Antropologia - 04/12/2007
- Durante o simpósio “Conservação
de Biodiversidade em Paisagens Florestais
Antropizadas”, realizado no fim deste mês
de novembro, pelo Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT),
Belém (PA) recebeu um dos grandes nomes
da antropologia mundial: John Hemming.
Historiador e pesquisador
da Royal Geographical Society da Inglaterra,
Hemming é considerado um dos maiores
especialistas em etnias indígenas do
continente americano. Na Amazônia, seu
trabalho é extremamente relevante,
sendo um dos poucos antropólogos a
ter contato com índios brasileiros
que nunca haviam visto um “homem branco”.
John Hemming veio ao Brasil
pela primeira vez em 1961, durante uma expedição
pelo Rio Iriri, o maior afluente do Rio Xingu.
Hoje a área é mais conhecida
como “Terra do Meio” (por estar cercada por
várias terras indígenas), palco
de diversos conflitos pela posse de terra.
Entretanto, durante a expedição
pelo local, John Hemming entrou em locais
até então nunca pisados pelo
homem, recebendo autorização
do IBGE para dar nome aos lugares que ainda
não tivessem sido catalogados, como
rios e cachoeiras. “Recebemos autorização
do IBGE para nomear alguns lugares. Obviamente,
a maioria usou nomes das namoradas na época.
No fim, nenhum dos nomes acabou sendo utilizado
pelo governo brasileiro”, brinca Hemming.
Muito além de nomear
lugares inóspitos, Hemming tinha o
objetivo de conhecer as etnias indígenas
brasileiras que habitavam a região
próxima do Rio Iriri, onde inicialmente
o governo brasileiro acreditava que não
existissem populações indígenas.
A expedição do qual John Hemming
fez parte enfrentou algumas dificuldades,
como o momento em que ele e sua equipe foram
emboscados por índios arara, no qual
um de seus amigos acabou sendo morto.
Depois de 1961, Hemming
voltou ao Brasil ainda diversas vezes, tendo
trabalhado inclusive ao lado de Orlando Villas
Bôas, o maior indigenista brasileiro.
Após assumir a direção
da Royal Geographical Society por vários
anos, Hemming voltou a participar de uma grande
expedição. Em 1985, liderou
uma missão que faria o mapeamento de
diversas etnias indígenas em todo o
Brasil. “Durante essa missão, tivemos
contato com cerca de 45 etnias indígenas.
Dessas, quatro nunca tinham tido contato com
a nossa civilização”, destaca.
Sua atuação
junto às comunidades indígenas
acabou sendo reconhecida pelos próprios
índios: Hemming foi o único
estrangeiro presente no ritual funerário
indígena, feito em memória de
Orlando Villas Bôas. “O quarup de Orlando
Villas Bôas, em 2003, foi a maior homenagem
que se fez até hoje a um civilizado
dentro da cultura indígena, e determinou-se
que seria o último. Orlando foi consagrado
‘cacique branco’ do Xingu; sua morte causou
grande emoção entre os índios,
ele era muito amado”, lembra Hemming, observando
algumas fotos do quarup em seu livro, Die
if you Must (sem publicação
no Brasil).
Ao longo de tantos anos
de estudo das comunidades indígenas
amazônicas, John Hemming sempre se impressionou
com a capacidade dos índios em viver
em harmonia com uma biodiversidade tão
rica. Durante sua palestra, proferida no primeiro
dia do Simpósio de Conservação
de Biodiversidade, Hemming relembrou o assunto:
“Isto é uma constante na história
da ocupação da Amazônia:
os povos indígenas aprenderam a viver
bem, e de forma sustentável, na floresta
e ao longo dos rios, enquanto que os europeus
intrusos nunca conseguiram”.
Sobre o trabalho junto às
comunidades indígenas, Hemming afirma:
“Estudar as populações indígenas
amazônicas é extremamente importante.
Nós ainda temos muito a aprender com
eles sobre como conviver pacificamente com
a floresta”.
Tiago Araújo - Agência Museu
Goeldi
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Índice de desmatamento
na Amazônia cai 20%
Inpe - 07/12/2007 - O desmatamento
na Amazônia entre agosto de 2006 e julho
de 2007, estimado em 11.224 Km² pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe/MCT), caiu 20% em relação
ao período 2005-2006, registrando uma
queda acumulada de 59% nos últimos
três anos.
O número é
muito próximo ao menor já registrado
(11.030 Km², em 1991) desde o início
do monitoramento do desmatamento na região,
em 1988. O anúncio dos índices
de desmatamento aconteceu nesta quinta-feira
(6) em Belém, no Pará.
As taxas de desmatamento
da Amazônia são elaboradas com
base no Prodes - Projeto de Monitoramento
da Floresta Amazônica Brasileira por
Satélites, do Inpe. O sistema utiliza
imagens com maior precisão, tornando
possível constatar o que foi desmatado
entre o período de 1º de agosto
a 31 de julho do ano seguinte.
