Panorama
 
 
 

LUTA ENTRE ÍNDIOS E ARACRUZ POR TERRAS NO ESPÍRITO SANTO DUROU DÉCADAS

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Agosto de 2007

28 de Agosto de 2007 - Spensy Pimentel - Repórter da Agência Brasil - Brasília - O Ministério da Justiça publicou hoje no Diário Oficial a portaria demarcatória de 18 mil hectares de terras dos índios tupinikim e guarani do município de Aracruz (ES). A luta pela posse dessas terras remonta ao fim dos anos 70, pouco mais de uma década depois da chegada da empresa multinacional Aracruz Celulose à região.

Em 1983, depois de vários conflitos com a empresa, os índios passaram a ocupar 4,5 mil hectares, reconhecidos por decreto presidencial. Em 1995, um relatório antropológico encomendado pela Fundação Nacional do Índio declarou que as terras tradicionais indígenas corresponderiam a 18 mil hectares.

Esse documento é assinado por antropólogos com reconhecimento da Associação Brasileira de Antropologia (leia texto sobre os Tupinikim assinado pelo coordenador do grupo que fez o relatório). Já as contestações da Aracruz não são assumidas por nenhum profissional com reconhecimento público. A empresa se nega a revelar os autores do estudo, apenas apresenta documentos que comprovariam suas posições em seu site na internet.

O embate retórico entre a empresa e os índios tem repercussões jurídicas, como explica o indigenista Fábio Vilas, que acompanha o conflito desde 1978. Por isso, desde 1983, explica ele, a empresa afirma que está progressivamente “cedendo” terras para os índios, os quais, por sua vez, negam que se trate de uma concessão, já que as terras seriam suas por direito, desde sempre. “O que eles querem é a reparação do erro de 1998”, diz Vilas, que hoje trabalha junto aos índios pela ONG Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional).

Em 1997, o então ministro da Justiça, Íris Resende, reconheceu a veracidade do relatório dos 18 mil hectares, porém autorizou a demarcação de apenas 2,5 mil hectares. Os índios de Aracruz protestaram contra a decisão e, logo em seguida, foi firmado um acordo segundo o qual, em troca de continuar ocupando os 11 mil hectares restantes, a Aracruz apoiaria as comunidades indígenas com repasses em dinheiro destinados a projetos de desenvolvimento local. Segundo Vilas, o acordo foi realizado sob pressão, o que é negado pela empresa.

Entre 1998 e 2004, a empresa repassou pouco mais de R$ 1 milhão anuais às associações indígenas. Declarando-se insatisfeitos com os resultados do acordo, segundo Vilas, devido às imposições da empresa de que os repasses fossem feitos unicamente a associações que reunissem todos os índios (e não para projetos de grupos menores dentro das sete aldeias), os índios romperam com a Aracruz em 2004 e, desde então, passaram a realizar protestos contra a empresa, ocupando a fábrica, o porto e plantações de eucalipto estabelecidas nas áreas reivindicadas. Os índios ainda fizeram campanha contra a empresa na Europa, junto a compradores da celulose da Aracruz.

Segundo Vilas, os índios se apoiaram também em decisão do Ministério Público Federal, que considerou inconstitucional a decisão de Íris Resende: se uma terra é reconhecida como indígena, torna-se inegociável, portanto o acordo com a Aracruz seria irregular.

No início deste ano, novos relatórios antropológicos, realizados em 2006, tinham sido devolvidos pelo então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, à Funai, para que a fundação buscasse um acordo entre as partes. Em julho, a fundação, agora sob a direção de Marcio Meira, devolveu o documento ao ministério sem alterações. Hoje, a portaria demarcatória foi publicada no Diário Oficial da União. Agora, a terra deverá receber marcos físicos e, posteriormente, será homologada pelo presidente da República.
A Aracruz também enfrenta conflitos com comunidades quilombolas do norte do Espírito Santo.

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Ministro determina demarcação de terras dos Tupinikim e Guarani no Espírito Santo

28 de Agosto de 2007 - Ana Luiza Zenker - Da Agência Brasil - Brasília - Foi publicada hoje (28) portaria assinada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, que declara como território indígena e determina a demarcação dos 18 mil hectares de terras reivindicadas, desde os anos 70, pelos índios tupinikim e guarani no município de Aracruz (ES). A maior parte da área atualmente é ocupada por plantações de eucalipto da empresa Aracruz Celulose.

"Isso é um sonho que a gente está realizando", desabafa o líder tupinikim da aldeia Irajá, Jonas do Rosário. O cacique conta que a decisão do ministro foi recebido com muita alegria por toda a comunidade indígena da região de Aracruz e que a intenção agora é reconstruir as aldeias que foram destruídas. "Tanto os caciques estão satisfeitos como a comunidade está feliz com isso, porque é um direito nosso", afirmou.

Em nota divulgada à imprensa, a Aracruz Celulose se disse "surpreendida" com a decisão do ministro, pois estaria negociando com a Fundação Nacional do Índio (Funai), por sugestão do próprio Ministério da Justiça (na época, comandado por Márcio Thomaz Bastos). A companhia também lamentou o fato de o ministério ter desconsiderado sua contestação aos relatórios da Funai.

