Panorama
 
 
 

CONFERÊNCIA SOBRE BIODIVERSIDADE EM TRONDHEIM, APROXIMA BRASIL E NORUEGA

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Novembro de 2007

05/11/2007 - O tema central da 5ª Conferência de Trondheim, na Noruega, foi a relação entre a biodiversidade, os serviços ambientais e as pessoas. O desafio colocado aos participantes é o de cumprir as metas de reduzir a perda da biodiversidade até 2010, compromisso firmado durante a Rio-92 e expresso na Convenção da Diversidade Biológica (CDB).

Trondheim - Duzentos e vinte e oito cientistas, delegados de governos, e representantes de ONGs e de comunidades, de 75 países, participaram da 5ª Conferência de Trondheim, Noruega, entre 29 de outubro e 2 de novembro. O evento é promovido pelo governo e instituições norueguesas e pela ONU por meio do Programa para o Meio Ambiente (Pnuma) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). . O tema central foi a relação entre a biodiversidade, os serviços ambientais e as pessoas, e os desafios para cumprir as metas de redução da perda de biodiversidade até 2010. Esse foi o compromisso assumido pelos países que assinaram a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) durante a Rio-92, em junho de 1992 e também está expresso no documento Objetivos do Milênio.

O papel da biodiversidade no desenvolvimento não poderia ser tema mais oportuno, tendo em vista a recente opção do governo da Noruega por unir as pastas de Desenvolvimento e Meio Ambiente sob o comando do “super ministro” Erik Solheim, que encerrou a conferência. Trondheim, no noroeste da Noruega, é, desde 1993, palco para o diálogo construtivo e aberto sobre os temas da agenda internacional da Biodiversidade.

Marina Silva abriu a conferência com verso

A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Mrina Silva, que é secretária da Conferência das Partes (COP) da CDB até sua próxima edição, em março, na Alemanha, abriu os trabalhos em Trondheim. “Não é preciso abrir um caminho novo, basta uma nova maneira de caminhar”, disse ela, lembrando verso do poeta amazonense Thiago de Mello. A ministra falou sobre a implementação da CDB e apresentou os avanços do Brasil quanto ao desenvolvimento sustentável. Seu discurso valorizou as iniciativas em curso apostando na coordenação de esforços e diálogos entre setores e níveis de cooperação (com destaque para parcerias Sul-Sul no âmbito da redução de emissões de carbono, no qual o Brasil não pretende predominar, mas quer ver outros países ativos).

Marina Silva ressaltou que na COP-8, realizada em 2006, em Curitiba, ficou claro que as responsabilidades comuns porém diferenciadas entre países ricos e em desenvolvimento em relação à CDB precisam ser reforçadas. Em especial quanto à implementação do terceiro objetivo da CBD, a repartição de benefícios justos, resultantes do acesso a recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados.

De acordo com a ministra, houve poucos avanços após 13 anos de assinatura da Convenção e é baixo o índice de implementação dos 3 pontos relativos à valorização da biodiversidade, a saber: proteção; uso sustentável e repartição de benefícios. Falta vigor político e consenso, em especial dos países ricos. E apontou a adoção de um regime internacional de repartição de benefícios.

Ênfase na transversalidade entre setores do governo

Sobre a agenda de desenvolvimento sustentável no Brasil, Marina Silva enfatizou que a internalização das políticas ambientais nas ações setoriais de todos os agentes governamentais tem sido o fio condutor do atual governo, com destaque para a política de redução do desmatamento, antes tratada como mera questão ambiental e agora um assunto de todo o governo. Disse também que é preciso corrigir a idéia disseminada por algumas pessoas, em especial do campo das discussões sobre mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, de que o desmatamento é um desafio de baixo custo e complexidade. Segundo ela, a redução requer mudanças fundamentais no modelo econômico de alguns países em desenvolvimento. A ministra informou que seu ministério está atacando as causas do desmatamento, para além da política de comando e controle, num esforço multisetorial que já conseguiu reduzir pela metade os índices de desmatamento nos últimos 2 anos.

Porém o desafio agora é articular essas ações com os desafios das mudanças climáticas, em especial prover incentivos para que os países em desenvolvimento reduzam suas emissões de carbono, e isso não pode ser isolado, por exemplo, de questões como o funcionamento do mercado internacional de produtos baseados em recursos naturais/florestais.

Ao se referir à escalada tarifária aplicada a produtos com maior valor agregado na origem, no âmbito do comércio internacional, a ministra causou algum desconforto entre os presentes, pois acredita que essa política, ao mesmo tempo em que fomenta a geração de empregos e de renda nos países ricos, condena os países pobres ao subemprego e à exploração desenfreada dos recursos biológicos. Mas o desconforto foi logo superado por represetantes do Pnuma que propuseram seu nome para Prêmio Nobel da Paz.

