Brasília (28/11/07)
– Resultado de necropsia parcial feita por
técnicos do Ibama, Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), Instituto Baleia Jubarte (IBJ) e
Bosque Rodrigues Alves (Prefeitura Municipal
de Belém) aponta como provável
causa da morte da baleia minke-anã
encontrada no rio Tapajós, estado do
Pará, uma hemorragia na região
abdominal lateral causada por forte contusão.
Segundo o laudo técnico, o ferimento
pode ter sido causado por colisão com
embarcação. Foram coletadas
amostras de tecido para exames em laboratórios
especializados e somente após os resultados
será emitido um relatório final.
O estado de decomposição
do animal não permitiu determinar se
o ferimento foi produzido antes ou após
o animal ter entrado em água doce,
onde a baleia estava há, no mínimo,
15 dias. Também foram observadas outras
hemorragias. Uma na musculatura abdominal
atribuída aos períodos em que
este animal esteve encalhado e que se debateu
para conseguir voltar para águas mais
profundas. Outra na parede estomacal que podem
ser decorrentes de gastrite devido a estresse.
A fiscalização do Ibama investiga
denúncias de maus-tratos ao animal
por parte de um ribeirinho.
A baleia baleia-minke-anã
(Balaenoptera acutorostrata) macho media 5,51
metros de comprimento. O parecer dos médicos
e veterinários concluem que o animal
tinha entre 3 e 6 anos de idade.
Histórico - Em 14
de novembro de 2007, a baleia foi avistada
na comunidade de Piquiatuba, município
de Belterra, no rio Tapajós, dentro
da área da Floresta Nacional (Flona)
do Tapajós. “A Flona foi informada
por volta das 16 horas do mesmo dia, quando
solicitou apoio do Centro Mamíferos
Aquáticos (CMA), do ICMBio. Uma equipe
composta por técnicos do CMA, Núcleo
de Fauna do Ibama Santarém e Flona
Tapajós se deslocou imediatamente para
o local”, relata a bióloga do ICMBio,
Fábia Luna. A Diretoria de Conservação
da Biodiversidade – DIBIO/ICMBio foi avisada
e ainda na madrugada do dia 15 solicitou o
apoio do IBJ para auxiliar no resgate deste
animal. O IBJ enviou o médico veterinário
Milton Marcondes que se deslocou de Caravelas
(BA) para Santarém e chegou na madrugada
do dia 16.
A baleia permaneceu em Piquiatuba
no dia 15. Porém, mesmo com a insistente
solicitação da equipe do ICMBio,
Ibama, Zoológico das Faculdades Integradas
do Tapajós (ZOOFIT) e Corpo de Bombeiros
de Santarém de que fosse mantida distância
da baleia, a presença de embarcações
e pessoas ao seu redor provocou o deslocamento
do animal no início da noite. O mamífero
só voltou a ser localizado no dia 17
em Jaguarituba, na outra margem do rio Tapajós.
A equipe de resgate se dirigiu ao local utilizando
um helicóptero do Ibama. Foi feito
um esforço para localizá-la
neste mesmo dia por meio do helicóptero
e de uma lancha rápida, porém
sem sucesso.
Na manhã do dia 18,
a baleia apareceu na comunidade de São
José do Arapixuna, na entrada do rio
Arapiuns, distante cerca de 80 km de Jaguarituba.
A médica veterinária do Núcleo
de Fauna do Ibama Santarém, Ana Ely
Melo, conta que “a equipe de resgate se deslocou
de helicóptero ao local e encontrou
o animal em água com cerca de um metro
de profundidade, próximo à margem
do rio. A equipe de resgate prestou os primeiros-socorros
e realizou os primeiros exames do animal”.
Enquanto isso, uma lancha saiu de Santarém
com cerca de 500 metros de rede de malha grossa
que seria usada para cercar o animal e mantê-lo
em semi-cativeiro pelo tempo necessário
para que fosse avaliado seu estado de saúde.
Após a recuperação da
baleia, seria autorizado seu embarque para
transporte até o mar.
A água turva não
permitiu a visualização do animal,
motivo pelo qual o veterinário do IBJ
mergulhou para examinar o corpo do animal.
Ele constatou um ferimento superficial produzido
no dia anterior. Por se considerar que um
animal sob estresse apresenta queda da resposta
imunológica, estando mais sujeito a
processos infecciosos, a baleia foi medicada.
Seu dorso foi coberto com lençóis
brancos umedecidos para evitar queimaduras
pelo sol. Sua freqüência respiratória
foi monitorada por uma hora, inclusive durante
a aplicação dos medicamentos.
Pretendia-se coletar amostras
de sangue para realização de
exames, mas o animal se agitou e se afastou
da margem. A baleia foi monitorada pelos técnicos
do IBJ, ICMBio, Ibama, Bosque Rodrigues Alves
e ZOOFIT que usaram canoas movidas a remo,
para não estressar o animal. Com a
chegada da lancha tentou-se conduzir a baleia
para um igarapé onde a entrada seria
fechada com a rede. A tentativa foi frustada
devido aos fortes ventos e a chegada da noite.
A baleia foi vista pela equipe de resgate
pela última vez por volta das 17:30
horas (19:30 no horário de verão)
e segundo relatos dos moradores ela ainda
foi vista com uso de lanterna às 22:00
horas (meia-noite no horário de verão).
Na manhã do dia 19,
a equipe de resgate entrou em contato com
os moradores de São José do
Arapixuna e eles informaram que a baleia não
fora mais vista. Eles fizeram uma busca na
região e informaram que não
houve sinal da baleia. Na manhã do
dia 20, a baleia apareceu morta, cerca de
200 metros de onde ela havia sido vista pela
última vez, estando em decomposição.
Uma equipe de três veterinários
realizou a necropsia da baleia neste mesmo
dia, enquanto os biólogos realizaram
registros fotográficos e anotações
em planilhas.
Kézia Macedo
Fotos: Elido Carvalho Jr. e Fábia Luna