5 de Dezembro de 2007 -
Verônica Soares - Da Rádio Nacional
da Amazônia - Brasília - Cerca
de 250 líderes indígenas da
Amazônia ameaçam promover uma
série de mobilizações
pelo país e recorrer à Justiça
para impedir o leilão da usina de Santo
Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia.
Eles cobram resposta do governo federal em
relação ao abaixo-assinado que
pede a suspensão do processo de licitação.
De autoria da Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), o documento
foi entregue ontem (4) ao Ministério
do Meio Ambiente, à Casa Civil, à
Presidência da República e a
outros órgãos do governo federal.
O abaixo-assinado alega que não foram
feitos estudos dos impactos ambientais, sociais
e culturais para os 11 povos indígenas
que vivem às margens do Rio Madeira,
dos quais dois são isolados.
O coordenador-geral da Coiab,
Jecinaldo Saterê Mawé, diz que
se as hidrelétricas forem construídas
os direitos constitucionais indígenas
serão desrespeitados. “A gente só
quer o os nossos direitos respeitados”, ressaltou.
“Não somos contra o desenvolvimento
do país, mas a obra ameaça claramente
a vida das populações indígenas.
Esse tipo de desenvolvimento nos não
aceitamos e não vamos aceitar.”
Segundo Jecinaldo, se os
indígenas não forem atendidos
pelas autoridades federais, a Coiab já
estuda recorrer à Justiça para
a não-realização das
obras. “Se não houver uma resposta
do governo brasileiro com relação
às hidrelétricas do Madeira,
o movimento indígena atuará
no campo jurídico e no campo internacional”,
destacou. Ele também ameaçou
promover uma série de mobilizações
pelo país caso o governo não
aja imediatamente.
O projeto para a produção
de energia no Rio Madeira prevê a construção
de duas usinas: a do Santo Antonio e Jirau.
O leilão para a escolha do consórcio
responsável pelas obras da hidrelétrica
de Santo Antônio, a primeira a ser construída
no Complexo do Rio Madeira, ocorrerá
na próxima segunda-feira (10), em Brasília.
+ Mais
Mães indígenas
de Mato Grosso do Sul ganham cartilha inédita
sobre aleitamento
5 de Dezembro de 2007 -
Camila Vassalo - Da Agência Brasil -
Brasília - A Coordenação
Regional da Fundação Nacional
de Saúde (Funasa) em Mato Grosso do
Sul (Core/MS), em parceria com o governo do
estado, começou neste mês a distribuir
para as etnias Guarani-Kaiowá, Terena
e Kadwéu a primeira edição
da Cartilha sobre Aleitamento Materno, elaborada
pela própria comunidade indígena.
O objetivo do trabalho é conscientizar
as mães indígenas da importância
da amamentação, já que
essas comunidades têm sofrido forte
influência da cultura dos brancos e
da mídia.
Serão distribuídas
9 mil cartilhas bilingues, escritas em português,
Guarani-Kaiowá, Kadwéu e Terena.
Inicialmente, a cartilha será lançada
e distribuída nas aldeias Caarapó
(região sul do estado), Bananal, no
município de Aquidauana, e Alves de
Barros, em Bodoquena. O governo do Mato Grosso
do Sul assumiu o compromisso da reproduzir
as cartilhas.
Segundo o coordenador geral
da Funasa em Mato Grosso do Sul, Flávio
Brito, esse é um projeto inédito.
“No Mato Grosso do Sul temos a segunda maior
população indígena do
país. A grande importância do
ineditismo dessa cartilha é que em
momento algum se esperou sobrepor a cultura
indígena. Para isso, os próprios
índios que a elaboraram".
Brito disse que a distribuição
está sendo feita pelos próprios
agentes comunitários (índios
da própria comunidade) que foram capacitados
para orientar e fazer todo o trabalho de prevenção
e educação em saúde.
Ele ressaltou também que “não
seria possível realizar esse trabalho
se não fosse a parceria firmada com
a governo do Estado”.
De acordo com a gerente
do Programa de Aleitamento Materno e Saúde
da Criança da Secretaria de Saúde
do Mato Grosso do Sul, Fátima Scarcelli,
o projeto teve inicio em 2004, quando a Secretaria
de Saúde do estado convidou a Funasa
para participar do Comitê Estadual de
Estímulo ao Aleitamento Materno do
Mato Grosso do Sul. Esse foi o primeiro contato
da secretaria com a equipe da Funasa em Campo
Grande.
