21 Aug 2007 - Por João
Gonçalves - Comunicador WWF-Brasil
- Conhecer para educar. Esse é o mote
do Programa de Liderança Ambiental,
uma parceria entre WWF Estados Unidos e a
empresa automobilística Nissan América
do Norte, que trouxe ao Brasil 16 estudantes
universitários norte-americanos com
o objetivo de proporcionar uma vivência
em conservação da natureza e
despertar futuros líderes na área
ambiental. O programa é uma oportunidade
para os participantes trabalharem em conjunto
com cientistas brasileiros e conhecerem
projetos de conservação da natureza
e desenvolvimento sustentável. No Brasil,
o programa conta com a parceria do WWF-Brasil
e apoio do IPÊ (Instituto de Pesquisas
Ecológicas). O instituto foi responsável
pela organização da viagem,
que entre 29 de junho e 12 de agosto, levou
o grupo para Nazaré Paulista e Pontal
do Paranapanema, em São Paulo, e para
Manaus e a região do Rio Negro, no
Amazonas.
"O trabalho de campo
com cientistas de conservação
é uma parte essencial do programa”,
afirma o diretor de programas de educação
e liderança do WWF Estados Unidos,
Shaun Martin, “Na Amazônia, os estudantes
viram o lado ‘mão na massa’ do trabalho
de conservação e conheceram
o bioma que trabalhamos tão seriamente
para conservar”. Martin explica que antes
da viagem o grupo de estudantes participou
de uma semana de treinamento e preparação
nos Estados Unidos. Em Washington, eles visitaram
a Embaixada do Brasil, o Banco Mundial e o
Congresso Nacional.
Peixe-boi de Madeira - Depois
de uma semana em São Paulo, onde os
estudantes vivenciaram projetos de conservação
da natureza desenvolvidos pelo IPÊ,
o grupo desembarcou em Manaus, em 8 de agosto.
Do aeroporto os estudantes foram direto aos
barcos que os levariam para Novo Airão.
Localizado na margem direita do Rio Negro,
distante de Manaus 115 km em linha reta, Novo
Airão abrange em seu território
importantes unidades de conservação
como a Estação Ecológica
do Arquipélago de Anavilhanas, parte
do Parque Nacional do Jaú e do Parque
Estadual do Rio Negro, sendo as duas primeiras
unidades contempladas pelo Arpa (Programa
de Áreas Protegidas da Amazônia).
Depois de nove horas de
viagem, com direito a mergulho nas águas
do Rio Negro, o grupo conheceu a Fundação
Almerinda Malaquias (FAM), instalada no município.
Opção de renda para 47 comunitários,
a fundação desenvolve trabalhos
como artesanato, mobiliário e objetos
fabricados com madeira reciclada de estaleiros
navais. Os comunitários interessados
em integrar a fundação passam
por um curso introdutório de duas semanas,
além de um técnico para cada
atividade, no caso de artesanato, por exemplo,
o curso dura 10 semanas, com aulas diárias
pela manhã. Durante 12 anos de atuação,
a fundação já formou
mais de 200 pessoas e espalho os produtos
confeccionados pelo mundo. “Eu queria mostrar
que alguém está fazendo alguma
coisa. Então pensei: o que eu posso
fazer contra essas pessoas que destroem a
floresta. Aí surgiu a idéia
de criar a fundação”, explicou
o fundador da FAM, Miguel Rocha.
Durante a visita à fundação
os participantes do programa de Liderança
Ambiental tiveram a oportunidade de testar
seus dotes em artesanato com o desafio de
moldar um peixe boi de madeira, com o auxílio
dos comunitários. “Sou um homem de
negócios e aqui na Amazônia vi
que é possível conservar a natureza
e gerar renda ao mesmo tempo”, diz o estudante
de administração e contabilidade
da FISK University, em Nashville,no estado
de Tennessee, Clinton Sands, 20 anos, referindo-se
à vivência na Fundação
Almerinda Malaquias. “Além disso, na
viagem tive a oportunidade de aprender mais
sobre meio ambiente e mudanças climáticas.
Peço que deixem a natureza como está.
