G8 deve ignorar Bush e liderar
corte das emissões de CO2
05 de Junho de 2007 - Rostock,
Alemanha — Os países do G8 são
responsáveis por mais de 80% das emissões
históricas de gases estufa e emitem
40% de todo o CO2 despejado na atmosfera
No Dia Mundial do Meio Ambiente
e na véspera da reunião de cúpula
do G8, o Greenpeace exige que a chanceler
alemã, Angela Merkel, lidere os países
do G8 a assumirem suas responsabilidades no
combate às mudanças climáticas.
Independentemente do resultado da reunião
agendada para quarta, dia 6, entre Merkel
e Bush, os países do G8 precisam agir
imediatamente e de forma decisiva, assumindo
o compromisso de cortar em 50% suas emissões
de gases de efeito estufa até 2050
– em relação às emissões
de 11000 – para manter o aquecimento médio
global abaixo dos 2ºC. Merkel já
afirmou que essa meta é “inegociável”.
“Não seriam necessárias
mais reuniões se Bush realmente quisesse
fazer um acordo de redução de
emissões com os maiores poluidores.
O presidente Bush deve simplesmente se comprometer
com essa redução de 50%”, afirmou
Daniel Mittler, especialista em mudanças
climáticas do Greenpeace Internacional.
A pressão internacional e de seu próprio
país levou Bush a apresentar, na semana
passada, um novo subterfúgio - a Nova
Iniciativa Climática. “O mundo não
precisa de mais essa distração
do presidente norte-americano. Precisa, sim,
que os países industrializados assumam
as metas necessárias de redução
para impedir as conseqüências mais
trágicas do aquecimento global”, complementou
Mittler.
Os países do G8 são
responsáveis por mais de 80% das emissões
históricas de gases estufa e, nos dias
de hoje, emitem 40% de todo o CO2 despejado
na atmosfera. As emissões per capita
de CO2 nos países do G8 estão
entre as mais altas do mundo, lideradas pelas
emissões dos EUA, que totalizam cerca
de 20 toneladas de CO2 per capita ao ano.
O Greenpeace acredita que
o G8 deva adotar metas que possibilitem:
• Manter o aumento da temperatura média
global abaixo dos 2oC em relação
aos níveis pré-industriais.
• Comprometer-se com um corte de 30% das emissões
até 2020, e de 80%-90% até 2050
(em relação aos níveis
de 11000). A Alemanha deve unilateralmente
cortar 40% de emissões até 2020,
para mostrar liderança.
• Chegar a um acordo nas negociações
da Convenção do Clima da ONU
em dezembro de 2007, estabelecendo um mandato
formal e um cronograma de cortes de emissões
dentro do Protocolo de Kyoto no mais tardar
até 2009.
• Garantir o fim da destruição
de florestas primárias até 2010
e de todas as florestas até 2020, uma
vez que cerca de 25% das emissões globais
de CO2 são provenientes da destruição
de florestas tropicais.
O Greenpeace argumenta ainda
que as informações e tecnologias
necessárias para efetuar este corte
nas emissões já estão
disponíveis. Um exemplo é o
estudo Revolução Energética,
lançado em janeiro deste ano pelo Greenpeace
em parceria com a Agência Espacial Alemã,
mostra como é possível cortar
as emissões em 50% através da
adoção de medidas de eficiência
energética e de energias renováveis
em ampla escala, eliminando-se os subsídios
para energias poluidoras como carvão
e nuclear.
Países em desenvolvimento:
Brasil e China
Enquanto o presidente Lula
se prepara para a reunião do G8 na
Alemanha, a nova Secretária Nacional
de Mudanças Climáticas do Ministério
do Meio Ambiente, Telma Krug assustou a sociedade
civil brasileira em entrevista publicada ontem
no jornal Folha de São Paulo. Krug
considerou a opção nuclear,
disse que não acredita em desmatamento
zero e alegou que ainda vai precisar de dois
anos para elaborar um plano nacional de ação
contra o aquecimento global.
“Esta posição
é atrasada, limitada e perigosa”, disse
Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace
Brasil. “O Brasil não pode esperar
dois anos para resolver como vai eliminar
o desmatamento, ampliar a participação
das energias renováveis na matriz energética
brasileira, identificar as áreas e
setores socioeconômicos mais vulneráveis
e elaborar um plano de adaptação
para as populações que já
estão vivendo as conseqüências
do aquecimento global no país. Esta
é uma situação emergencial
que exige prioridade absoluta do poder público”.
Veja carta enviada pelo Greenpeace à
Folha de São Paulo em resposta ao conteúdo
da entrevista de Telma.
