18/04/2007 - Protestos contra
falta de medidas para combater epidemias de
malária e hepatite mobilizam lideranças
indígenas na região, em Brasília
e devem chegar ao exterior, por meio de denúncias
na OEA e ONU. A crise na saúde dos
povos indígenas do Vale do Javari,
no Amazonas, dura mais de 15 anos, se agravou
nos últimos cinco, e conta com a omissão
de todos os órgãos responsáveis.
Reunidos no Acampamento Terra Livre na capital
federal, lideranças entregaram reivindicações
ao MPF e à Funai
A revolta com o desastre
sanitário que acomete os povos indígenas
do Vale do Javari, no Amazonas, está
provocando protestos e denúncias em
nível local, nacional e internacional.
O objetivo da mobilização, que
esta semana terá desdobramentos em
Brasília durante o Abril Indígena,
é acabar com o descaso e a omissão
das autoridades brasileiras que ignoram ou
combatem de forma precária as epidemias
de malária e de hepatite B e D que
têm provocado, nos últimos anos,
um crescente número de mortos na população
de cerca de 4 mil índios que vivem
na região. O número de vítimas
fatais destas epidemias combinadas pulou de
30 casos em 2005 para 39 em 2006 - um aumento
de quase 25 % em números absolutos.
A Terra Indígena
Vale do Javari, homologada em 2001, fica no
extremo oeste do Estado do Amazonas e é
habitada pelos povos Kanamari, Kulina, Marubo,
Matsé, Matis, Korubo e Tsohom Djapá.
A região abriga pelo menos outros seis
grupos de índios isolados e constitui
uma das remotas sub-bacias amazônicas,
com altos índices de conservação
ambiental, apesar das cada vez mais constantes
invasões madeireiras provenientes do
Peru. Saiba mais sobre a TI Vale do Javari
e seus povos clicando aqui.
A mobilização
indígena pelo fim do caos sanitário
começou no início de abril,
quando cinqüenta índios Kanamari
ocuparam a sede da Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) em Atalaia
do Norte, o principal município do
Vale do Javari ao lado de Tabatinga e cuja
prefeitura é a responsável pelo
Distrito Sanitário Especial Indígena
(Dsei) da região. A prefeitura de Atalaia
é acusada por várias lideranças
indígenas de discriminar os povos nativos
e fazer uso indevido dos recursos repassados
pela Funasa para o atendimento nas aldeias.
Saiba mais sobre a ocupação
da Funasa em Atalaia.
Outra ação
em curso está sendo movida pela Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab) e pelo
Conselho Indígena do Vale do Javari
(Civaja), que estão organizando uma
viagem no próximo mês de julho
para denunciar formalmente o Estado brasileiro
às Comissões de Direitos Humanos
da Organização dos Estados Americanos
(OEA) e da ONU. Pretendem ir aos EUA e à
Suíça para apresentar um relato
da situação.
As lideranças do
Javari, que estão Brasília participando
das manifestações do Acampamento
Terra Livre, do Abril Indígena, entregaram
ontem (17/4) à sub-procuradora Debora
Duprat da 6ª Câmara do Ministério
Público Federal dois documentos com
reivindicações específicas.
Um deles faz um resumo e aponta soluções
para a saúde, pedindo providências
imediatas para garantir a sobrevivência
dos povos indígenas do Javari (clique
e leia). O outro documento trata da questão
da educação indígena
(clique para ler). Hoje, as lideranças
devem entregar reivindicações
ao presidente da Funai, Márcio Meira(clique
aqui). Os documentos apontam soluções
para a crise no Javari. As reivindicações
foram pactuadas pelas próprias organizações
indígenas, e também pelos agentes
locais do Ibama, Funai, Funasa, entre outras
entidades. Leia também a Carta do Javari.
Todos estes órgãos
têm algum grau de responsabilidade pelo
genocídio silencioso que avança
sobre os índios do Javari há
vários anos, ameaçando a sobrevivência
física de povos já fragilizados
demograficamente.
