6 de Dezembro de 2007 -
Luana Lourenço - Enviada especial -
Bali (Indonésia) - A combinação
de secas, queimadas e mudanças climáticas
pode apressar a savanização
da Amazônia e a floresta pode chegar
a pontos críticos de emissão
de gases de efeito estufa em 20 anos. O diagnóstico
foi apresentado hoje (6) pelo especialista
Daniel Nepstad, do Centro Woods Hole de Pesquisa,
durante a 13ª Conferência das Partes
sobre o Clima (COP-13), em Bali, na Indonésia.
A savanização
é a transformação da
floresta em savana, um tipo de vegetação
composta por gramíneas, árvores
esparsas e arbustos, semelhante ao cerrado.
Nepstad, que há 23
anos realiza pesquisas na Região Amazônica,
aponta que os atuais cenários de desmatamento
aliados ao aumento da pressão pela
exploração agrícola da
floresta e aos eventos climáticos extremos
- como a seca que atingiu a região
em 2005 - podem levar à destruição
de 60% da vegetação até
2030.
Isso representaria a emissão
de 15 bilhões a 25 bilhões de
toneladas de gases de efeito estufa, de acordo
com o relatório, intitulado Os Ciclos
Viciosos da Amazônia. O estudo foi encomendado
pela organização não-governamental
(ONG) WWF.
"Uma vez que a exploração
de madeira, a seca e o fogo entram na mata,
a floresta fica mais vulnerável ainda
para pegar fogo de novo, e o pecuarista, o
fazendeiro também estarão lá
novamente. São ciclos de retroalimentacão,
ciclos viciosos levando à degradação
da floresta", explicou.
O tema da redução
de emissões por desmatamento é
um dos principais assuntos em negociação
na Conferência das Partes sobre o Clima.
"Falta um grande incentivo econômico
para a questão, por isso estamos aqui
em Bali", afirmou Nepstad.
O Brasil defende a criação
de um fundo voluntário para garantir
"incentivos positivos" aos países
que conseguirem reduções comprovadas
de desmatamento. Por enquanto, a proposta
tem pouco apoio em Bali e deve perder espaço
para sugestões que vinculem a compensação
a mecanismos de mercado e ao estabelecimento
de metas - possibilidades descartadas pelo
governo brasileiro.
"Seriam necessários
US$ 8 bilhões [para frear o desmatamento],
acho muito difícil conseguir todo esse
dinheiro voluntariamente", ressaltou
Nepstad.
Na avaliação
de Mauro Armelim, da organização
não-governamental WWF Brasil, o país
deveria aproveitar a COP como uma oportunidade
para pressionar as negociações
e incluir a redução do desmatamento
na agenda mundial de prioridades em relação
às mudanças climáticas.
"O tema vem ganhando
espaço desde a COP-11, em Montreal,
no Canadá. É um reflexo de que
o mundo está entendendo o assunto como
uma oportunidade de redução
[de emissões globais]", avaliou.
"Reduzir emissão
de floresta significa reduzir o desmatamento,
que tem uma série de conseqüências,
no caso do Brasil: roubo da madeira, grilagem
de terra, mortes. Ou sejam, resolver o desmatamento
significa dar um passo adiante no desenvolvimento
do país", acrescentou.
+ Mais
Questões de comércio
e clima devem ter tratamento multilateral,
defende Amorim
8 de Dezembro de 2007 -
Luana Lourenço - Enviada especial -
Bali (Indonésia) - Ao participar hoje
(8) do primeiro dia de reunião do Diálogo
Informal dos Ministros de Comércio
sobre Questões de Mudanças Climáticas,
evento simultâneo à 13ª
Conferência das Partes sobre o Clima
(COP-13), em Bali, na Indonésia, o
ministro das Relações Exteriores,
Celso Amorim, afirmou que "tanto as questões
de comércio quanto as mudanças
climáticas, por serem assuntos globais,
devem ser tratados de forma multilateral".
"É a primeira
vez, desde a criação da OMC
[a Organização Mundial do Comércio],
que os ministros de comércio se reúnem
para uma reunião como essa, é
um bom sinal", avaliou.
O ministro, que também
participará em Bali das negociações
da COP-13, sinalizou uma possível flexibilização
do Brasil em relação à
inclusão de mecanismos de mercado na
redução de emissões de
gases de efeito estufa por desmatamento -
hipótese que até agora vinha
sendo enfaticamente descartada por representantes
da delegação brasileira na conferência.
"Nenhuma proposta pode
ser feita de maneira dogmática, então
se houver alguma contraproposta que vá
numa direção que a gente acha
aceitável, vamos considerá-la",
adiantou.
Amanhã (9), o chanceler
fará uma reunião com a delegação
brasileira e na quarta-feira (12) falará
em nome do Brasil na abertura da etapa ministerial
da COP. A delegação também
estará representada pela ministra do
Meio Ambiente, Marina Silva.
