09/05/2007
- Gerusa Barbosa - A ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, disse nesta quarta-feira (9)
que os efeitos das mudanças climáticas
podem levar prejuízos para o mundo
em vários níveis, desde o econômico
aos ambientais. Segundo ela, a humanidade
não estava preparada para conviver
com essa realidade, e por isso terá
que refletir sobre uma nova forma de ser para
garantir a própria sobrevivência.
"Nós estamos vivendo a era dos
limites. Todos esses aspectos estão
contribuindo para uma reflexão sobre
uma nova maneira de ser, um novo 'ethos' e
um novo procedimento do homem na relação
com ele próprio e com a natureza",
disse, ao abrir o seminário sobre Créditos
de Carbono e Mudanças Climáticas
-Propostas e desafios para a sustentabilidade
ambiental, promovido pelo jornal Valor Econômico,
em São Paulo.
Durante sua palestra, Marina
Silva lembrou o tema em destaque na ordem
do dia: "a aparente oposição
meio ambiente e desenvolvimento" e reforçou
a necessidade de se discutir o assunto. "Vamos
atravessar esse tempo discutindo meio ambiente
e desenvolvimento. Estamos inaugurando a era
dos limites, e a capacidade de suporte da
natureza precisa ser respeitada para que os
ecossistemas continuem prestando seus serviços
ambientais", disse. Para ela, o Brasil
é o único país que não
pode ter essa dicotomia "porque 50% do
PIB brasileiro depende da nossa biodiversidade".
De acordo com a ministra,
o Brasil pode contribuir para a mitigação
dos efeitos climáticos utilizando o
biocombustível como processo de adaptação
de impactos. "Podemos produzir biocombustíveis
sem derrubar mais 'uma moita', recuperando
áreas de preservação
permanente, nascentes, fazendo eficiência
com o uso da água, etc". No seu
entendimento, a produção de
etanol é viável em todas as
partes do mundo onde ela possa acontecer com
os devidos cuidados éticos. "Essa
dimensão ética vai permitir
fazer a inserção correta na
economia global.
A ministra informou, ainda,
que para o Brasil chegar em 2013 produzindo
30 bilhões de litros de etanol precisará
"tão-somente" de mais de
3 milhões de hectares de terra para
produção do produto. "Nós
temos 51 milhões de hectares em repouso
dos pouco mais de 300 milhões de hectares
de área agricultável do país",
disse. Por isso, acrescentou, "não
tem sentido sacrificar os recursos de milhares
de anos pelo lucro de apenas algumas décadas,
de forma desnecessária". Sobre
a Amazônia, informou existir 165 mil
Km2 de área desflorestada, mas que
não serão utilizados para produção
de etanol.
Para a ministra, o Brasil
como potência ambiental e natural pode
ser capaz de criar uma marca de produtos para
consumo associada à sustentabilidade
ambiental e social. "Por isso não
podemos desperdiçar esses valores.
Se nós formos capazes de ter uma nova
'práxis' econômica e um novo
paradigma de desenvolvimento, criaremos uma
nova narrativa para nossos produtos".
Como exemplo, citou a indústria florestal
brasileira que já produz papel e celulose
"sem derrubar uma árvore de floresta
nativa". Informou que nos últimos
quatro anos o País plantou 3 bilhões
de árvores. "São 600 mil
hectares de árvores plantadas em 2006,
significando um bilhão de árvores
por ano". Por tudo isso, disse, o "Brasil
pode fazer diferente".
Segundo ela, para os países
ricos é muito difícil mudar
suas economias carbonizadas, sua matriz energética
para renovável e limpa, lembrando que
esses países têm 6% de matriz
energética renovável, enquanto
o Brasil possui 45% e outras nações
em desenvolvimento, 13%. "Uma vantagem
diferencial para o Brasil", destacou.
Marina Silva finalizou sua
palestra mencionando as políticas estruturantes
implementadas pelo Ministério do Meio
Ambiente. Entre elas, lembrou o programa do
biocombustível iniciado em 2004, os
oito estudos técnico-científicos
sobre os efeitos das mudanças climáticas
na biodiversidade na Amazônia, no Pantanal,
na Zona Costeira e na Caatinga - divulgado
em fevereiro deste ano - e o Plano Nacional
de Prevenção e de Combate ao
Desmatamento, que conseguiu reduzir nos últimos
dois anos em 52% o índice de desmatamento
na Amazônia. "Isso significou a
redução de 430 milhões
de toneladas de CO2 na atmosfera e representa
15% de tudo que teria que ser reduzido pelos
países ricos nos últimos dois
anos".