Brito afirmou que, com essa
parceria, foi proposta a elaboração
de uma cartilha que orientasse a mãe
indígena sobre o aleitamento materno
e a introdução de novos alimentos.
O projeto foi criado no ano passado e em seguida
se realizaram oficinas pedagógicas
com as comunidades indígenas. Participaram
dos debates agentes comunitários, líderes
comunitários indígenas, professores
indígenas, que trabalharam uma metodologia
construtivista.
"O trabalho teve a
participação das etnias Guarani-Kaiowá,
Kadwéu e Terena. Agora estamos voltando
junto com a Funasa às aldeias para
fazer outro processo, já totalmente
voltado para a aplicação dessa
cartilha, estabelecendo estratégias
de como ela será utilizada por essa
comunidade", disse Fátima Scarelli.
Segundo ela, foi um material
que elaborado a partir da cultura indígena,
não houve a interferência da
cultura do branco. "Nós deixamos
bem claro que não queríamos
essa interferência para a elaboração
da cartilha e foi respeitada a cultura de
cada etnia".
A mesma equipe da Funasa
e da Secretaria voltou a aldeia para fazer
uma oficina dando toda parte do treinamento
do manejo básico de aleitamento materno
e a introdução de novos alimentos.
E a partir daí essas equipes de saúde
indígena, professores, lideranças
e mulheres indígenas poderão
distribuir as cartilhas nos seus postos.
Segundo Fátima Scarcelli,
até a fase atual de distribuição,
a cartilha, demorou mais de dois anos para
ser elaborada. Primeiro foi trabalhada nas
oficinas com as comunidades, depois o material
foi revisado e encaminhado às comunidades
indígenas para aprovação
e somente depois o material foi impresso.
+ Mais
Pedido de revitalização
de rios pernambucanos marca término
dos jogos indígenas
2 de Dezembro de 2007 -
Isabela Vieira - Enviada especial - Olinda
(PE) - Índios da etnia Terena abrem
a festa de encerramento da nona edição
dos Jogos dos Povos Indígenas
Recife - Os rios pernambucanos Capibaribe
e Beberibe precisam de ajuda. A poluição
e a deterioração das margens
prejudicam todo o ecossistema que deles depende.
O pedido de revitalização
das duas bacias marcou o encerramento da nona
edição dos Jogos dos Povos Indígenas,
na noite de ontem (1º).
Antonio Carlos Araomã,
do povo Pankararu de Pernambuco, leu para
o público uma carta elaborada pelos
caciques.
“Declaramos que ouvimos
a voz da água, da terra e dos céus.
Os rios não podem ser o depósito
do lixo da cidade. Não temos o direito
de assim utilizar a natureza”, disse.
Após uma semana de
competições, os jogos terminam
sem recordes olímpicos e sem premiações
individuais. Todos saem vitoriosos, com medalha
no peito e troféu. A idéia é
mostrar que o mais importante é a união.
Neste período, os
índios destacaram a necessidade de
garantir seus direitos, preservar o meio ambiente
e valorizar a própria cultura. O líder
Xavante Paulo Domingos Tsererãwe afirmou
que é uma “alegria” participar do evento.
“Isso simboliza a nossa
força. Deu para mostrar que, para os
indígenas, cultura e espiritualidade
andam juntas”, disse logo após a cerimônia
Terena de Kipaé (a Dança da
Ema), quando os índios apagaram o fogo
sagrado, simbolizando o fim da competição.
Participaram cerca de 900 representantes de
44 etnias.
Segundo Marcos Terena, dirigente
do Comitê Intertribal – Memória
e Ciência Indígena, grupo organizador
do evento, o encontro entre as etnias e o
povo da cidade é positivo porque os
índios se sentem valorizados. “É
um processo de resgate de auto-estima. Muitos
[povos] nunca haviam sido aplaudidos. Outros
perderam o referencial da cultura e tinham
vergonha das origens”, ressaltou.
O professor de educação
física de Brasília Leandro Casarin,
que participou da organização
dos jogos, disse que volta para casa com uma
lição. “Vou ensinar aos meus
alunos que o mais importante do esporte é
celebrar a união, a igualdade e o respeito
às diferenças. A competição
serve apenas como estímulo.”
Os jogos indígenas
são realizados a cada dois anos. A
edição de 2007 teve apoio dos
Ministérios da Educação,
do Esporte e da Justiça. O próximo
evento, em 2009, deve ser realizado no Acre.