+ Mais
ONGs movimentam a parte
não-oficial do encontro
8 de Dezembro de 2007 -
Luana Lourenço - Enviada especial -
Bali (Indonésia) - Na 13ª Conferência
das Partes sobre o Clima (COP-13), em Bali,
na Indonésia, enquanto os negociadores
ocupam as salas e plenários em reuniões
oficiais e grupos de trabalho, as organizações
não-governamentais (ONGs) se movimentam
pelos corredores, nos estandes montados para
distribuição de material, nos
eventos paralelos e em protestos marcando
posição e pressionando.
A participação
dessas organizações em eventos
como a COP-13 faz parte do processo das Nações
Unidas, que os inclui como observadores das
negociações e do andamento dos
trabalhos.
"O papel da sociedade
civil é tentar manter as coisas nos
trilhos. É estar aqui como testemunhas
oculares para lembrar aos países que
estão negociando textos ou papéis
que as conseqüências são
planetárias", disse Marcello Furtado,
coordenador de campanhas do Greenpeace.
De acordo com Furtado, a
integração entre ONGs e a comunidade
científica também dá
a chance para que as entidades colaborem tecnicamente
nas negociações. Diariamente,
estudos e revisões científicas
de temas relacionados às mudanças
climáticas são apresentados
em eventos paralelos aos encontros oficiais.
"Parte do nosso papel
é trocar informações,
fazer propostas positivas com pontos que podem
estar bloqueados na agenda e também
promover de uma maneira informal um outro
tipo de visão para os governos",
acrescenta Karen Suassuna, da ONG WWF.
Entre os protestos, como
a instalação de um termômetro
gigante para alertar sobre o aumento da temperatura
da terra e de ursos polares derretendo com
o calor ou o protótipo de um táxi
solar - que, segundo a organização,
foi da Suíça até Bali
em uma viagem inaugural – os manifestantes
usam o bom humor e a ironia para chamar a
atenção dos delegados dos países
participantes da reunião.
A presença das ONGs
também se dá de forma irreverente,
como o prêmio Fóssil do Dia,
entregue diariamente pela rede Climate Action
Network para homenagear as delegações
que, do ponto de vista das organizações,
estão bloqueando as negociações.
Ontem (7), quem levou o
troféu - um saco de carvão -
foi o Canadá, que se recusou a assumir
metas de redução de gases de
efeito estufa após o fim do primeiro
período de compromisso do Protocolo
de Quioto.
Amorim vê protecionismo
na exclusão do etanol da lista de produtos
que teriam tarifas eliminadas
8 de Dezembro de 2007 -
Luana Lourenço - Enviada especial -
Bali (Indonésia) - O ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, criticou hoje (8)
a lista de produtos ambientais que teriam
tarifas comerciais eliminadas, proposta pelos
Estados Unidos e pela União Européia.
O etanol não está entre os 43
produtos.
"É uma aberração
não incluir o etanol. Não tem
uma explicação racional. É
praticamente consenso que o etanol, e os biocombustíveis
em geral, melhoram muito a situação
em relação às emissões
de CO2", afirmou.
Uma das respostas para o
"injustificável", segundo
o ministro, é o fato de a lista não
incluir produtos agrícolas, apenas
industriais.
"[A rodada ] Doha não
diferencia industrial de agrícola,
só fala em produtos ambientais. Isso
só pode ser alegado por razões
protecionistas".
Atualmente, nos Estados
Unidos o etanol é taxado em 2,5%, mas
está sujeito a barreiras tarifárias
de US$ 0,50 por barril, o que de acordo com
Amorim, "inviabiliza" a competividade
e a entrada do produto no país.
A lista, que segundo o ministro,
já passou por uma reformulação
para retirar itens, que ele classificou como
"absurdos" - como barcos a vela
e cadeados - inclui painéis solares
e equipamentos para geração
de energia eólica, mas deixa de fora
insumos para construção de usinas
de etanol.
"Colocaram na lista
produtos que interessem atendam a interesses
deles", disse.
A proposta será negociada
no âmbito da Organização
Mundial do Comércio (OMC), e segundo
o ministro, será "uma batalha"
tentar incluir o etanol na lista.
Questionado sobre um possível
veto ao documento caso o etanol não
entre no rol de produtos não tarifados,
Amorim afirmou que prefere ser cauteloso.
"Sabe aquele ditado que diz que cão
que ladra não morde? Deixa eu morder
na hora certa, se for o caso", disse.
O chanceler brasileiro participou
hoje (8) do primeiro dia de reunião
do Diálogo Informal dos Ministros de
Comércio sobre Questões de Mudanças
Climáticas, evento simultâneo
à 13ª Conferência das Partes
sobre o Clima (COP-13), em Bali, na Indonésia.