17-04-2007 - Pequim, China
Exploração descontrolada de
madeira destrói florestas asiáticas
A demanda internacional
por móveis e assoalhos de fino acabamento
pode levar o merbau à extinção.
Um novo relatório do Greenpeace (“Merbau’s
Last Stand”, em inglês) alerta que a
valiosa espécie de madeira tropical
poderá ser extinta em até 35
anos se nada for feito para parar sua exploração
descontrolada e o comércio ilegal de
madeira.
Originalmente, o merbau
era facilmente encontrado no leste da África,
em toda a Ásia e Oceania, até
o Taiti. Atualmente, a espécie só
pode ser encontrada em quantidades significativas
na ilha de Nova Guiné, tanto na Indonésia,
quanto na Papua Nova Guiné (PNG). Mesmo
nessas localidades, as populações
de merbau sofreram graves impactos da exploração
ilegal e predatória.
Atualmente, apenas 17% do
merbau remanescente estão fora das
áreas de concessão florestal.
Mapas produzidos pelo Greenpeace mostram que
83% das florestas que abrigavam as últimas
populações saudáveis
das espécies na ilha de Nova Guiné
já foram exploradas ou estão
destinadas à atividade madeireira.
O nome merbau é dado
a várias espécies do gênero
Intsia spp, todas de crescimento lento, que
levam, em condições naturais,
pelo menos 75-80 anos para atingir o tamanho
comercial. O merbau está sendo retirado
das florestas a um ritmo sem precedentes,
da mesma forma que o mogno foi explorado na
Amazônia nas décadas de 80 e
90. Como o mogno, o alto preço que
o merbau pode atingir torna a atividade madeireira
rentável em áreas onde o custo
inviabilizaria a exploração,
deixando, assim, novas áreas de florestas
vulneráveis ao avanço do desmatamento.
“Milhares de quilômetros
de estradas foram abertas na procura pelo
mogno. Parte destas imensas áreas de
floresta amazônica, antes inacessíveis,
foram ou estão sendo destruídas
para instalação de pecuária
e soja, provocando impactos irreversíveis
na natureza”, diz Marcelo Marquesini, do Greenpeace.
“Assim como o mogno, grande parte da exploração
de merbau é feita ilegalmente”. No
Brasil, muitas empresas que pertenciam à
chamada “Máfia do Mogno” passaram a
trabalhar com outras espécies de madeira,
também valiosas, como o cedro, jatobá
e ipê, usando as mesmas práticas
ilegais e destrutivas.
O merbau é uma espécie
valiosa, avaliada em mais de US$ 600 o metro
cúbico (madeira serrada) e é
usado na fabricação de produtos
de fino acabamento, como móveis e assoalhos.
A demanda internacional por produtos de merbau
– principalmente por parte da China, Europa,
América do Norte, Ásia e Oceania
– já destruiu grande parte das florestas
onde as espécies são encontradas.
Maior mercado para o merbau e maior consumidor
de madeira tropical do mundo, a China importa
merbau de áreas de concessão
exploradas ilegalmente na Papua Nova Guiné.
A lista vermelha de espécies
ameaçadas da IUCN (World Conservation
Union, ou União de Preservação
Mundial) em 2006 colocou o merbau como “enfrentando
grande risco de extinção num
futuro próximo”, sendo a exploração
madeireira e a destruição das
florestas as maiores ameaças. Embora
a Indonésia tenha declarado sua intenção
de listar o merbau na Cites (Convenção
sobre Comércio Internacional de Espécies
Ameaçadas), isso nunca aconteceu.
A investigação
do Greenpeace identificou diversas rotas clandestinas
para transportar o merbau da Indonésia
para a China. Em 2006, milhares de metros
cúbicos de merbau saíram da
Indonésia em direção
à China, apesar da Indonésia
estar proibida de exportar madeira. Toras
de madeira escondidas em containeres foram
declaradas como sendo madeira serrada. Estima-se
que entre 76-80% da atividade madeireira na
Indonésia seja clandestina
“A exploração
descontrolada, o contrabando de madeira e
a demanda internacional por merbau estão
destruindo as florestas da Ásia e do
Pacífico e levando a espécie
à extinção”, disse Sue
Connor, do Greenpeace. “A expansão
da atividade madeireira em áreas primárias
de floresta deve parar, o merbau deve ser
protegido pela Cites e os países consumidores
devem implementar uma legislação
para acabar com o comércio de madeira
ilegal. Passou da hora de protegermos efetivamente
nossas florestas”.
Foto: Greenpeace