Redução do desmatamento e valorização da floresta

No segundo dia do encontro, a coordenadora do Programa Amazônia do ISA, Adriana Ramos, fez sua apresentação sobre o papel da biodiversidade no desenvolvimento da região amazônica. Ela enfatizou os trade-offs do desmatamento na região, com foco no fato de que desmatamento combina com desigualdade social e violência, conforme o ciclo de “boom-colapso” onde os benefícios iniciais do avanço da fronteira econômica (renda e emprego) não se sustentam no tempo e não há melhora na qualidade de vida da população. Somam-se a esse modelo precário de desenvolvimento em curso, os grandes projetos de infra-estrutura propostos por meio da IIRSA (Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Latinoamericana), e também o fato de a biodiversidade não ser um ativo valorizado.

A coordenadora do ISA defendeu que para demonstrar preocupação com a conservação da biodiversidade, devemos zerar o desmatamento nos próximos anos e também considerar as perspectívas indígenas de desenvolvimento, tendo em vista que são essas populações as responsáveis pela manutenção da floresta e da biodiversidade há milhares de anos.

Adriana Ramos aproveitou para apresentar a proposta do Pacto Pela Valorixzação da Floresta e Pela Redução do Desmatamento,, - iniciativa pioneira de nove organizações da sociedade civil, para redução total do desmatamento até 2015, fundamentada em estudos econômicos e na articulação com instrumentos de política pública. Saiba mais.

Para finalizar, Adriana Ramos reforçou que a repartição de benefícios da biodiversidade deve se dar em relação a todos os benefícios dela advindos e dos serviços ambientais por ela prestados e não apenas dos recursos financeiros obtidos com seu uso.

A Conferência ocorreu em momento favorável às aproximações entre os governos do Brasil e da Noruega. De Trondheim, a comitiva do Ministério do Meio Ambiente brasileiro seguiu para Oslo, onde a ministra Marina se encontrou com o Ministro do Desenvolvimento, Cooperação Internacional e do Meio Ambiente, Erik Solheim. No dia 30 de outubro os dois países assinaram acordo de cooperação no valor de 10 milhões de dólares, voltado ao combate ao desmatamento nos estados brasileiros e à implementação de reservas extrativistas (Resex).

Tal encontro parece ter inspirado o ministro Solheim, que ao encerrar a conferência de Trondheim, em 2 de novembro, exaltou a trajetória pessoal de Marina Silva como símbolo contemporâneo máximo da síntese sociaombiental, e enfatizou que o Brasil, apesar de sua condição atual de campeão de desmatamento, deve ser lembrado também por ter mantido praticamente intacta sua reserva de florestas através dos anos. “O Brasil é um país importante nas negociações sobre o clima, e poderá ter um papel central para que os países em desenvolvimento aceitem um acordo após 2012”, disse.
ISA, Natalie Unterstell.

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Fórum pela Amazônia Sustentável é lançado em Belém

07/11/2007 - A iniciativa é de instituições, empresas e organizações da sociedade civil, entre elas o Instituto Socioambiental e o Instituto Ethos e pretende mobilizar os brasileiros para a discussão e a implementação de políticas que promovam o desenvolvimento sustentável e a inclusão social na região amazônica.

Ícone mundial da diversidade socioambiental, a Amazônia abriga a maior bacia hidrográfica e a maior floresta tropical do mundo, além de significativa diversidade de povos nativos e outras populações, distribuídas em nove países. É uma das regiões mais preservadas do planeta, onde se encontram ativos da biodiversidade e recursos hídricos determinantes na regulação climática global.

Apesar disso, a Amazônia vem sendo historicamente ameaçada por múltiplas formas de exploração predatória. O desmatamento já atingiu 17% da região, sendo que aproximadamente 20% dessa área encontra-se degradada e abandonada. Esse processo, entretanto, não se converteu em benefícios reais e duradouros nem para a população da região, nem para o país. A grilagem de terras, o trabalho escravo, o desmatamento e as atividades agrícolas predatórias são faces da mesma ilegalidade que devem ser combatidas e erradicadas com esforço de toda a sociedade brasileira e internacional.

A sociedade civil organizada do Brasil há muito vem se mobilizando para proteger a riqueza da região, buscando maneiras de manejo sustentável que garanta a integridade do bioma e justiça social para as populações tradicionais. As iniciativas conseguiram formar e ampliar uma consciência a respeito dos problemas e do potencial da Amazônia. Agora, é preciso dar um passo além e congregar estes esforços em um espaço amplo, democrático, intersetorial e suprapartidário que permita o debate de dilemas, a construção de agendas comuns e o estabelecimento de compromissos mínimos para frear a ocupação predatória e dar lugar ao desenvolvimento sustentável com inclusão social, respeito ao meio ambiente e crescimento econômico. É neste contexto que se insere o Fórum pela Amazônis Sustentável -FAS.

Para cumprir este objetivo integrador, o FAS pretende, entre outras atividades, promover o diálogo entre as diversas entidades que já atuam na região; propor políticas públicas baseadas nas premissas do desenvolvimento sustentável; monitorar indicadores de sustentabilidade; fomentar o diálogo entre organizações de todos os países que possuam território no bioma amazônico; e incentivar negócios sustentáveis e empreendimentos inovadores.