O Pará foi o único
estado que apresentou crescimento na taxa
de desmatamento para 2006-2007, de apenas
1%, chegando a 5.569 Km².
O estado de Mato Grosso
é o segundo com maior área desmatada
(2.476Km²). Contudo, apresenta uma queda,
segundo as estimativas do Prodes, de 43% em
relação ao período 2005-2006,
que foi de 4.333Km² de área desmatada.
Em seguida vem Rondônia,
com estimativa para 2006-2007 de 1.465Km²
de área desmatada. Porém o estado
apresentou queda de 29% em comparação
a 2005-2006 (2.062Km²). Pará,
Mato Grosso e Rondônia juntos foram
responsáveis por 85% dos desmatamentos
na Amazônia no período 2006-2007.
Mesmo com estimativas positivas
do Prodes para 2006-2007, confirmando o terceiro
ano consecutivo de queda nas taxas de desmatamentos
na região, o Ministério do Meio
Ambiente está atento para os números
do sistema Deter - Detecção
do Desmatamento em Tempo Real, também
do Inpe, que apontam uma tendência de
aumento dos desmatamentos nos primeiros três
meses do período 2007-2008 (agosto
a outubro).
Para impedir que essa tendência
se confirme por todo o período, o governo
federal está preparando um conjunto
de medidas a serem adotadas já no início
do próximo ano.
(Com informações da Assessoria
de Comunicação do MMA)
Assessoria de Imprensa do INPE
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Memória de simpósio
sobre biodiversidade está no Portal
do Museu Goeldi
Conservação
Ambiental - 03/12/2007 - O brasileiro tem
cada vez mais percepção de que
o Brasil é um país megadiverso
e a biodiversidade tem valor. Todavia, como
conservar esta riqueza natural tendo em vista
o avanço das frentes econômicas
sobre as áreas florestais? Para refletir
sobre estas e outras questões, o Museu
Paraense Emilio Goeldi (MPEG/MCT), em parceria
com as universidades de East Anglia e Lancaster
(ambas do Reino Unido), reuniu de 21 a 23
de novembro, em Belém (PA), interessantes
experiências em estudos multitaxonômicos
desenvolvidos em paisagens florestais, protegidas
ou alteradas para aproveitamento econômico
em todo o Brasil.
O evento propiciou uma intensa
troca de informações entre cientistas,
organizações ambientalistas,
o setor governamental e privado, tendo como
ponto focal estratégias de pesquisa,
conservação e restauração
de paisagens.
Ao final de três dias
do Simpósio Conservação
da Biodiversidade em Paisagens Florestais
Antropizadas, foram apresentados mais de 30
trabalhos, alguns inéditos, além
de muitas lições para a pesquisa
e às ações de conservação
na Amazônia.
A novidade boa para quem
não pode participar, ou que deseja
acessar algumas das informações
colocadas durante o Simpósio, é
que estas lições podem ser resgatadas
com alguns cliques no mouse. Tanto as apresentações
orais quanto os slides das apresentações
dos palestrantes estão publicados no
Portal do Museu Goeldi, no endereço
http://www.museu-goeldi.br/sobre/NOTICIAS/19_11_07_progrmacao_final.htm
Lições
O futuro da biodiversidade em áreas
de floresta continua estritamente dependente
das áreas não incluídas
em unidades de conservação.
Sendo assim, a conservação da
biodiversidade depende da interação
entre o desenvolvimento econômico e
as estratégias para a proteção
da natureza.
Como pensar a conservação
da biodiversidade amazônica em que o
futuro da Floresta já está associado
à fragmentação? Os organizadores
do Simpósio, os ecólogos Ima
Vieira (Museu Goeldi), Carlos Peres (University
of East Anglia), Jos Barlow (Lancaster University/
MPEG) e Toby Gardner (University of East Anglia/
MPEG) optaram por convidar palestrantes que
propiciassem um quadro histórico, informações
sobre problemas, iniciativas governamentais,
estudos diversos e oportunidades para a conservação
da biodiversidade no contexto atual, em que
as paisagens amazônicas se diversificam
com a expansão da monocultura da soja,
grandes plantações de árvores
exóticas, valorização
dos biocombustíveis, usinas hidroelétricas,
pela pecuária, mineração
e acesso físico às áreas
antes remotas.
Por meio da memória
do Simpósio é possível
acessar um histórico do contato com
as populações indígenas
feita por uma notável testemunha da
história recente, o debate sobre o
tamanho adequado para estabelecimento de unidades
de conservação, a importância
da conexão entre fragmentos florestais,
a ênfase no estudo da composição
e não apenas na quantidade de espécies,
a necessidade de estudar a história
natural para entender as respostas obtidas
nos inventários biológicos,
como se comportam diferentes grupos biológicos
em contato com matas nativas e alteradas pela
soja ou pela cana-de-açúcar,
a eficácia do manejo florestal, opiniões
onde os governos devem concentrar esforços
para garantir a conservação,
as estratégias dos governos Federal,
do Pará e do Amazonas.
Joice Santos - Agência do Museu Goeldi