Nem o MPF escapa
O Ministério Público
Federal que normalmente atua em muitos casos
de forma decisiva para garantir os direitos
indígenas, no caso do Javari vem se
mostrando inoperante. Todo o histórico
da débil atuação do MPF
está descrito em detalhes no relatório
“A atuação do MPF e o provimento
da atenção à saúde
indígena no Vale do Javari”, escrito
pelo analista pericial Walter Coutinho, do
próprio MPF, no qual ele também
aponta soluções e providências
a serem tomadas Leia a íntegra do documento.
Em um dos pontos do relatório,
Coutinho escreve: “O que se torna mais preocupante,
porém, não é exatamente
o malogro ou inconclusão das raras
iniciativas já tomadas, mas a inércia
de atuação, a ausência
da adoção de providências
que possam, tempestivamente, fazer frente
aos desmandos e malversações
que vêm produzindo uma situação
de verdadeira calamidade sanitária.
A ação do MPF tem sido limitada
em função de definições
administrativas sobre a área de jurisdição
de um ou outro procurador, ou constrangida
a períodos variáveis de responsabilidade
funcional, fatores que, sob ânimo diverso,
poderiam ser perfeitamente contornáveis.
Frios despachos burocráticos ou artifícios
do gênero, no entanto, não fazem
jus à gravidade da situação,
conforme já sustentado inclusive no
litígio judicial, contribuindo para
afastar o MPF da concretização
de suas incumbências legais e para o
seu apequenamento no desempenho do papel institucional
que lhe é reservado”.
Um drama de muitos anos
O drama dos índios
do Javari, assim como o dos Guarani Kaiowá
do Mato Grosso do Sul, não é
novo e revela os sintomas mais agudos da crise
na gestão do sistema de saúde
indígena do Brasil, a cargo da Funasa.
O colapso da saúde indígena
no Vale do Javari vem sendo bem documentado
há vários anos. Os surtos de
hepatite B e D e de malária têm
atingido o Javari há mais de 15 anos
mas, a partir de 2001, a crise ficou ainda
mais severa. No ano passado, o Conselho Indígena
do Vale do Javari (Cijava), chegou a lançar
a Campanha SOS Javari na qual denuncia a falta
de providências para combater o avanço
das doenças.
Antes disso, o dossiê
“A grave epidemia de hepatite B e D no Vale
do Javari”, divulgado pelo Centro de Trabalho
Indigenista (CTI) em 2005, já oferecia
a dimensão do drama vivido nas aldeias.
O documento registra que, entre 2001 e 2003,
24 indivíduos morreram devido à
Síndrome Febril Íctero Hemorrágica
Aguda (SFIHA), causada pelas hepatites B e
D. “O ano de 2003 foi especialmente trágico,
as mortes, mais de uma por mês, ocorreram
entre 4 dos 5 povos do Vale do Javari e atingiram
3 dos 4 principais rios da terra indígena
(Ituí, Curuçá e Javari).
Notícias via rádio de pessoas
vomitando sangue, entrando em coma terminal
e vindo a óbito em menos de cinco dias
se tornaram freqüentes”. Veja aqui o
resumo do dossiê.
O artigo Colapso no Atendimento
Provoca Retorno de Epidemias (escrito por
Beatriz de Almeida Matos, do CTI, e Jorge
Marubo, do Cijava, e publicado na última
edição da publicação
Povos Indígenas no Brasil 2001/2005,
lançado pelo ISA em novembro de 2006,
ainda apresenta um histórico detalhado
do problema, suas causas e conseqüências.
No ano passado, os agentes
de saúde do Dsei Vale do Javari constataram
a ocorrência de 2.883 casos de malária,
o que significa que 90% da população
sofre ou sofreu da doença. A própria
Funasa realizou um inquérito sorológico
em dezembro passado em 309 índios e
descobriu que 56% deles portam o vírus
da hepatite B. A Organização
Mundial de Saúde (OMS) afirma que o
limite aceitável de contaminação
em uma população é de
2%. A pesquisa também revelou que 263
índios - 85,1% dos 309 pesquisados
- já tiveram contato com o vírus
de hepatite A, e 25% dos pesquisados são
portadores da Hepatite D, além da constatação
de 4 casos de hepatite C, vírus anteriormente
não encontrado na população
local.
