24/05/2007 - Rubens Junior
- Se nesse instante o mundo parasse de desmatar
as florestas em 100%, mesmo assim, a providência
não seria suficiente para frear o ritmo
forte do aquecimento global. Isto só
seria possível se os países
desenvolvidos parassem já de queimar
combustíveis fósseis, como gasolina
ou diesel. O alerta foi renovado nesta quinta-feira
pelo representante do Ministério do
Meio Ambiente Adriano Santhiago, no segundo
dia de debates da Semana Nacional da Mata
Atlântica, realizada de 23 a 26 de maio
na capital gaúcha. Ainda assim, fazendo
a sua parte, afirmou ele, o Brasil tem na
Mata Atlântica um enorme potencial para
reflorestamento e para a mitigação
dos danos não só naturais, mas
também climáticos.
Segundo Adriano, do volume
de emissões de gases de efeito estufa
(gás carbônico - CO2), apenas
20% são provenientes de atividades
de desmatamento ou de outros usos inadequados
do solo. "A grande maioria, 80%, provém
da queima de combustíveis fósseis",
garante. Relatório do IPCC mostra que
os maiores responsáveis pelas emissões
são, pela ordem, os setores de Energia,
de Transportes, a Indústria e, por
fim, o desmatamento. "Ou seja, é
bobagem dizer que a redução
do desmatamento resolverá o problema
do aquecimento", insiste Adriano, reconhecendo,
porém, o compromisso do governo brasileiro
com a redução do desmatamento
no País. O Brasil, que, segundo relatório
do IPCC, é o país que mais emite
CO2 por desmatamento, vem atacando o problema
de frente. Tanto assim que, nos últimos
dois anos, conseguiu reduzir a taxa do desmatamento
na Amazônia - bioma mais atacado atualmente
- em 52%.
Segundo Adriano, o Brasil
pode continuar a contribuir muito com políticas
de mitigação dos danos climáticos,
aprofundando estratégias de florestamento/reflorestamento,
de utilização de energia obtida
a partir da biomassa (como álcool),
da introdução de novas tecnologias
no setor energético, mantendo o controle
por sensoriamento remoto. "Mesmo assim"
- alerta o assessor - "dependendo da
região, as mudanças climáticas
podem inclusive afetar o potencial de mitigação
das emissões de gases de efeito estufa
no setor florestal". No tocante às
técnicas de florestamento/reflorestamento,
o mundo vem avançando muito, diz o
assessor. "Se, até dois anos,
não havia metodologia oficial para
esse procedimento, agora existem nove registradas",
diz. E a Mata Atlântica, segundo ele,
tem grande potencial para projetos de florestamento
com os chamados Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo (MDL).
O palestrante concluiu sua
apresentação ressaltando a proposta
brasileira de concessão, pela Convenção
Mundial do Clima, de incentivos positivos
para os países que reduzam emissões
de CO2. "A proposta, feita em 2005, durante
a Conferência das Partes (COP-11), traz
grande impulso à luta pela mitigação
do problema do aquecimento e seus múltiplos
efeitos", disse. "Sem a contribuição
da ministra Marina Silva, esse item não
teria 'vingado' para ser apresentado ao conjunto
dos países", ressaltou. A proposta,
porém, ainda será motivo de
negociação entre os países,
mesmo porque nem todos os países possuem
capacitação tecnológica
para reduzir as emissões, e outros
ainda não aceitaram a idéia.
Em outro painel de debate,
nesta quinta-feira, intitulado Políticas
Públicas para Conservação
da Mata Atlântica, Gustavo Trindade,
da Consultoria Jurídica do MMA, apresentou
um histórico da legislação
ambiental no Brasil, que, segundo ele, ganhou
impulso e se consolidou nos últimos
30 anos. Outro assessor do MMA, Marcus Reis
Rosa, falou sobre as áreas prioritárias
para conservação, uso sustentável.
Abordou também o tema da repartição
de benefícios da biodiversidade da
Mata Atlântica, uma das mais ricas do
planeta, apesar de encontrar-se reduzida a
8% da sua cobertura original.
Prêmio - A ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, o secretário-executivo
do MMA, João Paulo Capobianco, e o
diretor do MMA, Wigold Schaffer, além
de outras personalidades, foram homenageados
na abertura do encontro (23) pela Rede de
Ongs da Mata Atlântica com um troféu
pela história de luta e de serviços
prestados em benefício da preservação
e da recuperação da Mata Atlântica,
o bioma mais ameaçado do Brasil e o
segundo do mundo. O troféu, uma reprodução
reciclável de uma palmeira, foi entregue
durante a abertura da Semana Nacional da Mata
Atlântica, que está sendo realizada
no Centro Cultural 25 de Julho, em Porto Alegre
(RS).
O evento continua nesta
sexta-feira, com a realização
do Encontro Nacional e Assembléia Geral
da Rede de Ongs da Mata Atlântica.