Na nota, a Aracruz Celulose afirmou que vai continuar buscando "segurança jurídica" para que não haja mais expansão do território indígena. A empresa disse que pretende fazer isso por meio de negociação, a fim de evitar a continuidade dos confrontos.

De acordo com a Fundação Nacional do Índio, o processo para efetuar a demarcação da terra indígena deve começar nos próximos dias e não há prazo para a homologação. A assessoria da Funai informou que não se manifestaria sobre o "estranhamento" declarado em nota pela Aracruz.

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Aracruz põe fim a conflito e não deve recorrer contra demarcação de terras tupinikim e guarani

30 de Agosto de 2007 - Spensy Pimentel - Repórter da Agência Brasil - Brasília - A empresa Aracruz Celulose não deve recorrer na Justiça contra a decisão do governo de determinar a demarcação de 18 mil hectares em Aracruz (ES) como terra dos índios tupinikim e guarani, ao menos, “em princípio”. A informação foi dada hoje pela assessoria de imprensa da empresa.

Tal decisão pode pôr fim a um conflito que se arrastava desde os anos 70 entre os índios e a empresa. Há quase 40 anos, os 11 mil hectares adicionados aos 7 mil ocupados pelos índios são quase inteiramente cobertos por plantações de eucalipto da Aracruz.

A empresa divulgou hoje uma nota à imprensa em que afirma estar “em entendimentos” com o Ministério da Justiça e a Fundação Nacional do Índio para buscar uma “solução definitiva” para o conflito. Segundo a nota, dirigentes da empresa mantiveram reunião, nesse sentido, com o ministro da Justiça, Tarso Genro, na última terça-feira (28), por iniciativa dele.

A informação é confirmada pela assessoria do ministério. Por sugestão do próprio ministro, deverá ser celebrado, com intermediação do Ministério Público Federal do Espírito Santo, um acordo (tecnicamente, um Termo de Ajustamento de Conduta - TAC) que definirá de que forma será feita a demarcação da terra.

Entre as questões a serem definidas estão os prazos para que a empresa retire da região seus equipamentos e mesmo o tratamento que será dado ao eucalipto hoje plantado na área, que a Aracruz pede para ser considerado uma “benfeitoria”, por seu valor de mercado – isso quer dizer que ela poderá retirar as árvores ou ser indenizada por elas.

A assessoria informou ainda que a reunião de terça-feira abordou a preocupação da empresa com o fim da “instabilidade jurídica” na região, que afeta sua imagem no exterior. Na visão da Aracruz, reiterada na nota de hoje, os índios estiveram, ao longo dos últimos 30 anos, pedindo progressivamente uma expansão de suas terras devido a fatores como o crescimento populacional. A empresa alega ter “doado” 1,7 mil hectares para os índios em 1981, enfrentando, nos anos seguintes, reivindicações crescentes que poriam em ameaça a “segurança jurídica” necessária a seus investimentos.

Essa versão é contestada pelos líderes indígenas e por antropólogos e indigenistas que acompanham a questão. Para eles, o acordo inicial, celebrado durante a ditadura militar, foi imposto aos índios e, após a redemocratização do país, eles apenas repetiram, ao longo dos anos, uma mesma reivindicação que não havia sido atendida até agora, apesar de haver recebido a chancela de um relatório técnico nos anos 90.

“A nossa luta não é pra ampliar. Nós estamos querendo fazer o que o ministro [Íris Rezende, ministro da Justiça do governo Fernando Henrique], em 1998, não fez, que é demarcar a terra no total. Então, essas coisas que a Aracruz fala que são recorrentes, não procede. Depois que for legitimado esses 18 mil hectares, está completa a retomada do nosso território, isso não vai acontecer mais”, disse, em entrevista à Agência Brasil, na semana passada, o coordenador do conselho de caciques tupinikim e guarani, Vilson de Oliveira, o Jaguaretê.

O conselho reúne os líderes das sete aldeias que se espalham pelas áreas de Caieiras Velhas e Pau-Brasil (agora unificadas com a demarcação, chegando a cerca de 14,2 mil hectares), além de Combóios (que é uma área indígena menor, agora com 3,8 mil hectares, separada das demais aldeias pela cidade de Aracruz e a fábrica de celulose). Segundo Jaguaretê, o estudo que foi feito sobre as terras aponta que elas serão suficientes para que várias gerações possam sobreviver ali. “Então, a gente não pretende mais mexer com isso.”

A Aracruz Celulose é uma megaempresa multinacional, líder mundial na produção de celulose branqueada de eucalipto, segundo os dados disponíveis em seu site na internet. O valor de mercado da empresa, em 2006, chegou a US$ 6,3 bilhões. Para alimentar suas fábricas, a companhia mantém 280 mil hectares de plantação de eucalipto, boa parte disso no Espírito Santo. Quilombolas do norte do estado também reivindicam parte dessas áreas.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras (www.radiobras.gov.br)

 
 
 
 

 

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