Enquanto o Brasil reluta
em agir, o governo do Amazonas está
dando um passo decisivo. O governador do estado
sancionou nesta terça a lei que institui
a Política Estadual sobre Mudanças
Climáticas, a primeira elaborada no
Brasil. Durante a solenidade de lançamento
da política, o coordenador da campanha
Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário,
aproveitou para solicitar aos parlamentares
presentes que cobrem do presidente Lula a
iniciativa de adotar uma Política Nacional
de Mudanças Climáticas.
Do outro lado do planeta,
a China anunciou ontem seu Programa Nacional
de Mudanças Climáticas, primeira
proposta desta natureza a ser adotada por
um país em desenvolvimento. O programa
prevê uma série de medidas de
combate ao aquecimento global, principalmente
nas áreas de eficiência energética
e reflorestamento, além de delinear
uma reforma nos preços dos combustíveis
fósseis como o carvão de acordo
com seus impactos ambientais. Veja posição
do Greenpeace sobre a proposta chinesa.
“Se, por um lado, tudo o
que o governo brasileiro vem promovendo como
contribuição à crise
climática é o etanol, o movimento
do governo chinês deixa claro que um
país em desenvolvimento pode e deve
encarar o aquecimento global de frente e adotar
medidas concretas para reduzir sua participação
no problema. A China saiu na frente do Brasil
nesta corrida para equilibrar desenvolvimento
econômico e proteção climática”,
conclui Furtado.
Artigo: O G8 em Heiligendamm
pode ser um sucesso contra o aquecimento global,
se Merkel ignorar Bush04 de Junho de 2007Imprimir
Enviar Internacional — Por Gerd Leipold, diretor-executivo
do Greenpeace Internacional
A pressão nacional
e internacional às vésperas
do próximo encontro do G8 sobre as
evidências do aquecimento global e o
que precisa ser feito para brecá-lo
forçou a administração
Bush a hesitar. No final da semana passada,
o anúncio de última hora de
uma nova iniciativa climática, dias
antes do início da cúpula do
G8, indica que, pela primeira vez, o presidente
Bush percebeu que não há mais
como se esquivar deste assunto.
O anúncio de Bush
é uma tentativa de convencer que algo
está sendo feito. A administração
norte-americana se viu forçada a adotar
essa medida depois que um documento oficial
seu vazou para a imprensa mundial. O documento
revelava a oposição dos EUA
a um texto do G8 que pedia a redução
das emissões pela metade até
2050 em relação aos níveis
de 11000. Apesar de o governo norte-americano
ter chamado o documento de proposta alemã,
não há nada de alemão
nela. É apenas a física universal
do problema.
A administração
Bush, em compensação, ignora
os fatos científicos evidentes e a
experiência duramente adquirida nos
últimos 15 anos: medidas voluntárias
não funcionam. Os dados são
claros: as emissões têm que atingir
seu máximo em 10 a 15 anos e cair drasticamente
a partir disso. Do ponto de vista político,
o G8 é responsável por mais
de 80% da mudança climática
que nós presenciamos hoje e ainda responde
por cerca de 40% das emissões globais.
O G8 tem, portanto, o dever
moral de ser o primeiro a agir, e de forma
firme. Para atingirmos uma redução
de 50% das emissões, o G8 precisa cortar
pelo menos 80% a 90% de suas emissões
até 2050 (em comparação
a 11000). Qualquer meta diferente disso não
será nem adequada, nem justa e muito
menos segura. Bush, ao contrário, quer
começar uma nova rodada de discussões
que possa chegar a um acordo sobre metas voluntárias
para os grandes emissores.
Esta é apenas mais
uma de uma longa séria de medidas vazias
e suas tentativas de sair pela tangente. Em
2001, quando Bush rejeitou o Protocolo de
Kyoto, ele prometeu apresentar uma proposta,
o que não foi cumprido. Em Montreal,
em 2005, sua administração esvaziou
tentativas de início de negociações
completas em nível internacional, insistindo
que aquele não era o momento e propondo
apenas o diálogo. Até hoje,
o diálogo não levou a lugar
algum – e nem levará.
Se o presidente Bush quer
ser sério sobre o aquecimento global,
ele deve apenas concordar com as metas propostas
para a reunião do G8: são as
medidas corretas. O governo federal norte-americano
provavelmente voltará às negociações
do regime internacional de clima quando Bush
sair da Casa Branca. Porém, para garantir
um acordo global consistente, ao qual os Estados
Unidos possam eventualmente aderir, a chanceler
alemã Ângela Merkel deve dar
um passo mesmo sem Bush.
Para atingir os objetivos
lógicos de sua estratégia, Merkel
também pode avançar bastante
nas negociações sobre clima
em Heiligendamm. Se todos os sete países
do G8 que ratificaram o Protocolo de Kyoto
determinarem cortes de suas emissões
em 30% até 2020 e em 80%-90% até
2050, seria um grande passo. Os participantes
de Kyoto devem também chegar a um consenso
sobre as metas de corte de emissões
para o próximo período do protocolo
até no máximo 2009.
