10/10/2007 - A Secretaria
do Meio Ambiente – SMA e a Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental – CETESB promoveram
nesta terça-feira (09/10), em sua sede,
em São Paulo, o seminário “Impactos
das Mudanças Climáticas nas
Metrópoles”. O evento reuniu pesquisadores
da USP, UNESP, UNICAMP, governos do Estado
e federal, além dos especialistas da
CETESB e da SMA, com o
objetivo de discutir os impactos das mudanças
climáticas, previstas nos últimos
relatórios do IPCC – Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas, nas
grandes metrópoles do mundo.
O seminário contou,
em sua abertura, com as presenças do
secretário-adjunto da SMA, Pedro Ubiratan,
do secretário-executivo do Fórum
Paulista de Mudanças Climáticas
Globais e Biodiversidade, Fábio Feldmann,
e do presidente da CETESB, Fernando Rei, entre
outros.
Ubiratan ressaltou que o
assunto está na agenda ambiental do
planeta: “Em função da importância
da discussão sobre esse tema, está
havendo uma integração maior
entre os cientistas e os órgãos
públicos”. Já de acordo com
Feldmann, as políticas estadual e municipal
com relação às mudanças
climáticas têm representado um
apoio essencial para o trabalho das comunidades
científicas. E Fernando Rei lembrou
que em 1995 foi criado o Proclima – Programa
Estadual de Mudanças Climáticas
e produzido o primeiro inventário sobre
os gases de efeito estufa pelo Governo do
Estado. “A CETESB pretende continuar a ser
um agente de transformação.
É emergencial que as políticas
públicas mais a academia estejam juntas
no enfrentamento dessas grandes questões”.
Na parte da manhã,
as palestras foram com o tema “Mudanças
Climáticas nas áreas urbanas
e qualidade de vida”, proferida pela professora
Magda Adelaide Lombardo , do Programa de Pós-Graduação
em Geografia da UNESP de Rio Claro. Ela enfatizou,
entre outras coisas, que “é necessária
uma mudança de atitude e de comportamento,
para mudarmos a realidade”. Outros palestrantes
foram Edmilson Dias de Freitas , do Departamento
de Ciências Atmosféricas do Instituto
de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da USP, que discorreu
sobre “mudanças climáticas no
planeta”; Wagner Ribeiro, do Departamento
de Geografia e do Programa de Ciência
Ambiental da USP, que falou sobre "Adaptação
às mudanças climáticas
na Região Metropolitana de São
Paulo"; e Luci Hidalgo Nunes, do Departamento
de Geografia do Instituto de Geociência
da UNICAMP, que palestrou sobre "Mudanças
ambientais, desastres e repercussões
no meio ambiente".
A reunião teve o
apoio do Instituto de Estudos Avançados
da USP, do Centro de Análise e Planejameno
Ambiental do Instituto de Geociências
e Ciências Exatas da UNESP de Rio Claro,
do Programa de Pós-Graduação
em Geografia do Instituto de Geociências
e Ciências Exatas da UNESP de Rio Claro
e do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Ambiental da USP.
Momento único na
história
Na parte da tarde, os trabalhos
foram abertos por Daniel Hogan, membro do
Núcleo de Estudos de População
- NEPO, da UNICAMP – Universidade de Campinas,
que abordou o tema “Dimensão Humana
das Mudanças Climáticas Globais”.
“Vivemos um momento único na história
da humanidade, pois segundo a ONU (Organização
das Nações Unidas), pela primeira
vez a maioria da população mundial
é urbana. Isso é uma desvantagem
para as cidades que já estão
construídas, pois precisarão
se adequar para minimizar os efeitos das Mudanças
Ambiental Globais - MAG. Já para as
cidades que estão em evolução,
existe a possibilidade de planejar seu crescimento
sob a ótica das mudanças climáticas”,
considerou Hogan. Com base nos estudos que
vem desenvolvendo há dez anos para
mostrar as ações humanas que
contribuem para as mudanças climáticas,
Hogan afirma que a América Central
e o sul da Ásia, são as regiões
que sofrerão maiores impactos decorrentes
destas mudanças.
Dentre os inúmeros
aspectos de contribuição decorrentes
dos processos urbanos, a pergunta síntese
que os cientistas tentam responder é:
Como os resultados das interações
dentro do sistema urbano modificam os impactos
sobre os componentes das mudanças ambientais
globais.
Para equacionar essa questão
a equipe do NEPO estuda, entre outros, temas
como padrão de consumo e estilo de
vida; uso da terra; como os padrões
urbanos afetam as MAG; como as MAG afetam
o ambiente urbano; e como as MAG afetam a
base de recursos naturais urbanos.