As enfermidades não
impactam apenas a saúde das aldeias,
mas provocam um verdadeiro caos social, com
a desestruturação de famílias,
comunidades e formas tradicionais de produção
de casas, alimentos e tradições
culturais. O assunto é aprofundado
no artigo Epidemias Produzem Caos Social,
publicado também em Povos Indígenas
no Brasil 2001/2005 , no qual os pesquisadores
do Museu Nacional Elena Monteiro Welper e
Pedro de Niemeyer Cesarino contam que até
a forma de despedida entre os índios
foi alterada. “Parentes distantes e visitantes,
quando vão embora, são instruídos
a voltarem logo (raya krãtso!), indicando
o medo de uma morte prematura”.
Além de causar fraturas
indeléveis nas comunidades do Javari,
o avanço livre e combinado das epidemias
de malária e hepatite ainda embute
o risco de exterminar com toda uma população
que vinham se recuperando demograficamente.
É o caso dos Matis. Em outro texto
presente em Povos Indígenas no Brasil
2001/2005, intitulado “Desastre Sanitário”,
Hilton S. Nascimento, do CTI, e Philippe Erikson,
da Universidade Paris X – Nanterre, escrevem
que “trinta anos depois dos primeiros contatos
com a Funai e um quarto de século depois
da última onda de epidemias mortíferas,
os Matis pareciam estar a dois passos de ter
enfim reencontrado o seu equilíbrio
demográfico, psicológico e cultural.
No fim de 2005, a população
foi estimada em 280 pessoas (versus 87 em
1983). Os rituais, as malocas, as tatuagens
e mesmo um pouco de xamanismo haviam sido
recuperados...Os Matis pareciam ter recuperado
a confiança no futuro e renascia a
esperança. A situação
sanitária desastrosa com qual eles
se encontram hoje confrontados, no entanto,
ameaça aniquilar todos esses motivos
de otimismo. A epidemia de hepatite B que
ronda atualmente a bacia do Javari põe
brutalmente em risco a sobrevivência
tanto física como cultural dos Matis”.
Leia aqui o artigo na íntegra.
O drama dos Matis também
foi testemunhado por Rosana Gasparini, da
equipe do Programa Xingu do ISA, que esteve
na região em setembro passado. Leia
seu relato.
Intercâmbio Xingu
e Vale do Javari: o drama dos Matis
O intercâmbio entre
professores indígenas Ikpeng, do Parque
Indígena do Xingu, e Matis, do Vale
do Javari, superou as expectativas. Povos
tão distantes geograficamente, possivelmente
teriam poucas chances de se conhecerem, se
não fosse o apoio e incentivo da instituição
Terre des Hommes – a TDH - que financia projetos
no Brasil que beneficiam crianças e
adolescentes .
Apesar das trocas intensas
e permeadas de muita emoção,
o desfecho do intercâmbio desembocou
numa triste realidade que assola os povos
do Vale do Javari, em especial o povo Matis.
Presenciamos a morte dramática e angustiante,
de uma mulher jovem, grávida de 7 meses,
acometida pela Hepatite B, malária
e apresentando sintomas de SFIHA (síndrome
febril íctero-hemorrágica aguda).
Nossa viagem teve início
no dia 9/9/2006 quando saímos da aldeia
Moygu, única aldeia Ikpeng localizada
no Médio Xingu, próximo ao Posto
Indígena Pavuru. Partimos eu, Rosana
Gasparini, Maiua Txicão, professor
da Escola Indígena Estadual Central
Ikpeng e Tawarero Ikpeng, aluno de 6a etapa
e uma das lideranças jovens Ikpeng.
Saímos de Canarana
no dia 13, passando por Brasília e
Manaus, chegando nas cidades de referência
para a entrada no Vale do Javari, Tabatinga
do lado brasileiro e Letícia do lado
colombiano, no dia 14/09.
Iniciamos a viagem para
o Vale no dia 16/09, num percurso que duraria
3 dias e 2 noites e meia em canoa dos índios
Matis, realizando poucas paradas para banho
e banheiro. A embarcação é
uma canoa tradicional de aproximadamente 12
metros e é movida pelo motor de rabeta
13 HP, também conhecido por peque-peque.
O início do percurso
se dá pelo rio Solimões, saindo
pela cidade de Tabatinga em divisa com a Colômbia
e o Peru. O combustível para as embarcações
é comprado em balsas flutuantes localizadas
na extensão das margens do rio, que
se tornam extremamente poluídas por
óleos e dejetos domésticos lançados
a revelia. No mesmo local se vê a população
indígena que se encontra na cidade
utilizando a água para banho e para
cozinhar e a saída de grandes embarcações
de turismo, que levam turistas estrangeiros
em sua maioria..