+ Mais
Embaixador propõe
encontro entre Marina Silva e secretário
do Tesouro dos EUA
11/05/2007 - Rafael Imolene
- Embaixador dos Estados Unidos no Brasil,
Clifford Sobel, afirmou em Brasília
que pretende promover um encontro entre a
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e
o secretário do Tesouro norte-americano,
Henry Paulson, durante a viagem do secretário
ao Brasil programada para julho. Paulson,
responsável pelos investimentos do
governo americano, carrega no currículo
a luta em favor de causas ambientais, daí
o interesse do diplomata no encontro. "Seria
uma excelente oportunidade para ele conhecer
as propostas do governo brasileiro nesta área",
afirmou Sobel.
Acompanhado de diplomatas,
o embaixador foi recebido por Marina Silva
no gabinete do ministério, na manhã
desta sexta-feira (11), e levantou o assunto.
Sobel revelou que Paulson é um observador
de pássaros e tem se mostrado
sensível ao setor ambiental em todo
o mundo. Quando o secretário comandava
o banco de investimentos Goldman Sachs, por
exemplo, a instituição doou
uma área de 680 mil acres (275 mil
hectares) no sul do Chile para a preservação
da vida selvagem. Paulson também atuou
por décadas em organizações
ambientalistas e,
atualmente, é peça-chave, dentro
da Administração Bush, na criação
de políticas para combater os efeitos
do aquecimento global.
Marina Silva se mostrou
favorável à idéia e disse
que o encontro dependerá apenas de
uma adequação de agenda entre
as autoridades dos dois países. Segundo
a ministra, os temas a serem abordados em
uma eventual reunião incluem a criação
de unidades de conservação,
o Arpa (Programa Áreas Protegidas da
Amazônia), a redução da
emissão de poluentes, e a estruturação
do Instituto Chico Mendes. "Achamos positivo
que o secretário possa se empenhar
em conseguir recursos com o setor privado",
disse Marina. "Se tem alguém que
pode conseguir apoio dos Estados Unidos, é
a senhora", respondeu Sobel.
Além da visita de
Paulson, na reunião foram tratados
outros assuntos, como a cooperação
técnica entre os países no gerenciamento
de parques e uma iniciativa norte-americana
no combate ao tráfico de animais silvestres
e
plantas, medida incentivada pelo governo brasileiro.
Também conversaram sobre a biopirataria,
redução do desmatamento, agricultura
sustentável e fontes de energias alternativas,
como o biodiesel e o etanol.
Ao final, o embaixador convidou
a ministra a participar das atividades que
serão realizadas no Ministério
das Relações Exteriores na manhã
da próxima quinta-feira (17), que contará
com a presença da subsecretária
para a Democracia e Assuntos Globais do Departamento
de Estado dos EUA, Paula Dobrinsky. Marina
Silva já tem uma reunião agendada
com a subsecretária na
tarde do mesmo dia na sede do MMA, mas se
comprometeu a estudar a possibilidade de atender
ao convite. A reunião entre Marina
e Sobel contou com a participação
da Assessoria Internacional do ministério,
do diretor do
Departamento de Mudanças Climáticas,
Ruy de Góes, e do diretor do Departamento
de Áreas Protegidas, Maurício
Mercadante.
+ Mais
Retomada da Aliança
dos Povos da Floresta é apresentada
à ministra Marina Silva
11/05/2007 - Aida Feitosa
-A ministra Marina Silva recebeu nesta sexta-feira(11)
representantes do Conselho Nacional dos Seringueiros
e da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia. Eles anunciaram
a retomada da Aliança dos Povos da
Floresta e a realização do II
Encontro Nacional dos Povos da Florestas.
Segundo Adilson Vieira,
do Grupo de Trabalho Amazônico, a idéia
é contribuir na mitigação
dos efeitos das mudanças climáticas;
na conservação da biodiversidade
com redução da pobreza; além
da construção de um PAC socioambiental.
Ele destacou que as mudanças
climáticas globais já atingem
diretamente a vida dos povos da floresta.
"Por exemplo não está acontecendo
mais o 'Aru'. Eram três a quatro dias
de friagem que favorecia a concentração
dos peixes e das caças essenciais para
os rituais de passagem", explicou.
Esses temas também
serão debatidos no II Encontro Nacional
dos Povos da Florestas que acontecerá
entre os dias 18 e 21 de setembro de 2007.
A expectativa é que 10 mil pessoas
de todos os biomas do país participem.
A ministra Marina Silva
apoiou a iniciativa da retomada da aliança
e da realização do encontro.
"A complexidade da questão ambiental
hoje exige uma articulação maior.
Não só dos entes governamentais,
mas também da proatividade da sociedade
civil", disse Marina.