18/04/2007 - Pataxó
Hã Hã Hãe, povo ao qual
pertencia Galdino, aguarda há 24 anos
decisão do STF sobre suas terras. Manifestação
lembrou os 257 indígenas que foram
assassinados desde 1997. A violência
contra os indígenas e a criminalização
de suas lideranças foram algumas das
questões debatidas nas atividades que
antecederam o ato no acampamento Terra Livre.
Um ato para marcar os 10
anos do assassinato de Galdino Pataxó
Hã Hã Hãe fechou o segundo
dia (17/4) do Acampamento Terra Livre, que
permanece até quinta-feira, 19 de abril,
na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Os cerca de mil indígenas, de 100 povos,
que estão acampados no local, caminharam
até a Praça Galdino, onde o
indígena foi queimado vivo em abril
de 1997 por jovens da classe média
alta de Brasília.
A manifestação
também lembrou os 257 indígenas
que foram assassinados desde aquela data,
segundo levantamento do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi). Muitas pessoas
carregavam cartazes com os nomes de lideranças
que foram mortas na luta pela terra. “Continuam
ameaçando nosso povo. Os assassinos
do cacique João montaram casa dentro
de nossa terra e continuam nos perseguindo.
A Justiça não fez nada,” repetia
indignada Antônia Guajajara, que carregava
o cartaz com o nome de João Araújo,
assassinado em 2005, em meio à luta
pela demarcação da terra Bacurizinho,
no Maranhão.
Galdino também foi
assassinado quando estava em Brasília
lutando pela terra de seu povo, que, há
24 anos, aguarda decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) sobre o processo que
pede a nulidade dos títulos de terra
concedidos pelo governo da bahia à
fazendeiros que invadem a área Hã
Hã Hãe. “Esse processo parado
contribui para aumentar a violência.
Os fazendeiros contratam pistoleiros para
ameaçar a gente e também têm
uma proposta para acabar com a nossa terra”,
reforça Reginaldo Vieira, cacique da
aldeia Caramuru, que estava com Galdino na
época do assassinato.
Ritual indígena lembrou a morte de
Galdino Pataxó. De autoria do artista
goiano Siron Franco, monumento em memória
do indígena estava pichado e abandonado.
Manifestantes pintaram a obra.
Ao chegarem à Praça Galdino,
onde há um monumento em memória
ao indígena, houve um ritual feito
por líderes religiosos de diversos
povos. Em seguida, os manifestantes limparam
e pintaram a obra, que estava suja e abandonada.
“É para mostrar que o movimento indígena
está forte. Por isso vamos cuidar da
memória de nossos mártires que
morreram na luta”, afirmou Jecinaldo Sateré-Mawé,
coordenador-geral da Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amâzônia Brasileira (Coiab).
O acampamento Terra Livre
é a principal mobilização
do Abril Indígena, conjunto de manifestações
e protestos do movimento indígena que
marcam o mês de abril já pelo
terceiro ano consecutivo. Neste ano, o acampamento
reúne cerca de mil indígenas,
de mais de cem povos diferentes. Estão
ocorrendo plenárias, debates, atividades
culturais e manifestações para
propor soluções aos principais
problemas das comunidades indígenas
e denunciar as agressões aos seus direitos
(saiba mais).
Terra – demarcação
e proteção
A violência contra
os indígenas e a criminalização
de suas lideranças foram algumas das
questões debatidas nas atividades que
antecederam o ato. Pela manhã, divididos
em grupos por região ou povos, os indígenas
acampados iniciaram a discussão sobre
os problemas que os afetam. Eles apresentaram
as dificuldades que passam e as suas reivindicações
principais.
Apesar das diferenças
culturais e regionais, a maior parte dos grupos
destacou os problemas que enfrentam na questão
fundiária, tanto os que sofrem com
a demora nos processos de demarcação,
quanto os que têm suas terras ameaçadas
por invasores ou por grandes projetos que
podem afetá-las. “Somos acusados de
ser invasores de Parques, mas os Parques foram
criados depois de nossa terra”, falou uma
liderança Guarani M´byá
sobre o problema dos Guarani do litoral com
a sobreposição de Terras Indígenas
em Unidades de Conservação.
Maurício Gonçalves, liderança
Guarani do Rio Grande do Sul, disse que a
Funai alega que a Constituição
não contempla a dinâmica de perambulação
dos Guarani e a relação que
eles têm com o território, por
isso este povo é um dos que mais sofre
com a falta de terra.
“A fronteira foi inventada
pelas classes dominantes! Ela não existia
antes. Para nós, não existe.
E a terra é nossa. São nossos
antepassados que estão enterrados nela.
Não são os antepassados dos
donos das multinacionais”, declarou Toninho
Guarani, liderança do Espírito
Santo, cuja terra é invadida pela empresa
Aracruz Celulose.
Saúde e educação
diferenciadas
Os indígenas também
apresentaram os problemas que enfrentam na
educação e saúde e as
propostas para estas áreas. Na educação,
o reconhecimento dos professores indígenas
como uma categoria diferenciada e concursos
específicos são reivindicações
de quase todas as regiões. “Não
queremos que não-índio dêem
aula para nosso povo. Isso é desrespeito”,
pontuou Eliza Truká, que apresentou
o resultado do debate entre os povos do Nordeste.