Entre os dias 5 e 7, lideranças locais e nacionais se reúnem para finalizar a Carta de Princípios, decidir o modo de funcionamento e estabelecer um plano de trabalho do Forum. No dia 8, quinta-feira, haverá o lançamento público com a presença da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, demais governadores e autoridades da região, bem como empresários, representantes de diversos movimentos sociais e público interessado.

O evento é organizado pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social, ISA- Instituto Socioambiental, Fundação Avina, Fundação Vale do Rio Doce, Foirn- Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, GTA- Grupo de Trabalho da Amazônia, Fundação Avina, PSA- Projeto Saúde e Alegria, o Imazon- Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, BASA – Banco da Amazônia e Grupo Orsa.

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Davi Kopenawa é ameaçado de morte por fazendeiro em Roraima

09/11/2007 - O líder Yanomami Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), enviou carta ao Procurador Geral da República de Roraima, Antonio Morimoto, pedindo proteção e garantias de vida diante de ameaça que teria sido feita por fazendeiro da região de Ajarani, que se localiza na Terra Indígena Yanomami

Uma das mais importantes lideranças do povo Yanomami, Davi Kopenawa, está sob ameaça. Por conta da denúncia, feita por padre Laurindo, da Missão Catrimani (RR), Davi kopenawa encaminhou, ontem (8/11), carta ao Procurador Geral da República, em Roraima, pedindo investigação e garantias de vida. Leia abaixo a íntegra do documento.

Oficio nº. 072/2007.

Boa Vista-RR, 08 de novembro de 2007

Assunto: Denúncia de ameaça de morte a liderança Davi Kopenawa Yanomami

Ao Sr. Antônio Morimoto

Procurador Geral da República – MPF/RR

Vimos comunicar a Vossa Senhoria, que durante período de 19 a 24 de outubro de 2007 realizamos Assembléia Regional Yanomami na Missão Catrimani, com a participação de representantes do: Ministério Público Federal, Funai Nacional e coordenação regional, Ibama, Instituto Chico Mendes, Secretaria Estadual de Educação, Diocese de Roraima, Conselho Indígena de Roraima, CCPY e aproximadamente oitenta representantes de 19 comunidades Yanomami.

Nesta ocasião discutimos vários assuntos do interesse do Povo Yanomami como: Educação, Saúde, Mineração, Proteção da Terra Indígena Yanomami, Organização Indígena Yanomami entre outros. Durante a Assembléia o Padre Laurindo, coordenador da Missão Catrimani fez a seguinte denuncia: "... os Yanomami que estão aqui são fortes contra fazendeiros, mas em Ajarani eles não querem nem vir para assembléia Geral Yanomami, eles estão entre os fazendeiros e tem que se defender, inclusive fazendo aliança, os fazendeiros dão comida, sal, açúcar, leite. Para os Yanomami ele é muito amigo do Emílio Paludo e ele disse que tem foto, ele disse que se a Funai tirar ele da área ele irá matar o Davi Kopenawa Yanomami, o Padre Laurindo e o Gonçalo Teixeira ..." .

Diante desta denúncia, vimos solicitar que sejam tomadas as devidas providencias para averiguar a ameaça e caso necessário seja providenciado proteção ao líder Davi Kopenawa Yanomami. Aproveitamos para comunicar que no período de 22/11 a 03/12 será realizada uma Assembléia Regional no Ajarani, região da Terra Indígena Yanomami que se encontra invadida pelo fazendeiro que teria ameaçado a liderança Yanomami, por isso solicitamos a proteção da Polícia Federal durante esta atividade. Sem mais agradecemos o apoio.

Atenciosamente,

DAVI KOPENAWA YANOMAMI
Presidente da HAY

Sobre a região de Ajarani

Em abril deste ano, em entrevista ao boletim da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), Davi, que estava participando do Abril Indígena, em Brasília, se referiu à invasão de fazendeiros na região: “Falei também dos fazendeiros da região do Ajarani (dentro da terra indígena). Isso já está na justiça, só estamos esperando que a Funai vá lá tirar. O presidente da Funai já sabe, não podem ficar lá, a terra está homologada e eles não podem ficar por lá”.

Os Yawaripé, subgrupo Yanomami, sempre viveram nessa região. Pressionados pela construção da rodovia Perimetral Norte, na década de 1970, e por seguidas invasões de suas terras, muitos morreram de doenças e tiveram seu modo de vida tradicional desestruturado. Até mesmo um distrito agropecuário foi criado pelo Incra em suas terras, em 1977. Os índios resistiram e passaram a disputar a posse da terra e dos recursos naturais com os intrusos que continuaram na área, ampliaram as benfeitorias e reivindicaram a propriedade da terra, ignorando a demarcação (1991) e homologação (1992) da região, parte integrante da Terra Indígena Yanomami. Finalmente, em maio de 2004, a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal reconheceu que as terras região do Ajarani, no município de Caracaraí (RR), no extremo leste da Terra Indígena Yanomami, pertenciam aos Yawaripë. Essa área, também conhecida como Repartimento, vinha sendo reivindicada pelos fazendeiros Walter Miranda e seu filho, Walter Miranda Júnior, Miguel Schultz e Ermilo Paludo.

 
 

Fonte: ISA – Instituto Socioambiental (www.isa.org.br)
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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