7 de Dezembro de 2007 -
20h35 - Mylena Fiori - Repórter da
Agência Brasil - Brasília - As
mudanças climáticas não
são algo catastrófico ou emergencial,
mas exigem medidas urgentes. Segundo Paulo
Artaxo, professor do Instituto de Física
da Universidade de São Paulo (USP)
e integrante do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC)
das Nações Unidas (ONU), foi
isso que motivou o manifesto apresentado ontem
(6) em Bali (na Indonésia) pela comunidade
científica.
Ao lado de outros 211 cientistas
(diversos deles do IPCC), Artaxo assina o
documento que pede comprometimento de governos
do mundo todo com a redução
da emissão dos gases responsáveis
pelo efeito estufa. “A humanidade tem de fazer
algo efetivo e não só ficar
em discussões diplomáticas”,
defende o professor.
No manifesto, a comunidade
científica pede a conclusão,
até 2009, de um tratado mundial sobre
alterações climáticas.
O objetivo principal desse novo regime deve
ser a limitação do aquecimento
global em, no máximo, dois graus centígrados
acima da temperatura na era pré-industrial.
De acordo com o documento,
para manter o aquecimento global abaixo de
dois graus, as emissões de gases de
efeito estufa devem atingir um ponto máximo
e começar a cair nos próximos
10 a 15 anos. “Com base em conhecimentos científicos
atuais, requer-se que as emissões de
gás que provocam o efeito de estufa
sejam reduzidas em pelo menos 50% em relação
aos níveis de 11000, até 2050”,
diz o texto.
Paulo Artaxo destaca que
a temperatura média da Terra subiu
0,76 grau nos últimos 150 anos. Mantendo-se
os níveis atuais de emissões,
o limite de dois graus seria alcançado
entre 2050 e 2060. “Se não desacelerarmos
logo essa tendência, milhões
de pessoas correrão o risco de eventos
extremos como ondas de calor, secas, inundações
e tempestades. Nossas zonas costeiras e cidades
ficarão ameaçadas pela subida
do nível do mar e muitos ecossistemas,
plantas e espécies animais serão
expostos ao perigo de extinção”,
alertam os mais de 200 cientistas do mundo
todo.
Entre os 212 signatários
está mais um brasileiro: o pesquisador
brasileiro José Marengo, do Instituto
Nacional de Pesquisas Epaciais (Inpe) e membro
do IPCC. O documento, intitulado Declaração
de Bali dos Cientistas, teve apoio do Centro
de Estudos de Alterações Climáticas
da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sidney,
Austrália.
Embora o texto mencione
resultados do último relatório
do IPCC e seja assinado por diversos cientistas
do painel, Paulo Artaxo frisa que se trata
de uma iniciativa independente da comunidade
científica e que o IPCC não
endossa o manifesto. Segundo ele, não
cabe ao painel fazer recomendações,
pois o órgão político
da ONU para o tema é a Convenção
Climática.
Confira a íntegra do manifesto: http://www.climate.unsw.edu.au/bali/
+ Mais
Questões maiores
em Bali aguardarão ministros, avalia
secretário da convenção
sobre o clima
6 de Dezembro de 2007 -
Luana Lourenço - Enviada especial -
Bali (Indonésia) - No quarto dia da
Conferência das Partes sobre o Clima
(COP-13), o secretário da Convenção-Quadro
da Organização das Nações
Unidas sobre Mudança Climática
(UNFCCC, na sigla em inglês), Yvo de
Boer, avalia positivamente os trabalhos, apesar
de reconhecer que as questões fundamentais
deverão ficar pendentes até
a o início da parte ministerial da
COP, na quarta-feira (12).
Nessa etapa, os negociadores
técnicos darão lugar aos ministros
de Estado nas decisões. O secretário
destacou os resultados das discussões
sobre transferência de tecnologia e
cooperação, ocorridas nos grupos
subsidiários como resultados positivos
dos primeiros dias da conferência. "No
início, os países mostraram
que têm noção da necessidade
de urgência nas ações,
das mensagens apontadas pelo relatório
do IPCC [Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas] e do fato de que Bali realmente
precisa mudar o processo daqui em diante",
afirmou Boer, que falou hoje (6) à
Agência Brasil em rápida conversa
nos corredores da COP.
