20 de Setembro de 2007 -
Vladimir Platonow - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - A preservação
da floresta amazônica pode gerar até
US$ 1 bilhão por ano no mercado de
créditos de carbono,
afirmou hoje (20) o diretor-geral do Serviço
Florestal Brasileiro (SFB), Tasso Azevedo.
O valor seria relativo às
emissões de gases evitadas com o não-desmatamento.
“A um preço bem baixo do carbono, isso
poderia gerar cerca de US$ 500 milhões
por ano, talvez até US$ 1 bilhão,
caso existam interessados em investir”, calculou.
Para chegar neste número,
Azevedo estimou que seria evitado o lançamento
na atmosfera de 150 milhões de toneladas
de gás carbônico (CO2) por ano,
a um valor de US$ 3 a tonelada, que ele disse
estar subestimado: “Na Europa, a tonelada
de carbono capturado está entre US$
10 e US$ 14”, comparou.
Tasso Azevedo explicou que,
para viabilizar o processo, é importante
a criação de um mecanismo legal
permitindo capturar investimentos financeiros
do carbono em nível de bioma (a floresta
amazônica), gerando recursos para um
fundo, administrado por um órgão
gestor. “Será um órgão
multilateral, composto pelos estados da Amazônia,
o governo federal, setor ambientalista, movimentos
sociais e setor empresarial”, afirmou. “É
possível comprovar o quanto foi reduzido
para a Amazônia como um todo, mas não
é viável para cada pequeno projeto.
Valorizar a floresta em pé é
a forma de salvar as florestas”, completou.
Segundo o diretor do SFB,
a proposta nesse sentido ainda está
sendo montada e será apresentada na
conferência mundial sobre o clima, que
acontece em dezembro, na Ilha de Bali, na
Indonésia, quando será traçado
um novo plano internacional para a redução
de emissões de carbono depois de 2012,
quando expira o Protocolo de Quioto.
Sobre o desmatamento na
floresta, Azevedo afirmou que a maior preocupação
é a pressão exercida pela pecuária,
muito mais do que as lavouras de soja ou o
possível avanço da cana-de-açúcar.
“O Brasil tem hoje 200 milhões de hectares
de pastagem e 60 milhões de área
agrícola. Mas só tem pecuária
enquanto as pessoas acharem que a floresta
não tem mais valor que a criação
de gado, o que torna importante o incentivo
de atividades que mantenham a floresta em
pé.”
Uma das formas que permitem
a produção de créditos
de carbono com a manutenção
da floresta (também chamado de estoque
de carbono) é a utilização
sustentável da madeira. “Você
tira uma árvore e a transforma em um
móvel. O espaço que aquela árvore
ocupava na floresta vai ser novamente ocupado
por carbono. Ou seja, eu tenho o carbono que
voltou para a floresta e mais o do móvel
produzido”, explicou.
Azevedo participou da Conferência
Rio + 15, que buscou analisar os avanços
no setor, 15 anos depois do encontro internacional
Rio-92.
Está aberta até
amanhã (21), no site do Serviço
Florestal Brasileiro, consulta pública
para o manejo sustentável de florestas.
+ Mais
Justiça social é
melhor arma contra degradação
do planeta, afirma Lula na ONU
25 de Setembro de 2007 -
Carolina Pimentel - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - Ao discursar na
abertura da 62ª Assembléia-Geral
da Organização das Nações
Unidas (ONU), em Nova York, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva defendeu que somente
será possível reduzir a destruição
dos recursos naturais do planeta se a desigualdade
entre os países ricos e pobres também
for diminuída.
“O mundo, porém,
não modificará sua relação
irresponsável com a natureza sem modificar
a natureza das relações entre
o desenvolvimento e a justiça social.
Se queremos salvar o patrimônio comum,
impõe-se uma nova e mais equilibrada
repartição das riquezas, tanto
no interior de cada país como na esfera
internacional. A equidade social é
a melhor arma contra a degradação
do planeta”, afirmou para líderes de
150 países.
Lula citou o programa Fome
Zero um avanço brasileiro na área.
Ele destacou que o país conseguiu cumprir,
com dez anos de antecedência, a Meta
do Milênio, estabelecida pela ONU, de
reduzir pela metade a pobreza extrema. "Honramos
o compromisso do programa Fome Zero ao erradicar
esse tormento da vida de mais de 45 milhões
de pessoas", disse.
"É inviável
uma sociedade global marcada pela crescente
disparidade de renda. Não haverá
paz duradoura sem a progressiva redução
das desigualdades", completou, lembrando
que, em 2004, foi lançada ação
global de combate à fome e pobreza,
que permitiu a criação da central
internacional de medicamentos. Conforme Lula,
a central conseguiu reduzir em até
45% o preço de remédios contra
a malária e tuberculose, destinados
aos países pobres.
O presidente também
citou ações do governo brasileiro
para a preservação dos recursos
naturais, como a queda do desmatamento na
Amazônia e o uso de álcool combustível
(etanol), que, segundo ele, evitou o lançamento
de 644 milhões de toneladas de gás
carbônico na atmosfera nos últimos
30 anos. Lula voltou a rechaçar as
críticas de que o plantio de cana-de-açúcar,
matéria-prima do etanol, coloque em
risco a produção de alimentos.
“A cana-de-açúcar
ocupa apenas 1% de nossas terras agricultáveis,
com crescentes índices de produtividade.
O problema de fome no planeta não decorre
da falta de alimentos, mas da falta de renda.
