Monitoramento - 29/01/2008 - Informações
providas por satélites serão essenciais
para subsidiar políticas públicas.
O aquecimento do Planeta
pela ação do homem já é
uma realidade, segundo o Painel Intergovernamental
de Mudança Climática (IPCC). A taxa
de elevação tem sido de 0,2ºC
por década, o que parece pouco perto das
variações de temperatura que uma pessoa
enfrenta durante o dia. No entanto, não se
deve esquecer que apenas 5ºC nos separam da
última era glacial.
As conseqüências para
o meio ambiente não serão das mais
animadoras. Prevêem-se o aumento do nível
dos oceanos e alterações na linha
costeira, desertificação da Amazônia,
maior incidência de furacões e toda
sorte de fenômenos influenciados pela temperatura
no Planeta.
Entre os especialistas, diz-se
que mesmo que as emissões cessem imediatamente,
o mundo sentirá os efeitos de todo o gás
carbônico que já foi despejado na atmosfera.
Se o marco limite para se retornar já foi
ultrapassado, como estar preparado para enfrentar
os desafios que se apresentarão nas próximas
décadas? A resposta pode estar nos “olhos”
que o homem conseguiu colocar no espaço para
vigiar a Terra: os satélites.
Segundo o chefe da Divisão
de Sistemas e Satélites Ambientais do Centro
de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
(Cptec/Inpe), Luiz Augusto Machado, os satélites
atuam em duas frentes fundamentais: a previsão
climática e o monitoramento. Enquanto a previsão
analisa as condições meteorológicas
e as tendências da temperatura, pressão,
precipitação, nuvens, aerossóis,
vento, ou seja, o clima em si, o monitoramento inclui
a observação das conseqüências
na superfície, principalmente na vegetação.
“O satélite é a ferramenta que permite
fazer medições contínuas de
todo o globo terrestre; ele especializa a informação,
além de ter resolução temporal
constante”, diz.
Para o pesquisador Carlos Nobre,
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT),
em São José dos Campos (SP), isso
é um sinal de que os dados fornecidos por
esses artefatos se tornarão cada vez mais
importantes. “Nós precisamos ter sensores
de monitoramento ambiental que possam nos ajudar
a responder às grandes questões referentes
ao Brasil: como o clima está mudando, como
a vegetação está mudando, como
o nível do mar está mudando, como
a linha costeira está mudando”, afirma. “Em
um país tão grande como o nosso, a
melhor ferramenta para monitorar a variabilidade
na paisagem são as plataformas orbitais”.
Três satélites nacionais
em operação contribuem tanto para
a previsão do tempo quanto para o estudo
do território brasileiro. Aliado à
nossa tecnologia de observação da
Terra, o Brasil também faz uso de diversos
artefatos estrangeiros. Dois dos equipamentos nacionais
são os Satélites de Coleta de Dados
(SCDs), lançados em 1993 e 1998. Os SCDs
compõem o Sistema de Coleta de Dados Ambientais
(SBCDA), que recolhem dados de cerca de 700 plataformas
automáticas de superfície, instaladas
de Norte a Sul. Esses satélites registram
informações agrometeorológicas,
meteorológicas, hidrológicas e oceanográficas.
Para o responsável pelo
SBCDA no Inpe, Wilson Yamaguti, a aquisição
de dados ambientais “in-situ” por meio de plataformas
de coleta de dados é uma ferramenta importante
para a observação e o conhecimento
do nosso Planeta, com reflexos na calibração
de modelos de diversos fenômenos naturais
e conseqüente melhora das previsões
de tempo e clima. Mas, na sua opinião, mesmo
com o número de plataformas já instaladas
e em operação no Brasil, há
necessidade de incrementar esse número face
às dimensões continentais do País,
bem como investir na reposição dos
SCDs para permitir a continuidade dos serviços
de coleta de dados.
Por outro lado, a parte de monitoramento
ambiental tem grande auxílio do Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers).
As imagens geradas pelo Cbers cobrem todo tipo de
estudo que envolva uso ou alteração
na superfície, seja vegetação,
cidades, plantações ou cursos d´agua,
por exemplo.
“Uma das principais funções
das câmeras do Cbers é a detecção
de alterações na vegetação,
particularmente aquelas mais drásticas, como
remoção, mudanças fortes de
uso, alterações sazonais. Como uma
das variáveis importantes nas componentes
das mudanças globais é o uso do território,
conclui-se que os satélites como o CBERS
são fundamentais no acompanhamento desses
processos”, observa o coordenador do Segmento de
Aplicações do Programa Cbers, José
Carlos Epiphânio.