A ausência de aulas
de 5ª a 8ª e do ensino médio
nas aldeias e as barreiras enfrentadas pelos
indígenas que pretendem fazer um curso
superior também foram destacados como
problemas da educação escolar
indígena. Cotas, bolsas de estudos,
cursos específicos foram algumas das
propostas apresentadas.
Em relação
à saúde, além da falta
de equipamentos generalizada, os indígenas
da Amazônia Ocidental (AC, AM, RO e
RR) afirmaram que a Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) não
tem atendido as decisões das comunidades.
Ainda em relação ao controle
social, reforçaram que os indígenas
devem participar mais da discussão
das políticas públicas voltadas
para eles, por exemplo, ficando atentos para
o Fundo Indígena, que reparte verbas
para vários projetos de diversos ministérios.
Controle da CNPI
A instalação
da Comissão Nacional de Política
Indigenista (CNPI) foi lembrada pelos indígenas
como uma vitória, pois é um
espaço para participarem da discussão
das políticas que os afetam. Na análise
de conjuntura que Saulo Feitosa, vice-presidente
do Cimi, fez antes dos debates em grupo, ele
lembrou que a CNPI não será
uma solução imediata, mas será
fortalecida a medida que o movimento indígena
ocupá-la e fiscalizá-la. Na
avaliação de Feitosa, o movimento
indígena precisa se articular cada
vez mais com os camponeses, quilombolas e
ribeirinhos para se fortalecer .
Marcy Picanço, com colaboração
de Oswaldo Braga de Souza.
+ Mais
Lula recebe lideranças
indígenas em Brasília
19/04/2007 - Presidente
vai encontrar-se com lideranças do
acampamento Terra Livre e deve assinar os
decretos de homologação de seis
Terras Indígenas, totalizando quase
1 milhão de hectares. Comissão
Nacional de Política Indigenista (CNPI)
foi instalada no Ministério da Justiça.
Hoje, às 15h, no
Palácio do Planalto, o presidente Lula
receberá lideranças indígenas
do acampamento Terra Livre, que está
ocorrendo na Esplanada dos Ministérios,
em Brasília, desde segunda-feira, dia
16 de abril. A expectativa é que o
que presidente assine os decretos de homologação
de seis Terras Indígenas (TIs), oficializando
a regularização de um total
de quase 940 mil hectares. As TIs que devem
ser homologadas são: Apiterewa (PA),
do povo Parakanã; Entreserras e Pankararu
(PE), do povo Pankararu; Itixi-Mitari (AM),
dos Apurinã; Wassu-Cocal (AL), dos
Wassu; e Palmas (PR e SC), do povo Kaingang.
A Comissão Nacional
de Política Indigenista (CNPI) foi
instalada às 10h, no Ministério
da Justiça, com a posse das 20 lideranças
indicadas por organizações indígenas
e quatro representantes de entidades da sociedade
civil com assento no colegiado. A CNPI vai
integrar a estrutura do ministério
e terá oficialmente a função
de propor diretrizes para a política
indigenista do governo federal, entre outras.
A criação de um colegiado semelhante
é uma antiga reivindicação
do movimento indígena.
Ainda no ministério,
foram assinadas as portarias declaratórias
de sete Terras Indígenas: Cachoeirinha
(MS), da etnia Terena; Guarani de Araça'I
(SC), da etnia Guarani; Riozinho do Alto Envira
(AC), da etnia Ashaninka e isolados; Toldo
Imbu (SC), da etnia Kaingang; Toldo Pinhal
(SC), da etnia Kaingang; Xapecó (SC),
da etnia Kaingang; e Yvyporã Laranjinha
(PR), da etnia Nhandeva Guarani.
A instalação
da CNPI e a assinatura das portarias e decretos
acontecem no Dia do Índio, data que
marca o final do acampamento. Além
do encontro com o presidente Lula, as lideranças
indígenas conversam, no Senado, com
um grupo de senadores e deputados. A intenção
é apresentar o documento final do acampamento
com suas principais reivindicações
e propostas. Também deverá ser
feito o pedido para que todas as matérias
legislativas relativas aos interesses dos
povos indígenas sejam discutidas junto
com o Estatuto dos Povos Indígenas,
que está parado no Congresso há
mais de dez anos.
Ás 16h, acontece
uma audiência com a presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie. Os representantes
indígenas pretendem pedir agilidade
no julgamento de alguns processos que vêm
emperrando a regularização de
Terras Indígenas (TI) por todo o Brasil,
como é o caso do território
dos Hã Hã Hãe (BA), dos
Potiguara (PB) e dos Guarani Kaiowá
(MS). Tramitam no STF hoje 164 processos vinculados
à questão indígena, sendo
que 116 refere-se a ações contrárias
às TIs Raposa-Serra do Sol (RR) e do
Vale do Javari (AM).
Também às
16h, outra delegação deve encontrar-se
com o ministro da Saúde, José
Gomes Temporão, no Ministério.
Os indígenas pretendem pedir o fim
do loteamento político dos cargos na
Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) e providências para o problema
da saúde indígena no Vale do
Javari (AM) e no Mato Grosso do Sul.
O acampamento Terra Livre
é a principal mobilização
do Abril Indígena, conjunto de manifestações
e protestos do movimento indígena que
marcam o mês de abril já pelo
terceiro ano consecutivo. Neste ano, o acampamento
reúne cerca de mil indígenas,
de mais de cem povos diferentes. Estão
ocorrendo plenárias, debates, atividades
culturais e manifestações para
propor soluções aos principais
problemas das comunidades indígenas
e denunciar as agressões aos seus direitos.