Bush, que não assinou
Kyoto, está deixando o cargo em 2008
e não deve opinar sobre o assunto.
Na última cúpula do G8, em 2005,
em Gleeneagles, os governos documentaram o
isolamento dos EUA com a declaração:
“Aqueles de nós que ratificaram Kyoto
dão as boas vindas a sua entrada em
vigor, e vão trabalhar para que ele
dê certo e seja bem-sucedido”. Frases
como essa devem ser numerosas no documento
final de Heiligendamm e serão um claro
sinal de sucesso.
Merkel deve mostrar liderança
decisiva em Heiligendamm. A Alemanha deve
assumir uma meta unilateral de corte de emissões,
além de influenciar os países
membros de Kyoto a continuar a negociar no
âmbito das Nações Unidas
e alcançarem consenso em relação
às metas no mais tardar até
2009 dentro do Protocolo de Kyoto.
Ela poderia, por exemplo,
comprometer a Alemanha a cortar 40% até
2020 - independentemente de qualquer outro
país. Essa atitude seria condizente
com a retórica de liderança
da chanceler alemã. Para ter credibilidade,
Merkel teria que se opor ao programa de construção
de novas usinas a carvão, defendido
pelas gigantes alemãs do setor.
Esses são os verdadeiros
parâmetros para o sucesso do G8. O que
Bush diz é apenas digressão
com o propósito de atrasar o verdadeiro
progresso.
+ Mais
Posição do
Greenpeace sobre Política Nacional
de Mudanças Climáticas da China
05 de Junho de 2007 - O
Greenpeace deu as boas vindas ao lançamento
do Programa Nacional de Mudanças Climáticas
da China ontem. A China é o segundo
maior emissor de gases do efeito estufa da
atualidade. O plano apresenta diferentes medidas
que serão adotadas pelo governo chinês
para combater o aquecimento global. Este é
um passo importante e positivo da China, mostrando
que o governo daquele país reconhece
a gravidade das mudanças climáticas
e também a responsabilidade chinesa
em enfrentar este problema. Este é
o primeiro programa nacional sobre mudanças
climáticas adotado por um país
grande emissor em desenvolvimento.
O Programa Nacional chinês
é basicamente uma compilação
de políticas já existentes,
incluindo metas ambiciosas de eficiência
energética, renováveis, reflorestamento
etc. O fato de que tais políticas tenham
sido originalmente adotadas para atacar outros
temas ilustra a complexidade dos problemas
ambientais e de desenvolvimento que a China
enfrenta hoje. Para os países em desenvolvimento,
é um desafio equilibrar a proteção
ao clima com crescimento econômico.
O Greenpeace acredita que as medidas do Programa
Nacional chinês devem ser vistas como
um esforço no sentido de alcançar
este equilíbrio. Um modelo mais sustentável
de desenvolvimento da China deve, por sua
vez, tornar-se referência para outras
nações em desenvolvimento.
O Greenpeace exige que o
governo chinês melhore a implementação
de suas metas de eficiência energética
e amplie a participação de energias
renováveis como eólica e solar
fotovoltaica . O Greenpeace também
demanda que o governo chinês introduza
medidas concretas para externalizar o custo
ambiental e retirar os subsídios de
combustíveis fósseis como carvão
na China de acordo com seus impactos ambientais,
princípio que consta do Programa Nacional
lançado hoje.
O Programa não se
compromete com metas mandatórias de
redução de emissões de
gases do efeito estufa. O Greenpeace acredita
que a China deve assumir determinadas obrigações
no âmbito do Protocolo de Kyoto. Porém,
quais e como seriam tais obrigações
depende, essencialmente, da vontade dos países
desenvolvidos em assumirem mais compromissos
e em apoiarem as nações em desenvolvimento
em áreas como a transferência
de tecnologia. Barreiras como a falta de tecnologias
limpas na China não pode ser ignorada
– ela impede que o país faça
mais para combater as mudanças climáticas.
O Greenpeace exige que os países desenvolvidos
materializem os princípios de Transferência
de Tecnologias no âmbito da Convenção
Quadro das Nações Unidas de
Mudanças Climáticas.
O governo chinês
já deixou claro que continuará
a ser uma força progressista no processo
de Kyoto e que novas iniciativas devem ser
complementos e não tentativas de substituir
este processo. O Greenpeace analisa que esta
posição da China deve aumentar
a pressão sobre os EUA e a Austrália,
os dois países desenvolvidos que não
ratificaram o Protocolo de Kyoto.