Floresta
Nobre, que redigiu, em conjunto com outros pesquisadores,
um artigo publicado na revista científica
Science sobre a possibilidade de savanização
da Amazônia em decorrência das mudanças
climáticas, confirma a relevância do
satélite sino-brasileiro. “O Cbers é
uma ferramenta fantástica, tem permitido
o monitoramento da floresta amazônica com
grande precisão e tem mostrado ser um instrumento
da vegetação nativa. É desse
tipo de satélite que nós precisamos
ter um compromisso para comparar o que já
temos e expandir”.
Nobre acredita que os dados obtidos
pelos satélites e os estudos decorrentes
dessas informações vão subsidiar
decisões políticas de combate às
causas e às conseqüências do aquecimento
global. “São vários os componentes
antes de propor políticas públicas:
analisar, acompanhar os dados, e aí, sim,
nós teremos a condição de criar
políticas públicas ou de adaptação
ou de redução dos riscos associados.
E, para isso, os satélites são essenciais”,
justifica.
Para tanto, Nobre defende a constância
de ações nesse campo. “É importante
que o Brasil faça uso de sensores de monitoramento
ambiental em um programa de longo prazo, para que
haja comparabilidade entre os dados”, o que compreenderia
um período de, pelo menos, 20 a 50 anos.
Sem uma sequência de satélites que
dêem informações sobre um determinado
fator, quebra-se a continuidade da sequência
histórica, fundamental para permitir a comparação.
Assim como os desafios impostos
pelo aquecimento global devem crescer nos próximos
anos, os satélites terão de acompanhar
cada vez mais de perto novos parâmetros. Para
contribuir com essa demanda, o Programa Nacional
de Atividades Espaciais (Pnae) prevê o lançamento
de mais três Cbers, o satélite Amazônia-1,
além do Mapsar - um satélite radar
que enxerga a superfície mesmo à noite
ou coberta por nuvens.
Coordenação de Comunicação
Social da AEB
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Pesquisadores debatem ação
do aquecimento global sobre plantas
Mudanças Climáticas
- 31/01/2008 - O pesquisador do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), Carlos Nobre,
abre o 31º Congresso Paulista de Fitopatologia,
a ser realizado de 12 a 14 de fevereiro na Coordenadoria
de Assistência Técnica Integral (Cati),
em Campinas (SP). O tema central do encontro é
o aquecimento global e suas implicações
para o futuro de doenças em plantas.
O quadro mundial do efeito estufa,
com ênfase na situação do Brasil,
é o foco da palestra de Nobre. A contribuição
do País para contornar o problema, assim
como a adaptação às mudanças
que já ocorreram e são praticamente
irreversíveis, também constam na pauta
do evento.
O aumento da concentração
de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera
e as previsões negativas em relação
à diminuição da emissão
de substâncias poluentes nas próximas
décadas tornam imprescindível o estudo
dos impactos destes fenômenos sobre doenças
de plantas.
A pesquisadora da Embrapa Meio
Ambiente, em Jaguariúna (SP), Raquel Ghini,
descreverá prováveis cenários
climáticos em doenças de plantas.
Experiências podem fornecer informações
quanto às alterações na planta,
no patógeno e na doença, assim como
os resultados dessas alterações a
longo prazo.
A taxa de aquecimento dos últimos
50 anos quase dobrou em comparação
a cem anos atrás, segundo os estudos de órgãos
que acompanham o fenômeno. No entender de
Raquel Ghini, as mudanças climáticas
representam uma das maiores ameaças à
humanidade nas próximas décadas. A
agricultura é um setor particularmente vulnerável
e, por esta razão, faz-se necessária
a avaliação dos impactos sobre doenças
de plantas e estudos de medidas de adaptação
a esses problemas.
Previsões
Os dados disponibilizados pelo Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla
em inglês) avaliam a predisposição
para o aumento ou diminuição da incidência
ou da severidade de doenças, aplicando-se
modelos de previsão que consideram variáveis
como temperaturas média/máxima/mínima,
precipitação, insolação,
umidade relativa e outras.
Segundo a pesquisadora, na Embrapa
Meio Ambiente, as médias dos dados climáticos
disponibilizados para o Brasil são utilizadas
para a confecção de mapas com o uso
do Sistema de Informações Geográficas
(SIG).
(Com informações da Embrapa)
Assessoria de Imprensa do MCT