30 de novembro - A arena
da praia do Bairro Novo, em Olinda (PE), onde
está sendo sediado o IX Jogos dos Povos
Indígenas atrai mais público
a cada dia. A cultura
indígena é alvo dos olhares
curiosos de toda a população
local, que diariamente comparece em grande
número. São 28 etnias presentes
que trouxeram consigo as marcas culturais
de suas comunidades, como seus costumes, a
língua, adereços, artesanatos,
rituais e danças típicas que
as caracterizam e diferem das demais.
O intercâmbio cultural
que está sendo promovido nestas cidades
- Recife e Olinda - é algo singular,
pois consegue trazer uma imensa variedade
cultural, gerando a interação
entre o público e os indígenas.
A disputa dos esportes tradicionais como canoagem,
arco e flecha, arremesso de lança,
corrida de tora e natação -
modalidades esportivas disputadas pelos indígenas
- conseguiram chamar a atenção
dos olindenses para conhecer a realidade do
indígena brasileiro. É um choque
cultural, no qual aprende-se a respeitar as
diferenças.
“Os brancos devem conhecer
nossa cultura para nos defender”, afirmou
Paulo Domingos Xavante, que diz ser esta uma
boa experiência para seu grupo apresentar
as práticas tradicionais e fomentar
a cultura. Ele conta que com esse contato
está podendo transmitir aos não-indígenas
a importância do índio, além
de aprender com seus parentes (índios)
mais experientes. “Vamos mostrar nossas habilidades
como o arco e flecha e aprender um pouco mais
a dos brancos, como o futebol”. Ressaltou
o guerreiro Karuaiwá Kuikuro, ganhador
da prova de arco e flecha.
A programação
dos jogos é incrementada com apresentações
de esportes típicos desses povos e
conta ainda com demonstrações
de corrida de tora, Jikunahiti, Kaipy, Hipipi
e lutas corporais, além de apresentações
artísticas. “Vamos mostrar no esporte
as nossas diferentes culturas”, resume Reginaldo
Bakairi.
Além das expectativas
Torna-se nítida a
importância desses jogos para a população
local e principalmente para os indígenas,
que foram acolhidos de forma fervorosa. “Estamos
num momento de troca muito grande e só
temos a ganhar. Não há do que
reclamar porque para gente está sendo
tudo bom” resume Aristidis Rickbatsa, que
veio ao estado de Pernambuco, acompanhado
de sua família, não somente
a fim de participar dos Jogos, mas para comercializar
o artesanato confeccionado na aldeia.
Para muitos indígenas
a venda de artesanato é a fonte de
renda e subsistência de sua comunidade.
São expressões artísticas
que simbolizam a cultura material e imaterial,
pois as peças agregam significados
rituais, únicos e possuem características
do seu povo.
O público de Olinda
tem comparecido gradativamente ao espaço
destinado ao artesanato. Há bastante
procura por utensílios indígenas,
de forma que algumas etnias já não
possuem mais artesanato para a venda, que
vão desde arco e flechas à bancos
de madeira, esteiras, colares e outros adereços.
Provas de natação
e canoagem são atração
na manhã de quinta nos Jogos dos Povos
Indígenas
30 de novembro - O sol apareceu
com força na manhã da quinta-feira
(29), como um convite para a realização
das provas de natação e canoagem
na arena dos Jogos Indígenas, em Olinda.
Os índios Xavante, rigorosos em suas
tradições, foram os primeiros
a entrar no mar, mas não para competir.
Nove integrantes da etnia realizaram a cerimônia
de purificação da água,
que normalmente é feita durante 30
dias na aldeia, antes da furação
de orelha, demonstrada na areia da praia.
A furação
de orelha representa a passagem dos jovens
à maioridade. Jeremias Xavante destacou
que os rapazes não podem ter relações
sexuais até que passem pelo rito. “A
partir desse momento eles estão totalmente
liberados”, explica o líder Xavante.
Os furos são feitos com osso de onça
parda, animal típico do Mato Grosso,
onde vivem. O sangue das orelhas é
armazenado pelo “furador” com a boca, para
que seja despejado fora da aldeia.
Disputada nas categorias
masculina e feminina, a prova de natação
atraiu a população local à
beira da praia do Bairro Novo. Agora bicampeã
na modalidade, Pahamre, da etnia Gavião
do Pará, diz que não teve dificuldade
em nadar no mar, mesmo sem ter se preparado
para a competição. “Onde vivo
não tem nem rio, só um igarapé”,
explica a vencedora. “O importante para nós
é competir, mas quando dá para
ganhar a gente aproveita”, conta Pahamre sorrindo.
No grupo dos homens a vitória ficou
com Jairão Kuikuro, do Parque Indígena
do Xingu.
A canoagem foi disputada
em diversas baterias por duplas representantes
das etnias competidoras. As canoas de mogno
foram confeccionadas pelo povo Rikbaktsa,
nação do Mato Grosso também
conhecida como “canoeiros”. Porém,
os vencedores da disputa foram os índios
Assurini, da Terra Indígena Trocará
(PA), banhada pelo rio Tocantins, onde costumam
praticar.
Troca de experiências
Os intervalos das competições
e as noites no Ginásio Geraldo Magalhães
(Geraldão) são momentos de apresentações
culturais dos indígenas e da cultura
local. Para Valmir Bakairi, que veio da Terra
Indígena Bakairi, no Mato Grosso, os
jogos representam um momento de troca de experiências
e aprendizado. “São quase 30 etnias
diferentes e é importante nos conhecermos.
É assim que promovemos respeito e dignidade”,
afirma Valmir.
Alunos do Espaço
Criança Esperança fizeram uma
emocionante participação na
arena dos Jogos, na quarta-feira (28). O grupo
de 30 crianças e adolescentes apresentou
o maracatu aos atletas e artesãos indígenas.
Valmir diz que a apresentação
foi bonita e de grande importância no
evento. “É bom saber que esse projeto
promove atividade para as crianças,
tirando até da criminalidade”, destaca
o jovem indígena.
À noite, no Ginásio
Geraldo Magalhães, onde as etnias estão
alojadas, os indígenas puderam apreciar
e participar de apresentações
da cultura local. Idosas dos Círculos
Populares de Esporte e Lazer, do bairro Brasília
Teimosa, apresentaram o Pastoril, dança
dramática de origem religiosa embalada
pelo maracá. Em seguida, houve apresentação
de frevo com crianças que ensinaram
alguns passos aos indígenas, mas poucos
arriscaram dar os audaciosos pulinhos.