Entrando no rio Javari passamos
pelas cidades de Benjamin Constant e Atalaia
do Norte, ainda no primeiro dia e por um longo
percurso na divisa com o Peru, pudemos observar
atividade intensa de extração
de madeira. As toras ficam na água
até serem recolhidas pelas serrarias.
Durante a madrugada alcançamos
a confluência dos rios Itacoaí
com o Ituí, localidade próxima
da Terra Indígena do Vale do Javari,
onde está instalada a Frente de Proteção
Etno-Ambiental, um programa de parceria ente
Funai e CTI para proteção e
fiscalização da região.
A Terra Indígena do Vale do Javari
ocupa uma extensão de terra de 8.544.480
hectares e é ocupada pelos povos Kanamari,
Kulina, Marubo, Matsé, Matis, Korubo,
Tsohom Djapá e pelo menos 6 povos isolados.
Logo após um breve
controle do pessoal que trabalha na Frente,
para vistoria das bagagens e apresentação
da autorização da Funai para
a entrada na área, seguimos pelo rio
Ituí, no sentido de sua nascente. Neste
eixo localizam-se as aldeias dos povos Korubo,
Matis, e Marubo à montante.
No segundo dia de viagem
encontramos uma embarcação,
um pouco maior que a nossa, também
com motor peque-peque, que levava uma enfermeira
e uma auxiliar de enfermagem, vindas de Atalaia
do Norte, para visita e atendimento às
aldeias Matis e Marubo.
Nossa primeira aportagem,
no terceiro dia de viagem, foi na aldeia Beija-Flor,
formada de uma divisão entre o povo
Matis, há mais ou menos dois anos.
Esta aldeia dista 8 horas de viagem da aldeia
Aurélio, a principal e mais populosa
aldeia Matis.
Fomos recebidos no centro
da chubu (maloca), onde realizamos apresentações
e expusemos a intenção de nossa
visita, assim como compartilhamos a refeição
que nos foi oferecida, no círculo principal,
ocupado apenas pelos homens. Foi também
o encontro com Rafael Pessoa, antropólogo
do CTI, que está assessorando o trabalho
de educação escolar indígena
e que iria nos acompanhar durante os próximos
dias. Fomos informados de um grave caso de
saúde de uma moça, gestante,
portadora da hepatite B e que contraíra
malária. Sua remoção
já havia sido solicitada pelo agente
indígena de saúde, porém
aguardavam a visita da enfermeira para confirmação
e autorização da remoção.
Durante o tempo em que ficamos
na aldeia, o professor Aldenilson Yõpa,
que nos acompanhava desde Tabatinga, fez uma
lâmina na UBS e constatou que estava
com malária, assim como Conrado, assessor
do CTI, durante outra viagem de intercâmbio
que realizaram juntos.
Seguimos para a aldeia Aurélio,
chegando à meia noite no porto, onde
fomos recebidos por quase toda a comunidade
que nos aguardava com grande expectativa.
Ficamos nessa aldeia três dias, como
combinado, concretizando enfim nossa expectativa
de trocas, que foram intensas e permeadas
de muita emoção.
O grande destaque foi o
orgulho que os Matis sentiram pela desenvoltura
do professor Maiua em retratar a realidade
do Xingu e as conquistas que vêm alcançando
frente aos novos desafios que a relação
com a sociedade envolvente lhes coloca. Seu
discurso teve o enfoque na participação
da política educacional, na discussão
das questões ambientais e principalmente
na gestão da saúde.
No último dia de
nossa estadia na aldeia (21/09), depois de
vários relatos sobre a grave situação
de saúde das aldeias Matis, chegaram
enfim a enfermeira e a auxiliar, sendo que
a primeira retornaria para a aldeia Beija-Flor
para acompanhar o caso da moça que
estava se agravando e a remoção
enfim havia sido solicitada.
