Arlington, Virginia, 12
de setembro de 2007 — Pela primeira vez na
história, a Lista Vermelha de Espécies
Ameaçadas da IUCN (União Mundial
para a Natureza) incluiu corais oceânicos
em seu relatório anual de vida selvagem
em extinção.
Um estudo detalhado da vida
marinha financiado pela Conservação
Internacional (CI) e implementado em conjunto
com a IUCN utilizou dados da Estação
de Pesquisas Charles Darwin, baseada em Galápagos,
e de outras instituições regionais
para concluir que três espécies
de corais exclusivos das Ilhas Galápagos
poderão, em breve, desaparecer para
sempre.
A Lista Vermelha da IUCN
de 2007 indica que dois dos corais – o coral
Floreana (Tubastraea floreana) e o coral solitário
de Wellington (Rhizopsammia wellington) –
como Criticamente Ameaçados, enquanto
que um terceiro – Polycyathus isabela – está
listado como Vulnerável. A Lista Vermelha
também inclui 74 algas marinhas – ou
micro-algas – de Galápagos, sendo que
10 delas receberam o status de Espécie
Criticamente Ameaçada. Antes de 2007,
apenas uma espécie de alga tinha sido
incluída na Lista Vermelha.
“Há uma percepção
errônea no sentido de que as espécies
marinhas não são tão
vulneráveis à extinção
quanto as espécies terrestres”, afirma
Roger McManus, vice-presidente de programas
marinhos da CI. “Contudo, temos uma crescente
consciência de que a biodiversidade
marinha encontra-se também diante de
sérias ameaças ambientais, e
de que há uma necessidade urgente de
determinarmos o alcance mundial destas pressões,
para orientar a prática de conservação
marinha”.
A pesquisa marinha em Galápagos
foi realizada pela Avaliação
Global das Espécies Marinhas (Global
Marine Species Assessment – GMSA), uma iniciativa
conjunta entre a IUCN e a CI lançada
em 2005 com o apoio de dezenas de especialistas
e de instituições de pesquisa.
A GMSA está estudando uma grande parte
das espécies marinhas da Terra para
determinar qual é a ameaça de
extinção.
“Estes corais e algas de
Galápagos são as primeiras dentre
muitas espécies marinhas que serão
acrescentadas à Lista vermelha devido
às nossas descobertas”, conta Kent
Carpenter, da Old Dominion University de Virginia
e diretor da GMSA. “O que é significativo
é que a mudança climática
e a pesca predatória – duas das maiores
ameaças contra a vida marinha – são
as prováveis causas, nestes casos”.
Ameaças - Os cientistas
responsabilizam a mudança climática
pelos cada vez mais freqüentes e mais
graves eventos produzidos pelo El Niño,
que provocaram aumentos drásticos da
temperatura das águas e redução
da disponibilidade de nutrientes no entorno
das Ilhas Galápagos no Oceano Pacífico
Tropical Oriental, ao largo da América
do Sul. As águas mais quentes prejudicam
os corais e as algas, que constituem a base
estrutural dos ecossistemas marinhos.
Os corais constróem
recifes que são o hábitat de
peixes e outras espécies de vida marinha,
e são também uma importante
atração para os mergulhadores
em Galápagos, onde o turismo representa
uma significativa parcela das economias local
e nacional.
A recuperação
das espécies de algas logo após
os fortes eventos causados pelo El Niño
é prejudicada pela pesca predatória
dos predadores naturais do ouriço-do-mar,
que se alimenta das algas. As populações
crescentes de ouriços-do-mar comem
todas as algas presentes nas rochas, esgotando
assim uma importante fonte de alimento para
outras espécies como a iguana marinha
de Galápagos.
“Os ecossistemas marinhos
são vulneráveis a ameaças
em todos os níveis – globalmente devido
à mudança climática,
regionalmente por causa dos eventos causados
pelo El Niño, e localmente quando a
pesca predatória elimina importantes
elementos que constituem os ecossistemas,”
explica Jane Smart, chefe do Programa das
Espécies da IUCN. “Precisamos de soluções
mais eficazes para que os ecosistemas marinhos
tenham uma chance de sobrevivência diante
de interações tão imprevisíveis”.
Outras espécies de
corais e de algas não detinham informações
suficientes para determinar seu status de
inclusão na Lista Vermelha da IUCN,
portanto receberam a designação
de Espécie com Dados Deficientes. Os
pesquisadores acreditam que muitas destas
espécies provavelmente serão
listadas como ameaçadas de extinção
quando houver disponibilidade de informações
mais detalhadas sobre elas.
Pioneirismo - A GMSA é
a primeira avaliação estratégica
global do status de conservação
de espécies marinhas, incluindo todas
as espécies de vertebrados marinhos
e de invertebrados e plantas selecionados.
Financiada predominantemente pela CI e prevista
para um período de cinco anos, a iniciativa
da GMSA está engajando especialistas
de todo o mundo para compilar e analisar todas
as informações existentes sobre
o status de aproximadamente 20 mil espécies
marinhas para determinar seu risco de extinção
de acordo com as Categorias e Critérios
da Lista Vermelha da IUCN. A análise
resultante identificará os hotspots
marinhos de alta prioridade para a conservação,
a fim de concentrar os esforços de
proteção em seus hábitats
e espécies.
Em breve, esse trabalho
também será realizado no Brasil.
A CI e a Fundação SOS Mata Atlântica
estão estudando formas de viabilizar
a iniciativa, que terá como objetivo
a revisão das informações
da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas
de acordo com os critérios da IUCN.
"Certamente, nos ecossistemas marinhos
do Brasil, também existem várias
espécies ameaçadas, que ainda
não fazem parte da lista vermelha da
IUCN. Isso ocorre, principalmente, por falta
de conhecimento sobre seu real estado de ameaças.
Precisamos investir muito no conhecimento
e proteção das espécies
marinhas, se quisermos que nossos filhos e
netos tenham a oportunidade de conhecê-las",
avalia Guilherme Dutra, diretor do Programa
Marinho da CI-Brasil.