É plenamente possível combinar
biocombustíveis, preservação
ambiental e produção de alimentos”,
disse.
Lula aproveitou a assembléia
para convidar as lideranças a participarem
da conferência internacional sobre os
combustíveis alternativos que será
realizada em 2008, no Brasil.
+ Mais
Lula propõe na ONU
realização de conferência
ambiental 20 anos depois da Rio-92
25 de Setembro de 2007 -
Juliana Cézar Nunes - Enviada especial
- Nova York (EUA) - O presidente da República,
Luiz Inácio Lula da Silva, discursou
há pouco na abertura da Assembléia
Geral das Nações Unidas (ONU).
Ele defendeu ações urgentes
para o combate às mudanças climáticas
e propôs a realização,
em 2012, de uma nova conferência das
Nações Unidas com foco em meio
ambiente e desenvolvimento, a Rio+20.
"Precisamos avaliar
o caminho percorrido e estabelecer novas linhas
de atuação", destacou Lula.
"Se o modelo de desenvolvimento global
não for repensado, crescem os riscos
de uma catástrofe mundial e humana
sem precedentes."
O presidente ressaltou,
no entanto, que os países industrializados
precisam dar o exemplo imediatamente. "É
imprescindível que cumpram os compromissos
estabelecidos pelo Protocolo de Quioto. Necessitamos
de metas mais ambiciosas a partir de 2012.
E devemos agir com rigor para que se universalize
a adesão ao protocolo."
O protocolo, em vigor desde
2005, foi assinado por 175 países.
Os países industrializados que o assinam
se comprometem com metas de redução
de emissões de gases até 2012,
mas alguns dos principais poluidores, como
os Estados Unidos, não estão
entre os signatários.
Ainda no discurso, o presidente
Lula anunciou o lançamento do Plano
Nacional de Enfrentamento às Mudanças
Climáticas. Um dos pontos centrais,
disse, será a ampliação
do combate ao desmatamento e proteção
da Amazônia.
"O Brasil não
abdica, em nenhuma hipótese, de sua
soberania nem de suas responsabilidades na
Amazônia. Os êxitos recentes são
fruto da presença cada vez mais e mais
efetiva do Estado brasileiro na região."
+ Mais
Ex-ministro critica oposição
a metas de corte de gases para países
em desenvolvimento
20 de Setembro de 2007 -
Adriana Brendler - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O diplomata brasileiro
Luiz Felipe Lampreia criticou hoje (20) a
posição do governo federal contrária
à adoção de metas de
redução na emissão de
gases causadores do aquecimento global pelo
país.
Ao participar da Conferência
Internacional Rio + 15, promovida pela empresa
EcoSecurities no Rio de Janeiro para discutir
avanços e desafios no combate ao aquecimento
global 15 anos depois da Rio-92, Lampreia
afirmou que a posição brasileira
é a mesma de dez anos atrás,
e que hoje nenhum país pode se considerar
isolado do problema.
Ao falar com a imprensa,
o diplomata, que foi ministro das Relações
Exteriores no governo Fernando Henrique, lembrou
que o Brasil é o oitavo maior emissor
de gases de efeito estufa no mundo e defendeu
que por isso o país participe das negociações
sobre a adoção de limites para
as emissões.
“Cada um tem que ter uma
responsabilidade de acordo com o seu peso
nesta questão”, comentou. “Evidentemente,
que não fomos nós que começamos
[o aquecimento global], porque não
fomos nós que começamos a poluir,
a ter indústria, a ter automóveis
em massa e tudo o mais. Mas hoje em dia, apesar
da nossa excelente matriz energética,
somos um dos dez maiores poluidores do mundo,
por causa do desmatamento da Amazônia.”
Lampreia considerou “míope
e egoísta” a resistência do governo
brasileiro em assumir metas para reduzir a
emissão de gases do efeito estufa.
“É uma posição equivocada.
Tem que evoluir para ser mais pró-ativa,
mais participativa, não pode ser uma
posição passiva.” E acrescentou:
“Evidentemente não se trata de cumprir
o que for mandado, de fazer uma lição
de casa que outros prescrevem. É se
fazer o que for melhor para o Brasil, para
a sociedade brasileira, e com o apoio internacional.”
Ele destacou, no entanto,
que as regras para limitar as emissões
nos países devem ser estabelecidas
de acordo com as responsabilidades e capacidades
de cada nação e incluir o apoio
internacional.
Para Lampreia, as regras
para reduzir emissões de carbono devem
ser negociadas e não afetam a soberania
do país, porque em casos de interesses
humanos e não existe esse tipo de barreira.
“Todos os acordos internacionais são
uma limitação de soberania”,
argumentou. “Hoje em dia não existe
mais esse conceito de soberania nesses termos.
Para direitos humanos e assuntos globais não
existe essa barreira de soberania. Essa é
uma atitude autocrática antiga. Isso
não existe mais.”
Atualmente, o Protocolo
de Quioto, acordo internacional que estabelece
medidas para frear as emissões de gases
do efeito estufa no planeta, só prevê
metas de redução nas emissões
para os países signatários que
se industrializaram há mais tempo –
principais responsáveis pelo acúmulo
histórico de gás carbônico
na atmosfera, que pode levar a mudanças
climáticas globais. Pelo protocolo,
os países em desenvolvimento se comprometem
a melhorar os processos produtivos tornando-os
menos poluentes e com maior eficiência
energética, mas não estão
obrigados a cumprir metas de redução.