O discurso final, de despedida,
do cacique Txëma, foi de resignação
e incerteza sobre o futuro de seu povo, disse
“estamos felizes por conhecer vocês
e por terem nos falado muitas coisas sobre
a vida de vocês, mas estou preocupado,
pois não sei o que vai acontecer com
meu povo, diga isso a seu povo para que possam
nos ajudar”.
Seguindo para a aldeia Beija-Flor,
na manhã do dia 22, encontramos o barco
que levava a enfermeira, parado no rio, pois
a falta de informação levou
o piloto e agente indígena de saúde
a fazer a mistura entre gasolina e óleo
2T de forma errada, prejudicando e paralisando
o motor 25HP, que havia sido emprestado da
aldeia dos Marubo, para essa situação
de emergência. Levamos a enfermeira
em nossa canoa.
A chegada em Beija-Flor
foi desoladora, ninguém veio nos receber,
sinal de que algo não estava bem. Já
na aldeia, pouca conversa e nenhum acolhimento,
percebia-se uma apreensão no ar, até
que o cacique veio nos levar a uma casa, onde
seríamos alojados. No final da tarde
fomos chamados para o centro da maloca e a
conversa fluiu, numa aparente serenidade.
Uma matxon (mulher mais velha) entoava um
canto triste e repetitivo, que era para acalmar
e proteger as crianças.
Na madrugada, por volta
de 3 horas, fomos informados que a moça
estava vomitando sangue. Ninguém mais
pode dormir só acompanhar o desenrolar
dos fatos. As 6h25 a moça morreu depois
de grave crise de hemorragia pela boca e pela
vagina, segundo descrição traumática
de Binã, seu parente.
O enfermeiro que veio numa
viagem de três dias, pois seu barco
parou para reparos, chegou para a remoção
exatamente no momento do último suspiro
da moça e foi quem constatou o óbito.
Saiu apressadamente, após 15 minutos
de permanência na aldeia, provavelmente
com medo da reação da comunidade.
Foram dez dias entre o pedido de remoção
pelo agente indígena de saúde,
a visita da enfermeira e a chegada de fato
à aldeia, não houve nenhuma
comunicação ou acompanhamento
por parte de médicos durante esse período.
A finalização
de nosso intercâmbio foi um misto de
tristeza e indignação, pois
ficamos sabendo que óbitos desse tipo
são recorrentes e têm afetado
grande parte da população jovem
entre 15 e 20 anos. A constatação
da presença de hepatite B e da SFIHA
(síndrome febril íctero-hemorrágica
aguda) na população Matis, ocorreu
em 2001, quando realizaram exames sorológicos
específicos, porém de lá
para cá nada foi feito para o controle
e prevenção, que se agrava ainda
mais com a falta de controle sobre a malária
que é um dos fatores de potencialização
dessa doença, pois afetam o mesmo órgão,
o fígado. É comum uma pessoa
ter de 3 a 5 malárias ao ano.
O CTI elaborou um dossiê
anexando vários documentos e informações
e já encaminhou ações
junto ao Ministério Público.
Os Matis, que já tiveram seus piores
momentos na época do contato, veêm-se
hoje num retrocesso a esses tempos e assistem
ao extermínio físico e cultural
de seu povo, pois os velhos, assolados pela
tristeza estão deixando de repassar
o que sabem de seus ancestrais, não
estão se enfeitando mais e nem realizando
os rituais tradicionais, enquanto os jovens
ficam relegados à maior aproximação
da “atraente” cultura dos nawa (brancos).
Depois do retorno de nossa viagem soubemos
que Rafael também havia saído
da área com febre alta. O intercâmbio
foi uma iniciativa da Terre des Hommes da
Holanda, financiadora dos projetos de educação
escolar indígena junto aos povos do
Xingu, do Vale do Javari e os Yanomami, assessorados
pelas Ongs ISA, CTI e SECOYA, respectivamente.
Os Yanomami visitaram o Xingu em 18 de agosto
de 2006, os Xinguanos visitaram os Matis em
15/09 e os Mayoruna visitaram os Yanomami
também em 15/09.
ISA, Bruno Weis.