Amazônia - 02/07/2007
- Estudo revela que índios se vêem
impedidos na confecção de adereços
e utensílios
Vários estudos sobre
os aspectos do cotidiano das populações
indígenas da Amazônia serão
apresentados, nesta terça-feira (3),
em Belém do Pará, durante o
15º Seminário de Iniciação
Científica do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG), instituição vinculada
ao Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT).
O desmatamento da floresta
amazônica é assunto dos mais
debatidos na atualidade. Alvo de inúmeros
estudos, o tema está sendo estudado
sob um aspecto inovador. Qual o impacto da
ação de madeireiros e fazendeiros
sobre a confecção da arte plumária
e a fabricação de arcos de caça
entre as populações?
Flávio Alves dos
Reis Neto, um jovem pesquisador que atua no
Museu Goeldi analisa os impactos da devastação
da floresta sobre a produção
de arte e de utensílios entre os Ka’apor,
que habitam na terra indígena Alto
Turiaçu, na divisa dos estados do Pará
e Maranhão.
Orientado pela antropóloga
Claudia López Garcés, o estudo
se baseou em dados etnográficos coletados
na aldeia Xiepihum-rena, onde foram realizadas
entrevistas, e em levantamento bibliográfico
referente ao povo indígena Ka’apor.
Nas visitas realizadas na
aldeia Xiepihum-rena, o bolsista constatou
a ação devastadora de madeireiros
por meio da extração ilegal
de madeiras nobres em terras indígenas,
tais como o pau d’arco roxo (tabebuia impertiginosa
standley) e pau d’arco amarelo (tabebuia serratifolia
vahl), e de espécies conhecidas como
ipê roxo e amarelo, usadas pelos Ka’apor
na confecção dos seus arcos
de caça.
Confira os estudos sobre
populações indígenas
que compõem a programação
do primeiro dia do evento nas sessões
de Ciências da Terra, Antropologia e
Lingüística.
Uso do solo em Terras Indígenas
O monitoramento de focos de calor nas unidades
de conservação e em terras indígenas
situadas na região do Projeto de Zoneamento
Ecológico-Econômico da BR-163
foi objeto de análise de outro bolsista
de iniciação científica
do Goeldi, Elivelton Ferreira Monteiro, sob
a orientação do pesquisador
Leandro Valle Ferreira.
A área do estudo
incluiu 19 municípios paraenses situados
na região da BR-163, que liga Cuiabá
(MT) a Santarém (PA), totalizando cerca
de 33 milhões de hectares de área
monitorada (27,2% da área total do
estado).
O levantamento realizado
pelo bolsista revela que o número de
focos de calor nesses municípios de
1998 a 2006, sofreu um aumento igual entre
todos os municípios, sendo Novo Progresso
o município com maior número
de focos de calor e Belterra com o menor número.
O bolsista também observou que o número
de focos de calor fora das áreas protegidas
é 180 vezes maior do que os focos identificados
fora dessas áreas.
"A maioria dos focos
de calor se concentra ao longo do eixo da
rodovia, ramais e travessões da Rodovia
BR-163, o que demonstra esta estrada esta
sob forte influência da atividade humana
ligadas principalmente a expansão da
atividade agropecuária, madeireira
e a expansão de centros urbanos",
explica Monteiro.
Também orientado
por Leandro Ferreira, o estudo realizado pela
universitária Camila da Silva Furtado,
ressalta a importância do atual sistema
de unidades de conservação e
de terras indígenas para a conservação
da biodiversidade da Amazônia.
O trabalho avaliou a representatividade
das 621 áreas protegidas na Amazônia
Legal através de uma abordagem biogeográfica,
que utiliza dados cartográficos digitais.
Segundo o estudo, a maioria das ecorregiões
da Amazônia está bem representada
no atual sistema de áreas protegidas.
Lingüística
Descobrir traços comuns na estrutura
de línguas quase extintas como a Puruborá,
falada na atualidade por apenas quatro pessoas;
elaborar dicionário Karo-Português,
que revelará significados do que falam
os índios Arara, de Rondônia;
e desvendar a fonética de línguas
não conhecidas fora dos limites das
tribos são alguns dos desafios de estudantes-bolsistas
de iniciação científica
do Goeldi.
Falada no estado de Rondônia,
o Sakurabiat é uma das línguas
do tronco Tupi mais ameaçadas de extinção,
com um reduzido número de falantes
sem que seja transmitida às novas gerações.
Também conhecida como Mekens, o Sakurabiat
foi objeto de estudo da bolsista de iniciação
científica do Museu Goeldi, Ana Carolina
Ferreira Alves, que desenvolveu um trabalho
de análise acústica detalhada
das vogais que compõem a língua.
Orientado pela pesquisadora
Ana Vilacy Galucio, o estudo contribui para
a compreensão do sistema fonético
e busca ampliar o número de palavras
conhecidas da língua. "O estudo
mais detalhado da fonética e fonologia
da língua Sakurabiat é de grande
importância para o avanço do
conhecimento a respeito das línguas
indígenas brasileiras, tanto do ponto
de vista analítico-descritivo, quanto
histórico-comparativo", explica
Vilacy.
Outro trabalho orientado
por Vilacy analisa aspectos morfológicos
e morfossintáticos de três línguas
da família Tupari: Makurap, Mekens
e Tupari, todas faladas no Estado de Rondônia.
Realizada pela bolsista Fernanda de Souza
Nogueira, a pesquisa identifica propriedades
do sistema da morfologia e morfossintaxe do
Proto-Tupari, língua ancestral da família
Tupari.
Os resultados obtidos corroboram
a proximidade genética entre as três
línguas, bem como permitem uma compreensão
mais ampla do sistema lingüístico
do Proto-Tupari.
Um outro estudo de autoria
Elizabeth da Silva Santos também compara
duas famílias lingüísticas
faladas em Rondônia e pertencentes ao
tronco Tupi: a Ramarama, composta pela língua
Karo, com 170 falantes, e a Puruborá,
com apenas quatro falantes.
Elizabeth constatou que
as duas línguas apresentam relevante
percentual de cognatos – palavras com a mesma
raiz - e compartilham algumas propriedades
fonéticas que lhes são comuns
formando, dessa forma, um sub-grupo dentro
do tronco-Tupi.
Ameaçada de extinção,
a língua Karo, falada pelos índios
Arara de Rondônia, também é
objeto de estudo da bolsista Fernanda Oliveira
de Araújo, que está participando
da elaboração do dicionário
Karo-Português e do Livro de Mitos Arara.
Maria Lúcia Morais
- Assessoria de Comunicação
Social do Museu Goeldi