacto ambiental (EIA) que resulte
em medidas concretas para minimizar os danos
ambientais provocados por seu porto e pela
expansão da soja em toda a região.
Isso será uma forma de demonstrar o
compromisso da empresa com a moratória
no desmatamento anunciada pelo setor da soja
no ano passado”.
Inicialmente previsto para ser concluído
no último dia 12, o procedimento de
fiscalização teve seu prazo
estendido pelo MPF até hoje a pedido
do próprio Ibama. Desde 2000, o Ministério
Público vem travando uma verdadeira
batalha judicial para que a Cargill realize
os Estudos de Impacto Ambiental.
Em vez de adequar suas operações
de exportação de soja às
leis ambientais, a empresa preferiu explorar
as brechas da legislação brasileira
e ganhar tempo, através de longa batalha
judicial, para construir e operar o seu terminal
em Santarém.
Desde 2003, o Greenpeace apóia a luta
das comunidades locais de Santarém
e defende que a Cargill realize amplo Estudo
de Impacto Ambiental em toda a região
afetada pela soja, para continuar operando.
Em 2006, a organização ambientalista
publicou extensa investigação
dos impactos negativos do avanço da
soja na Amazônia. O relatório
“Comendo a Amazônia” revela como a demanda
mundial por soja produzida na região
tem alimentado o desmatamento da maior floresta
tropical do planeta. Em maio do mesmo ano,
o Greenpeace bloqueou o porto da Cargill com
o navio Arctic Sunrise.
“É importante ressaltar o esforço
contínuo do trabalho do Ministério
Público Federal que, desde o início
do processo defende o uso racional dos recursos
naturais e vem se firmando como uma grande
força de governança na região”,
declarou o coordenador da campanha Amazônia,
do Greenpeace, Paulo Adario.
“Nós, do movimento social de Santarém,
simplesmente sentimos a justiça se
realizar, finalmente, em defesa da Amazônia,
de seu povo e de seu ecossistema”, disse Edilberto
Sena, da Frente da Defesa da Amazônia.
“Esperamos que o EIA-Rima de fato expresse
a verdade sobre os impacto ambientais que
o porto trouxe”.
Lei da mordaça
Em uma última tentativa de adiar o
embargo do porto, a Cargill impetrou no último
dia 07 de março um mandado de segurança
para tentar impedir o Ministério Público
Federal de agir ou divulgar atos para o fechamento
do terminal graneleiro em Santarém.
Com isso, a Cargill tentava impedir a fiscalização
do Ibama e o conseqüente embargo do porto.
O juiz federal em Santarém, Francisco
de Assis Garcês Castro Júnior,
indeferiu os pedidos da empresa uma semana
depois.
Entenda o caso:
2000 - O MPF ajuiza Ação Civil
Pública contra a Cargill e a Secretaria
de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
para que sejam paralisadas as obras do terminal
e elaborado Eia-Rima. No mesmo ano o juiz
federal Dimis da Costa Braga concede liminar
cancelando as autorizações para
o porto. A Cargill ajuíza recursos
e obtém efeito suspensivo, iniciando
as obras mesmo com a questão judicial
irresolvida.
2003 - O terminal graneleiro começa
a operar. Os dois primeiros recursos da Cargill
contra a liminar da justiça são
derrubados no Tribunal Regional Federal da
1ª Região, em Brasília.
A empresa ajuiza outros dois recursos.
2004 - Sai a sentença do processo
principal, condenando a empresa a fazer Eia-Rima.
A Cargill ajuiza apelação cível
e a decisão fica suspensa até
apreciação pelo TRF. Enquanto
isso, os outros recursos contra a liminar
de 2000 são negados pelos desembargadores
federais.
2005 - Os advogados da empresa ajuizam outros
dois recursos, para serem enviados às
instâncias superiores (Superior Tribunal
de Justiça e Supremo Tribunal Federal).
2006 - Os últimos recursos são
negados e nem chegam ao STJ ou ao STF. As
decisões publicadas só poderiam
ser questionadas até fevereiro, o que
a empresa não faz.
2007 - Em janeiro o MPF é notificado
do trânsito em julgado do processo e
requisita ao Ibama uma inspeção
no terminal, para verificação
das licenças ambientais e consequente
embargo de atividades. A Cargill tenta evitar
novamente o Eia-Rima ajuizando mandado de
segurança para impedir a fiscalização.
A justiça extingue o processo.