13 de Outubro de 2007
- Paula Laboissière - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- O Prêmio Nobel da Paz, divulgado esta
semana, destacou o trabalho do ex-vice-presidente
dos Estados Unidos, Al Gore, e dos cientistas
do Painel Intergovernamental sobre Mudança
do Clima (IPCC) da Organização
das Nações Unidas (ONU). Formado
por cerca de 3 mil pesquisadores de diversos
países, o painel possui nove representantes
de instituições sediadas no
Brasil.
O pesquisador titular do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) Carlos Nobre faz parte desse grupo.
"Participamos diretamente da elaboração
do relatório sobre mudanças
climáticas divulgado este ano",
lembra Nobre, para quem o trabalho no Brasil
teve um retorno imediato e um efeito multiplicador.
"O grau de consciência
da população sobre essa questão
das mudanças climáticas hoje
é muito maior do que há alguns
anos e muito disso tem a ver com o trabalho
do painel. É isso que tem ajudado a
dar credibilidade ao fato de que as mudanças
climáticas são algo real, preocupante.”
Para o pesquisador do Inpe,
formado em Engenharia Eletrônica pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA) e doutor em Meteorologia, o Brasil ainda
reluta em tomar medidas na área de
adaptação às mudanças
climáticas. Essas medidas aumentariam
a capacidade das populações
mais vulneráveis de conviver com um
clima diferente e a sobreviver aos desastres
naturais, como secas prolongadas e inundações.
"É mais tarde
do que nós imaginávamos. Em
outras palavras, as mudanças climáticas
já se tornaram irreversíveis
numa grande medida", alerta Nobre. "É
obrigatório que todos os países,
principalmente os países em desenvolvimento,
tenham uma agenda muito forte em adaptação
à mudanças climáticas.
E essa agenda política de adaptação
o Brasil demorou muito mais. Ainda reluta
um pouco, mas, finalmente, fala desse assunto.”
No que diz respeito à
redução nas emissores dos gases
causadores do efeito estufa, o pesquisador
do Inpe acredita que o Brasil pode assumir
a posição de país mais
"limpo" do mundo. Para isso, bastaria
reduzir os desmatamentos na Amazônia
e no Cerrado a índices próximos
a zero.
"O Brasil é
um dos poucos países que estão
numa posição única, que
são os países que tem muita
eletricidade que vem da água, das hidrelétricas.
Tem o maior programa de combustíveis
renováveis do planeta, que é
o etanol", destaca Carlos Nobre.
O cientista também
atua na Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes)
e preside o Comitê Científico
do International Geosphere-Biosphere Programme
(IGBP). "Estamos numa situação
invejável de se tornar o país
mais limpo do mundo. E certamente, um modelo
ao mundo em desenvolvimento de aproveitamento
de energias renováveis.”