9 de Janeiro de 2008 - Alana Gandra
- Repórter da Agência Brasil - Rio
de Janeiro - O governo federal não fez os
planejamentos necessários e deixou de investir
na área de abastecimento de energia, mesmo
depois do episódio de racionamento verificado
no Brasil, em 2001. A análise
foi feita pelo físico Luiz Pinguelli Rosa,
diretor da Coordenação de Programas
de Pós-Graduação de Engenharia
(Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
“[O governo] não completou
o dever de casa. Ficaram faltando algumas questões
que não foram respondidas”, avaliou.
Embora o Brasil possua uma das
maiores bacias hidrográficas do mundo, as
hidrelétricas existentes no país não
bastam para atender ao consumo. Isso se deve, segundo
frisou Pinguelli, à falta de investimentos.
“Nós não temos mais
o número de hidrelétricas necessárias
para fazer face a esse problema. Isso já
foi uma política anterior, que o governo
atual seguiu. E aí você precisa de
termelétricas para complementá-las
quando for preciso, como ocorre agora. Mas aí
faltou o gás natural, porque também
houve uma política desentrosada entre o gás
natural e a energia elétrica. Sem dúvida,
são erros de planejamento”, sinalizou.
O maior “desbalanceamento” é
identificado, segundo Pinguelli, no chamado consumidor
livre, cujo percentual no passado era de 10% do
consumo de energia e hoje se situa na faixa entre
25% a 30% do total. “São grandes indústrias
que não são submetidas ao planejamento.
Elas têm contratos variados, utilizando energia
do sistema.”
É considerado consumidor
livre aquele que tenha exercido a opção
de compra de energia elétrica de fornecedor
distinto da concessionária local de distribuição,
ou seja, de produtores independentes. Para Pinguelli,
enquanto a energia é livremente negociada
para o consumidor livre, o consumidor cativo absorve
erros e acertos do planejamento centralizado do
governo e da distribuidora.
O diretor da Coppe criticou a
existência do consumidor livre, que levou
à criação de uma figura não
prevista inicialmente: a comercializadora de energia
que, segundo ele, "entra no meio e vende a
energia do sistema, que nós todos consumimos,
para esses grandes consumidores. Mas vende de uma
forma aleatória, em contratos variáveis,
que não são públicos. Então,
você perdeu a informação para
ter o planejamento”.
Pinguelli afirmou que o planejamento
não foi adequado porque faltava informação,
em particular, da parte do consumidor livre.
Outra questão que não
foi resolvida pelo governo é o problema do
gás. “Foi muito mal equacionada a combinação
entre gás natural e energia hidrelétrica.
E está dependendo agora da importação
de gás liquefeito de petróleo (GNL)
pela Petrobras”, disse Pingueli.
A primeira usina de regaseificação
de GNL da Petrobras tem inauguração
prevista para maio deste ano. Pinguelli disse que
a entrada em operação dessa unidade
“alivia o problema do gás porque permite
usar mais termelétricas”. O gás natural
é o combustível mais adequado para
as térmicas brasileiras em razão do
custo mais barato, destacou.
Luiz Pinguelli Rosa analisou que
os investimentos programados para o setor elétrico
sofreram muito atraso. Um exemplo notório,
segundo ele, é o Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).
“Uma boa iniciativa de geração
eólica (dos ventos), pequenas centrais hidrelétricas,
de uso de biomassa e que, infelizmente, atrasou
muito. Metade das eólicas não saiu
do papel. Isso é ruim porque não é
tão pouco”, criticou.
De acordo com Pinguelli, as usinas
eólicas prevêem a geração
de 3,3 mil megawatts, enquanto a usina nuclear de
Angra 3 vai gerar 1,35 mil megawatts. Ele citou
também problemas ambientais que retardaram
o licenciamento de usinas hidrelétricas importantes,
como Santo Antonio, no Rio Madeira.
Pinguelli avaliou que o crescimento
previsto para o Produto Interno Bruto (PIB), que
é a soma das riquezas produzidas no país,
levará a um aumento do consumo de energia
elétrica. E a oferta de energia será
insuficiente para atender à demanda. “Esse
é um dos fatores que estão presentes
na possibilidade de falta de energia daqui a um
ou dois anos. Daí a antecipação
da ligação das termelétricas
para enfrentar esse problema.”
Luiz Pinguelli afirmou, porém,
que o crescimento econômico é positivo.
Ele salientou que cabe ao governo encontrar a solução
para o impasse “porque senão você estrangula
o crescimento por falta de energia”.
A resolução do problema
passa pela construção de novas hidrelétricas
de grande porte, como as de Santo Antonio e Jirau,
no Rio Madeira, sinalizou o diretor da Coppe/UFRJ.
Ele destacou, por outro lado, que essas usinas não
vão resolver a crise atual. "Elas vão
evitar crises futuras”, avaliou.