2 de Novembro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - Inaugurada
no final da década de 80, a Usina Hidrelétrica
de Balbina, no Amazonas,
é citada como um erro histórico
por cientistas e gestores pela baixa geração
em relação à área
alagada, e pelas conseqüências
disso. Balbina é apontada como problemática
também no que diz respeito à
emissão de gases de efeito estufa,
considerados causadores do aquecimento global.
A liberação de dióxido
de carbono e metano é superior à
de uma usina térmica de mesmo potencial
energético.
“O índice de emissão
de Balbina é dez vezes maior que o
de uma termelétrica a carvão.
Ela emite 3 toneladas de carbono por megawatt-hora;
em uma térmica esse índice é
de 0,3 tonelada de carbono por megawatt-hora”,
compara Alexandre Kemenes, pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa). Os valores de carbono consideram tanto
o dióxido de carbono (CO2) quanto o
metano (CH4).
Segundo Kemenes, que durante
quatro anos estudou as emissões na
represa e a jusante dela (rio abaixo), os
altos níveis de gases do efeito estufa
da usina podem ser explicados por três
motivos principais: a grande área do
reservatório, o não-desmatamento
da área antes do alagamento e a estabilidade
climática da região amazônica
– que cria extratos de diferentes temperaturas
na água, com diferentes concentrações
de gases. “Em Balbina, só 8% da área
total [da represa] foi desmatada. Antes e
ser alagada, a floresta estava absorvendo
carbono, depois, morreu. Além de deixar
de absorver, passou a emitir carbono. O problema
é duplo”, comenta.
Balbina é responsável
por 3 milhões de toneladas de carbono
por ano, segundo o pesquisador. O diretor
da Coordenação dos Programas
de Pós-graduação de Engenharia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Coppe/UFRJ) questiona os números e
afirma que Kemenes errou na metodologia, o
que extrapolou os dados. “Ele errou porque
pegou metano do lugar errado, muito fundo”,
pondera. Kemenes oletou metano ao longo do
rio, cerca de 30 metros. Para Pinguelli, o
correto seria captar entre 15 e 30 metros.
Como a concentração do gás
aumenta com a profundidade, os resultados
teriam sido superestimados.
“Não há consenso.
Eles estão questionando, mas também
não certeza; não têm trabalhos
sobre isso”, esponde Kemenes. Apesar das divergências
numéricas, estudos da Coppe também
confirmam que Balbina emite mais gases de
efeito estufa que uma termelétrica.
Na avaliação
do presidente da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), Maurício Tolmasquim, a usina
é um aso isolado no cenário
energético brasileiro. “Balbina é
só uma exceção que confirma
a regra. Não pode ser tomada como referência
para se supor que hidrelétricas emitam
gás metano de maneira significativa”.
De acordo com o relatório
Emissões de Dióxido de Carbono
e de Metano pelos Reservatórios Hidrelétricos
Brasileiros, da Comissão Interministerial
de Mudança Global do Clima, além
de Balbina, outras duas idrelétricas
brasileiras, Samuel (RO) e Três Marias
(MG), têm emissões maiores que
termelétricas de mesmo potencial.
Com um lago de 2.360 quilômetros
quadrados, o potencial energético da
usina é de 250 megawatts. Com uma área
semelhante, a Hidrelétrica de Tucuruí,
também na Amazônia, produz cerca
de 4.240 megawatts, por exemplo. “Balbina
é a pior usina brasileira”, avalia
o professor Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe.
+ Mais
Brasil não corre
o risco de “novas Balbinas” na energia, avalia
presidente de estatal
2 de Novembro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - Para
o presidente da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE, estatal responsável por estudos
para o setor de energia), Maurício
Tolmasquim, as novas usinas hidrelétricas
previstas para o país – 92 estão
listadas no Programa da Aceleração
do Crescimento (PAC) – não correm o
risco de repetir os problemas da Usina Hidrelétrica
de Balbina, no Amazonas, que além de
baixo potencial energético, emite grandes
quantidades de gases de efeito estufa.
O relatório Emissões
de Dióxido de Carbono e de Metano pelos
Reservatórios Hidrelétricos
Brasileiros, aponta que “o risco de emissões
de gases dos efeitos estufa [em hidrelétricas]
pode ser reduzido: evitando-se a baixa densidade
de potência na escolha dos reservatórios
(watts/metro) e desmatando-se o reservatório
antes da inundação”.
De acordo com o presidente
da estatal, a preocupação com
influência nas mudanças climáticas
é levada em conta nos projetos, e novas
hidrelétricas, como as de Santo Antônio
e Jirau, no Rio Madeira (RO) não correm
o risco de se tornarem “novas Balbinas”. “Para
cada megawatt gerado nas usinas do Madeira
será alagado apenas 0,08 quilômetro
quadrado [em Balbina, a área alagada
é de 0,57 para cada megawatt]. Além
disso, não implicará submersão
de vegetação”, afirma.
Apesar de concordar com
o prognóstico, o diretor da Coordenação
dos Programas de Pós-graduação
de Engenharia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (Coppe/UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa,
avalia que “a questão das emissões
tem que ser tratada [pelo governo] com maior
relevância ao se pensar em novas usinas”.
Para Pinguelli, investir
em hidrelétricas ainda é a solução
energética mais viável para
o país, “desde que sejam tomados cuidados
para não repetir erros”. Ele exemplifica
com um deles: “Ao decidir a usina, deve-se
levar em conta que área vai ser inundada
e a biomassa já existente”.
“As hidrelétricas
são uma ótima forma de obtenção
de energia, mas tem que ser bem pensadas”,
comenta o pesquisador do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Alexandre
Kemenes. “Têm que ser feitas de forma
racional, com geração de energia
ambientalmente viável.”