18 de Junho de 2007 - Adriana
Brendler - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O professor Aquilino
Senra, do programa de Pós-Graduação
em Engenharia Nuclear da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou hoje (18)
que se o Brasil não entrar agora na
geração nuclear com a retomada
da construção da usina nuclear
de Angra 3, terá que fazê-lo
dentro de uma década, com custos muito
maiores.
“Eu não tenho dúvidas
de que se o Brasil não entrar agora
na geração nuclear, daqui há
cinco, 10 anos, terá que entrar. Os
países que transformaram suas economias
o fizeram baseando sua matriz energética
na matriz nuclear”, disse, ao participar de
reunião pública promovida pela
Eletronuclear para debater a construção
da usina.
Ele citou como exemplo os
Estados Unidos, que na década de 50
transformou sua matriz energética;
o países europeus, nas décadas
de 60 e 70 e os chamados tigres asiáticos,
na década de 80, entre eles a Coréia
do Sul. “A Coréia do Sul começou
junto com o Brasil e hoje tem 18 usinas em
operação e nós estamos
com duas. Se não houver o projeto,
(a conclusão de Angra 3) a tendência
é que as equipes técnicas criadas
no país nos últimos anos sejam
desmobilizadas e o custo de mobilização
no futuro vai ser elevado”.
Além da preservação das
equipes técnicas nacionais geradas
nos últimos anos, Senra também
apontou os investimentos de cerca de US$ 1000
milhões já feitos em equipamentos
para a usina e a tecnologia de enriquecimento
de urânio desenvolvida no país,
que se perderão caso Angra 3 não
seja concluída, como motivos para retomar
a construção da usina.
“No caso de não se
ter Angra 3, não se justifica a produção
do enriquecimento de urânio e se perderia
um investimento feito ao longo de quase uma
década. Não havendo a necessidade
de abastecimento das usinas não haveria
nenhuma outra aplicação que
não fosse a bélica para o urânio,
coisa que a própria constituição
brasileira impede”.
O pesquisador reconhece
que os rejeitos produzidos pelas usinas nucleares
sempre foram o “calcanhar de Aquiles” da geração
nuclear, mas destacou que muitos avanços
tecnológicos ocorreram desde a década
de 80, quando foram freadas as instalações
de usinas em todo o mundo, inclusive a de
Angra 3, depois do acidente nuclear de Chernobyl.
Segundo ele, pesquisas atuais
estão avançando no sentido de
minimizar o problema representado pelo tempo
de duração dos rejeitos radioativos,
que podem se estender por até 10 mil
anos. ”Existem hoje 440 usinas gerando rejeitos
no mundo e o armazenamento desses rejeitos
de uma forma definitiva ainda não tem
solução em nível mundial.
É um problema ético produzirmos
a energia e termos que armazenar os rejeitos
para gerações que estão
muito à frente. O que o setor nuclear
fez ao longo dos últimos anos foi desenvolver
uma tecnologia para reduzir para 300 anos
a vida útil desses rejeitos. Com isso
o processo de armazenamento fica dentro num
patamar mais exequível’, disse Senra.
De acordo com o pesquisador,
França, Japão e Estados Unidos
estão desenvolvendo reatores com essa
tecnologia, que no futuro poderia vir a ser
utilizada também no Brasil.
A reunião pública
promovida hoje pela Eletrobrás na UFRJ
foi a décima quinta realizada pela
empresa para disseminar informações
sobre a retomada da construção
de Angra 3 e apresentar o relatório
de impacto ambiental da usina, que está
sendo apreciado no Ministério do Meio
Ambiente.
Os encontros foram uma preparação
para as três audiências públicas
oficiais que serão realizadas de amanhã
até quinta-feira por determinação
do ministério junto às comunidades
de Parati, Rio Claro e Angra dos Reis, no
Rio de Janeiro, onde já funcionam as
usinas de Angra 1 e Angra 2.
As audiências com
a participação da população
são uma das etapas necessárias
para que o Ibama decida se vai conceder ou
não o licenciamento ambiental para
a retomada da construção da
usina, suspensa há mais de 20 anos.