10 de Setembro de 2007 -
Vladimir Platonow - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O diretor executivo
do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente
(Pnuma), Achim Steiner, defende maior participação
do Banco Mundial no financiamento de ações
contra o aquecimento global. Ele está
há pouco mais de um ano à frente
da instituição da ONU que tem
a missão de ajudar os países
a lidar com o problema.
Steiner também opina
que as atividades econômicas devem visar
ao desenvolvimento sustentável, e lembra
que participam do debate público pessoas
que ganham dinheiro com as tecnologias que
vão contra esse objetivo. Ele participou,
na semana passada, da Reunião Ministerial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,
que reuniu representantes de 22 países
na capital fluminense. Um dos principais assuntos
foi como encontrar fontes de financiamento
para enfrentar as mudanças climáticas.
Formado em economia, Achim
Steiner conhece bem o Brasil e fala português,
pois é alemão e brasileiro.
Nasceu em Carazinho, interior do Rio Grande
do Sul, e foi para a Alemanha aos 10 de idade.
Agência Brasil: A
grande questão sempre foi como angariar
recursos para investir no meio ambiente. Desta
vez, por causa da ameaça do aquecimento
global, há mais chances de se conseguir
mais dinheiro com os países?
Achim Steiner: Sim. Eu creio que sim. Duas
coisas são diferentes hoje. A consciência
do problema do clima e da degradação
ambiental é maior do que em 1992, na
conferência do Rio [Rio-92]. E hoje
as empresas têm interesse de investir
em uma outra produção, mais
sustentável. Se não temos uma
solução neste momento é
porque os países mais industrializados
não têm demonstrado vontade de
financiar políticas diferentes nos
países como Brasil, Índia ou
China. Mas têm interesse em cooperar.
ABr: Dados da Convenção
sobre Mudanças Climáticas das
Nações Unidas divulgados em
agosto apontam que serão necessários
investimentos de cerca de US$ 200 bilhões
por ano até 2030 para garantir que
a temperatura do planeta permaneça
nos níveis atuais. Como conseguir esse
montante?
Steiner: Para o cidadão comum, US$
200 bilhões parece muito dinheiro.
Mas o furacão Katrina [que atingiu
Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005],
em apenas dez horas, deu um prejuízo
de US$ 81 bilhões. Para a comunidade
global, sinceramente, conseguir US$ 200 bilhões
não é um grande problema. A
guerra do Iraque custa isso por ano. Nós
precisamos de 0,1% do nosso PIB global para
nos tornarmos uma economia de baixa emissão
de carbono. Então o custo não
é tão alto, principalmente se
observarmos os benefícios: menos consumo
de energia e menos poluição.
E nós temos que tomar cuidado nos debates
públicos sobre a questão, pois
há interesses políticos e econômicos
contra as mudanças – são as
pessoas que estão ganhando dinheiro
com as tecnologias atuais e do passado.
ABr: Os países deveriam
criar um imposto ou um fundo específico
para o meio ambiente?
Steiner: Não é apenas o caso
de ter financiamento estrangeiro ou de criar
impostos. A economia tem que ser ambientalmente
mais eficiente. Você deve tentar atingir
objetivos ambientais usando a economia como
aliada. Em Cuba, por exemplo, o governo trocou
todas as lâmpadas incandescentes por
outras mais eficientes. É claro que
isto é ambientalmente saudável,
mas a razão principal foi economizar
eletricidade, pois o país depende de
energia de geradores a óleo. Se cada
consumidor pagar 3 centavos mais por quilowatt-hora
ou comprar lâmpadas mais eficientes
ou tiver um carro menor, é possível
chegarmos a um grande resultado. O custo de
não se fazer um gerenciamento ambiental
eficiente acaba gerando um impacto econômico
para os países.
ABr: O Banco Mundial pode
ser um ator importante para levantar recursos?
Steiner: O Banco Mundial é uma das
instituições-chave que a comunidade
mundial possui para colaborar no financiamento
de questões relacionadas ao desenvolvimento.
Mas o banco tem sido lento em responder aos
desafios das transformações
energéticas para uma economia de baixa
emissão de carbono. Até porque
ele depende das demandas dos governos por
este tipo de investimento.
ABr: A pressão dos
países ricos sobre os mais pobres pode
gerar resultados?
