Pesquisa Científica
- 05/09/2007 - Karina
Melo no laboratorio de tingimento dos couros
Uma técnica ecologicamente correta.
É assim que pode ser definido o processo
de tingimento do couro de matrinxã
(espécie de peixe) a partir de corantes
naturais, que são extraídos
das plantas amazônicas cacauí
e crajiru . O método não usa
produtos químicos, não causa
mal à saúde e ao meio ambiente,
além de que pode ser reproduzido por
comunidades ribeirinhas.
A pesquisa é resultado
do trabalho de mestrado "Extração
e Uso de Corantes Vegetais da Amazônia
no Tingimento do Couro de Matrinxã",
realizado por Karina Suzana Gomes de Melo.
O projeto foi orientado pela cientista da
Coordenação de Pesquisas em
Tecnologia de Alimentos (CPTA), Jerusa de
Souza Andrade e co-orientação
Rogério Souza de Jesus, do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT).
O projeto levou dois anos
e foi financiado pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes/MEC) e a Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam).
Durante as pesquisas, Karina
buscou combinar tecnologias com a disponibilidade
de matérias-primas para o desenvolvimento
de processos simples e de fácil execução.
A idéia era gerar produtos com potencial
de mercado, por isso, o uso do couro de peixe,
tingido com plantas da região.
"Essa junção
serve de base para políticas públicas
de desenvolvimento sustentável da Amazônia",
ressalta.
Para se chegar até
as duas plantas cacauí e crajiru, a
pesquisadora explica que foram realizados
diversos testes com cascas, flores, sementes
e folha, de forma aleatória, sem critério
de produção ou disponibilidade.
Os critérios adotados para poder passar
nos testes foram: proporção
dos pigmentos e solubilidade em água.
De acordo com a pesquisadora,
foram coletadas 15 amostras que passaram por
análises laboratoriais para se determinar
o grupo cromógeno - antocianinas, flavonóides,
carotenóides, pigmentos solúveis
em água -, ou seja, verificar os pigmentos
presentes e quantificá-los. O procedimento
foi adotado para se saber qual a quantidade
necessária para se tingir o couro do
peixe (dar pigmento).
"Por ser uma técnica
pioneira, não havia informações
científicas e técnicas. Na literatura
não consta nenhum outro trabalho que
tenha utilizado corante natural e que a matéria-prima
não fosse comestível",
afirma.
Segundo a mestranda, a mangarataia
e o jenipapo também podem ser utilizados
no tingimento, contudo o objetivo era utilizar
produtos não comestíveis.
Pesquisa
No início das análises a escolha
das fontes de pigmentos para o teste de tingimento
teve por base a quantidade de antocianinas
(cacauí) e de pigmentos solúveis
em água (crajiru). Por serem amostras
purificadas e conhecidas, os corantes artificiais
utilizados no tingimento de couro, têm
uma base da quantidade que pode ser utilizada,
a qual varia em função da intensidade
da cor desejada.
Já os corantes naturais
selecionados para a pesquisa, não foram
purificados e por não saber a quantidade
de corante naturais utilizada no tingimento
do couro de peixe foram feitos vários
testes para saber qual a porcentagem (5, 10
e 15) do corante em relação
ao peso do couro ideal para o tingimento.
Com este experimento foi
possível avaliar as diferenças
na tonalidade, uniformidade de cobertura e
resistência aos fatores degradantes
da cor. Os melhores resultados foram obtidos
com as maiores proporções das
amostras de crajiru e cacauí desidratadas.
O processo envolveu a dissolução
dos corantes em água morna (40ºC).
O material ficava em repouso durante 24 horas.
Após esse período, era colocado
o ácido e deixava o material por mais
2 horas para fixar o pigmento. O processo
foi repetido nas três concentrações:
5, 10 e 15%. Os melhores resultados foram
obtidos nas concentrações de
10 e 15%.
Após o tingimento
foram feitos outros testes, por exemplo, o
de lavabilidade e o de resistência à
luz (fluorescente e a luz solar). Nos testes
com a luz fluorescente não houve perda
da coloração. O mesmo não
aconteceu com a luz solar.
Durante sete dias, das 8h
às 16h, os couros tingidos com crajiru
e cacauí ficaram expostos à
luz sol. Karina explica que, visivelmente,
ambos perderam coloração, mas
não do ponto de vista estatístico.
Ou seja, em análises no aparelho denominado
"colorímetro digital", foi
verificado que os pigmentos perdidos pelos
couros estavam dentro de um quadrante aceitável
de tonalidade.
"O couro tingido com
crajiru e cacauí quando receberam a
aplicação da laca à base
d’água" houve variação
de tonalidade, o couro tingido com crajiru
ficou mais escuro, enquanto o com cacauí
mais claro", afirma a peswuisadora, e
acrescenta que para aumentar a durabilidade,
dar brilho e resistência ao material
a "laca" (verniz obtido sinteticamente)
é fundamental.
"O corante de crajiru
apresentou maior resistência à
ação da luz e da água,
apresentando coloração variando
do vermelho-púrpura ao vinho, enquanto
o de cacauí foi do lilás claro
ao escuro. O que obteve o melhor resultado
na coloração foi o de crajiru",
destaca.
Luís Mansuêto - Assessoria de
Comunicação do INPA