12-06-2007 - Beijing, China
- Denúncia do Greenpeace leva multinacional
B&Q a evitar fontes predatórias
no mercado chinês. País já
consome mais de 10% da madeira exportada da
Amazônia brasileira
Empresas fornecedoras de
madeira ilegal para a China sofreram um golpe
com a decisão da terceira maior rede
varejista de materiais de construção
e decoração doméstica
do mundo, a empresa inglesa B&Q, de controlar
a origem dos produtos de madeira que comercializa.
A B&Q anunciou nesta terça, em
Pequim, que irá rastrear fornecedores
ilegais para garantir que todos seus produtos
vendidos no mercado chinês estejam certificados
em três anos.
Dois meses atrás,
o Greenpeace revelou que muitas espécies
madeireiras vendidas em lojas chinesas de
materiais de construção vêm
de países onde mais de 80% da extração
madeireira é ilegal e predatória,
caso do Brasil.
O diretor executivo da B&Q
Ásia, Steve Gilman, disse que a empresa
iniciou o trabalho para que todos os produtos
madeireiros vendidos na China venham de fontes
legalizadas. A B&Q também garantiu
que, em três anos, todas as linhas de
produtos vendidas na China virão de
operações florestais responsáveis
e ecologicamente certificadas, conforme a
política global de aquisições
de sua filiada Kingfisher.
“A medida é extremamente
positiva para os esforços de conservação
da Amazônia porque a China comprou,
em 2006, mais de 10% da madeira da Amazônia
exportada pelo Brasil. O país é
o segundo maior cliente da madeira brasileira,
perdendo apenas para os Estados Unidos”, diz
Marcelo Marquesini, da campanha Amazônia
do Greenpeace. Entre 1999 e 2006, as exportações
de madeira da Amazônia para a China
aumentaram 1300%, saltando de 6,1 mil toneladas
para quase 80 mil toneladas. “Porém,
a indústria da madeira ilegal no Brasil
pode se preparar para perder parte da clientela
chinesa, em breve”, antecipa Marquesini.
O Greenpeace estima que
a ilegalidade da madeira na Amazônia
pode chegar a 80%. O governo federal já
reconhece que pelo menos 63% desse total é
ilegal. Entre a floresta e os portos de exportação,
a madeira extraída ilegalmente é
legalizada de diversas maneiras.
O diretor de campanhas do
Greenpeace China, Lo Sze Ping, disse que “a
menos que todas as companhias comercializadoras
de produtos madeireiros façam esforços
concentrados, como a B&Q, para limpar
o mercado de madeira e garantir que o material
venha de fontes ecologicamente responsáveis,
elas continuarão contribuindo inadvertidamente
para o desmatamento global e as mudanças
climáticas. Empresas que operam na
China têm a obrigação
particular de tomar alguma medida porque a
China é hoje o maior importador de
madeira tropical, e a rápida expansão
desse setor vem tendo impacto direto nas florestas
do mundo inteiro.” Atualmente, apenas um quinto
das florestas originais do planeta permanecem
relativamente intactas.
A B&Q também
anunciou que parou de vender pisos feitos
de merbau, nome comum dado a algumas espécies
tropicais que crescem na ilha de Nova Guine
e estão sob séria ameaça
de desaparecer da natureza. “Apesar de nossos
melhores esforços para avaliar as fontes
dos nossos pisos de merbau, nós somos
incapazes de ter certeza absoluta de que ele
estava vindo de operações legalizadas”,
disse Gilman. “Como resultado, a única
escolha responsável que nós
podemos fazer agora é parar de comprar
e vender este produto, mesmo sabendo que ele
tem sido historicamente um de nossos campeões
de venda.”
O Greenpeace está
convocando as empresas ao redor do mundo a
pararem de vender madeira que venha de fontes
ilegais e destrutivas. A organização
também exige que os governos eliminem
a entrada de madeira ilegal em seus países,
e que os países que tenham florestas
intactas adotem uma moratória na exploração
em escala industrial de madeira proveniente
dessas áreas, até a conclusão
de amplos e participativos zoneamentos econômicos-ecológicos.