"A redução
de emissões por desmatamento e o fundo
de adaptação também são
temas importantes que eu esperava ver resolvidos
antes da chegada dos ministros, mas talvez
isso não vá ser possível",
comentou.
Em relação
ao Brasil, Boer afirmou que o país
participa de forma "muito construtiva"
das negociações. Ele citou a
chamada proposta brasileira e disse que a
delegação vem sendo "muito
enfática" em defender que o desmatamento
é uma parte do problema das emissões
mundiais de gases de efeito estufa, e não
principal fator.
"Acredito que a delegação
brasileira está buscando um melhor
entendimento sobre o que eles estão
propondo exatamente. Porque, no momento, as
pessoas estão falando de conservação
de florestas, desmatamento evitado e reflorestamento
sustentável como se fossem a mesma
coisa", avaliou.
Sobre os possíveis
resultados desta COP, Yvo de Boer afirmou
que se as negociações em Bali
não definirem o "mapa do caminho"
– roteiro para definição do
futuro regime de mudanças climáticas
pós-Protocolo de Quioto – o encontro
terá sido "um desastre".
"A comunidade científica nos deu
o alerta de que temos que agir agora, de que
os políticos têm que providenciar
uma resposta para a questão [do aquecimento
global]", concluiu.
+ Mais
Decisões efetivas
na conferência do clima devem ocorrer
na semana que vem
5 de Dezembro de 2007 -
Luana Lourenço - Enviada especial -
Bali (Indonésia) - Três dias
após o início das negociações
da 13ª Conferência das Partes sobre
o Clima (COP-13), na Ilha da Bali, na Indonésia,
os representantes dos mais de 190 países
da Convenção-Quadro da Organização
das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas cumpriram a agenda protocolar,
mas as decisões efetivas do encontro
deverão ficar para a próxima
semana, quando os ministros de Estado chegarão
à reunião.
O embaixador extraordinário
para Mudanças do Clima e porta-voz
da delegação brasileira em Bali,
Sérgio Serra, afirmou hoje (5) que
os países estão esperando uma
posição mais clara da presidência
da COP, que está sob a responsabilidade
do governo indonésio, para apontar
as possibilidades e apressar a definição
do chamado "mapa do caminho".
O "mapa" deve
ser o grande resultado da COP-13, que vai
até o dia 14. A idéia dos negociadores
é entrar em acordo sobre um cronograma
para definir ate 2009 os termos do novo regime
global de mudanças climáticas,
que devera entrar em vigor logo após
2012, fim do primeiro período de compromisso
do Protocolo de Quioto.
"Há pouca movimentação
para apresentar a proposta do roteiro, e isso
cabe ao país-sede. Tomara que não
fique para a última hora, quando os
ministros chegarem", apontou Serra.
Na avaliação
do diretor de campanhas da organização
não-governamental (ONG) Greenpeace,
Marcello Furtado, é cedo para definir
quais serão os resultados desta COP,
mas, segundo ele, o andamento das negociações
está abaixo da urgência por respostas
que o problema das mudanças climáticas
demanda.
"A impressão
é que os países em desenvolvimento
estão participando mais ativamente
que os países ricos, que seriam os
diretamente envolvidos com o objetivo da reunião,
que é decidir o futuro do regime de
controle de emissões a que eles próprios
atualmente estão submetidos",
comentou.
"Pode-se dizer que
as intervenções mais claras
até agora foram do grupo das pequenas
ilhas. Claro: com a elevação
do nível do mar, elas perderão
seus territórios. Parece que os países
ricos leram as conclusões do IPCC [Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas],
mas esqueceram no dia seguinte", acrescentou.
Reunidos nos chamados
"grupos de contato", nos próximos
dias, os representantes dos países
discutirão assuntos-chave das negociações
para preparar propostas e costurar acordos
antes do inicio da etapa ministerial da COP,
que começará na quarta-feira
(12). A diminuição de emissões
de gases de efeito estufa pela redução
de desmatamento será um dos temas centrais
dessa etapa.