Não temos por que destruir, podemos
nos aproveitar dela sem estragar nada”.
Artesanato Comunitário
- Após a visita a Novo Airão,
o barco seguiu para a região do rio
Cuieiras no Parque Estadual Rio Negro Setor
Sul. O grupo visitou algumas comunidades ribeirinhas
apoiadas por projetos de conservação
do IPÊ. Um dos comunitários que
os estudantes encontraram foi o líder
baré, Jualison Garrido Melo, membro
de uma comunidade de 12 famílias que
há 17 anos se instalou em um dos pontos
do parque estadual. “No começo era
muito difícil. Nós nunca gostamos
de prejudicar a floresta, mas a sobrevivência
nos forçou a isso”, explica ele, lembrando
que sua comunidade se instalou na região
sete anos antes da criação da
unidade de conservação, “Hoje
a gente não deixa madeireiro entrar
aqui, pois percebemos que temos que preservar
nossa floresta. Tinha um tempo que não
tinha mais comida aqui. A gente passava uma
noite inteira para caçar uma paca ou
pescar um tambaqui”. Hoje a comunidade vive
da produção de artesanato, comercializado
principalmente para os turistas que chegam
de Manaus. Garrido, que também é
professor da língua tradicional dos
baré – o nheengatú – na escola
pública local, explica que a renda
proveniente do artesanato é utilizada
principalmente na compra de roupas e alimentos
para garantir a época da cheia.
“Foi uma oportunidade única
de aprender sobre conservação
da natureza e conhecer pessoas com os mesmos
interesses”, afirma a estudante de geografia
da Universidade do Texas, Nicole Leung, 20
anos, que ficou impressionada ao constatar
que as comunidades amazônicas mantêm
as suas tradições: “Achei incrível
que eles não se modernizaram, nem querem
imitar o estilo de vida americano”. Ainda
na região do Rio Cuieiras, os estudantes
visitaram um pequeno agricultor que expôs
a confecção tradicional da farinha
da mandioca, além de um projeto de
apicultura com abelhas sem ferrão.
Parcerias de Sucesso - “A
Amazônia é um lugar vasto. Antes
de vir eu não tinha essa consciência.
A diversidade biológica é incrível”,
afirma o estudante de ciência política
e ambiental da Universidade de Michigan, Chris
Detjen, 22 anos, que se disse impressionado
com as parcerias entre o setor privado e organizações
não-governamentais, como a própria
parceria entre WWF e Nissan para a promoção
do Programa de Liderança Ambiental.
“É bom para os dois lados: leva a mensagem
da empresa e da conservação
da natureza com um viés mais sério,
e menos publicitário”.
Este é o segundo
ano de parceria entre WWF Estados Unidos e
Nissan América do Norte. Em 2006, ocorreu
a primeira edição do Programa
de Liderança Ambiental e os estudantes
selecionados realizaram uma expedição
similar para a África do Sul. Além
do programa, a parceria envolve a doação
de recursos da empresa para o financiamento
de projetos ambientais. Nos Estados Unidos,
os recursos serão utilizados no projeto
regional de despoluição de rios
e afluentes nos estados do Tennessee e Alabama.
No Brasil, cerca de R$ 300 mil será
utilizado no financiamento de estudos de viabilidade
de criação de unidades de conservação
na Amazônia.
“As atividades do WWF-Brasil
no Rio Negro estão concentradas na
criação e implementação
de áreas protegidas e integram nossa
estratégia pelo desenvolvimento sustentável
da Amazônia como um todo”, afirma a
secretária-geral do WWF-Brasil, Denise
Hamú, explicando que a doação
da Nissan irá viabilizar um estudo
de ordenamento territorial do Rio Negro para
levantar o potencial de criação
de novas unidades de conservação
de proteção integral e de uso
sustentável, que beneficiem comunidades
locais que trabalham com a piaçava.
“Eu serei sempre grata à
Nissan e ao WWF por proporcionarem o programa
de Liderança Ambiental. A viagem ao
Brasil foi uma oportunidade de ver coisas
que eu nunca poderia ver de outra forma”,
finaliza a estudante de ciência ambiental
da Universidade de Michigan, Erin Allen, 21
anos.