O tema Transporte e Mudanças
Climáticas, foi apresentado por João
Wagner Silva Alves, gerente da Divisão
de Questões Globais da CETESB. Alves
explicou ao público a diferença
entre os poluentes emitidos pelos carros e
os gases de efeito estufa, ressaltando que
é preciso ter cuidado para não
confundí-los.
“O Inventário Nacional
de Emissões apontou que 75% das emissões
nacionais são decorrentes de desmatamentos,
enquanto no estado de São Paulo 78%
das emissões são provenientes
dos meios de transporte. Mas qual o transporte
desejado?” questiona Alves.
Como os demais cientistas
que participaram do evento, Alves considera
que o estilo de vida de muitas pessoas está
associado ao tipo de veículo que possui.
“Logo, a propriedade deste meio de transporte
acaba virando um bem, que extrapola a sua
função básica” concluiu.
Na lista dos meios de transporte
disponíveis, o mais poluentes é
o avião, melhor seria usar o trem.
Para Alves, o cenário
atual aponta para o crescimento populacional
descontrolado, com pouco investimento em tecnologia.
Um cenário desejável seria o
de um consenso mundial que englobasse planejamento
familiar, exigências ambientais e elevado
desenvolvimento tecnológico, voltado
para a redução significativa
das emissões.
Resíduos Sólidos
e Saneamento: Mudanças Climáticas
e as Metrópoles”, foi outro tema do
evento, apresentado por Josilene Ticianelli
Vannuzini Ferrer, Secretária Executiva
do Programa de Mudanças Climáticas
da CETESB. “Os principais documento produzidos
pela ECO92 foram a Agenda XXI, a Convenção
do Clima e a Convenção da Biodiversidade.
O capítulo 21 da Agenda – diz respeito
a minimização dos resíduos
e nesse tópico podemos afirmar que
é perceptível o progresso e
a eficácia das ações
da CETESB no Estado, que desde 1997 inventaria
as ações de ajustamento de conduta
dos municípios” destacou Ferrer.
Conforme Inventário
Brasileiro de Emissão por Atividade,
84% da emissão de gás metano
vem dos resíduos sólidos, 11%
de efluentes industriais e 5% dos esgotos
domésticos. “A recuperação
e uso energético do biogás,
a partir da captação do metano
gerado nos aterros, é uma oportunidade
de negócio que está surgindo
e tem despertado muito interesse por suas
vantagens econômicas. 25% dos projetos
de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo)
que estão em andamento no Brasil, são
de São Paulo e estão ligados
ao tema “resíduos”. Já dos 2.319
projetos de MDL aprovados no mundo, 30% são
relacionados a captação de metano,
onde o Brasil aparece em terceiro lugar, com
10% dos projetos” complementou Ferrer.
Para falar das Mudanças
Climáticas e a Saúde Humana,
o convidado foi o professor Paulo Saldiva,
da Faculdade de Saúde Pública
da USP – Universidade de São Paulo.
“Acho que a forma mais rápida de provocarmos
mudanças de hábito, vai ser
a divulgação de que nós
morreremos mais cedo. Enquanto falarmos de
urso polar, as ações serão
distantes” começou Saldiva.
Vários estudos apontam
a relação direta entre aumento
de poluição e aumento de mortes
por problemas de insuficiência cardíaca,
derrame do miocardio e enfarto. Para pessoas
menos susceptíveis os efeitos podem
não ser tão drásticos,
mas o desconforto é geral.
“Em conseqüência
das mudanças climáticas, milhões
morrerão de fome e isso já ocorre
pela desertificação de savanas,
mudanças de períodos de chuvas,
o que levará a migração
e prováveis guerras tribais na África.
O aquecimento global proporciona condições
climáticas que favorecem a reprodução
de vetores, por isso diversas doenças
como a dengue e a malária, estão
cada vez mais difíceis de se controlar”
explicou Saldiva.
Nos últimos dez anos
a população de São Paulo
aumentou 12%, enquanto a frota veicular aumentou
70%, continua o professor, “apesar do velocímetro
dos carros marcarem até 250 km/h, esse
poder não é exeqüível
e a média de velocidade dos veículos
em São Paulo é de 15 km/h, exatamente
a mesma desenvolvida pelas tropas de burros
que atravessavam a cidade para ir à
Santos, no passado”.
Algumas decorrências das mudanças
climáticas apontadas por Saldiva vão
desde alterações reprodutivas,
aumento de alergias, alagamentos, até
o surgimento de novos vírus e doenças.
Todas as palestras apresentadas
no seminário estarão disponíveis,
dentro de duas semanas, no site www.cetesb.sp.gov.br
, na página Mudanças Climáticas
/ Proclima.
Texto: Rosely Ferreira Martin / Cris Olivette
Foto: Pedro Calado