Steiner: Os países ricos não
podem pressionar muito, pois a maior responsabilidade
nas mudanças climáticas é
deles próprios. Eles inclusive reconhecem
que têm de mudar seus padrões
de consumo energético e a quantidade
de CO2 [dióxido de carbono, um dos
principais gases de efeito estufa] lançado
na atmosfera. E esta é uma grande mudança
de atitude. Quatro anos atrás, a primeira
rodada do Tratado de Quioto previa cortes
muito pequenos. Hoje, em países como
Grã-Bretanha, Alemanha e Japão,
já se fala em reduções
de até 50% em emissões de CO2
nos próximos 20 ou 30 anos. Isto é
quase uma terceira revolução
industrial. Nós estamos mudando os
fundamentos energéticos da nossa economia
moderna. Mas para que isso aconteça
estes países precisam da cooperação
das economias em desenvolvimento. Sem China,
Índia e os países em desenvolvimento,
para haver redução de emissões
de CO2, não há solução
para as mudanças climáticas.
Isso significa que nós dependemos um
do outro, muito mais hoje, para resolver este
problema ambiental global, do que qualquer
outra questão na história da
humanidade. Por isso é que o meio ambiente
alcançou o topo das agendas internacionais,
porque sem consenso, não há
solução, seja você um
norte-americano ou europeu rico, ou um indiano
ou brasileiro pobre. As mudanças climáticas
já estão gerando impacto sobre
as populações e as economias
em toda parte.
+ Mais
Nações têm
responsabilidades diferentes em compromisso
contra o aquecimento global
9 de Setembro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - A
Organização das Nações
Unidas (ONU) já começou a articulação
para definir novas estratégias globais
de enfrentamento do aquecimento global, antecipando
as discussões sobre a nova etapa do
Tratado de Quioto, que deverá estabelecer
regras para emissão de gases de efeito
estufa para o período após 2012.
Um dos principais desafios diz respeito ao
cumprimento de metas de redução
pelos países desenvolvidos – 35 ratificaram
o protocolo – e a possibilidade de estender
o compromisso a nações em desenvolvimento.
Para o pesquisador titular
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) Carlos Nobre e para o diretor do Departamento
de Meio Ambiente e Políticas Especiais
do Ministério das Relações
Exteriores (Itamaraty), o ministro Luiz Alberto
Figueiredo, a questão deve ser avaliada
com cuidado, porque os países desenvolvidos
e em desenvolvimento têm responsabilidades
diferentes sobre o problema do aquecimento
global.
Embora se manifeste favoravelmente
à adoção de metas também
pelas nações em desenvolvimento,
Nobre faz uma ressalva: “Os países
desenvolvidos emitiram cerca de 65% de todos
os gases que já foram emitidos, eles
têm uma enorme responsabilidade histórica”.
Ele afirma que, nesses países, a emissão
– principalmente pela queima de combustíveis
fósseis – está muito associada
ao crescimento econômico, porque “desenvolvimento
e utilização de energia são
coisas que andam juntas”.
Para Figueiredo, “quem poluiu
tem a obrigação de despoluir”,
e por isso o grau de responsabilidade e comprometimento
dos países desenvolvidos deve ser maior.
“A convenção [da ONU] reconhece
que nos países em desenvolvimento a
prioridade tem de ser o combate à miséria
e à pobreza, portanto, quem ainda têm
de crescer de forma mais rápida para
resolver esses problemas têm obrigações
diferentes, o que não quer dizer que
isso seja uma licença para poluir”.
Segundo ele, o Brasil –
que não possui metas de redução
de emissão – tem uma atuação
dinâmica no enfrentamento do aquecimento
global por causa da utilização
de matriz energética limpa, com a utilização
de hidrelétricas para geração
de energia e o estímulo aos biocombustíveis.
O pesquisador Carlos Nobre
destaca que a redução do desflorestamento
também é uma forma de o Brasil
contribuir com os esforços mundiais
pela redução de emissões
de gases do efeito estufa. Dados do Inpe mostram
que o desmatamento na Amazônia foi reduzido
25,9% de agosto de 2006 a agosto de 2007 e
que a tendência para o próximo
ano também é de queda.
O país confirmou
participação, no fim do mês,
de dois eventos com foco nas mudanças
climáticas: uma reunião de alto
nível da Organização
das Nações Unidas (ONU) e um
encontro convocado pelo presidente dos Estados
Unidos.
Na avaliação
do professor Paulo Artaxo, também do
IPCC, os países em desenvolvimento,
incluindo o Brasil, deveriam adotar metas
para redução de emissões.
Ele também sugere que as pessoas usem
menos carros e comprem menos, para colaborar
no combate ao aquecimento global.