A implantação
do complexo minero-siderúrgico de Mato Grosso
do Sul e a consequente demanda por carvão
vegetal podem aumentar a pressão por desmatamento
em áreas nativas do Pantanal e Cerrado.
Brasília, 07 de fevereiro
de 2008 — Um estudo realizado por uma equipe de
pesquisadores do Centro de Estudos em Sustentabilidade
da Fundação Getúlio Vargas,
de São Paulo, com apoio da organização
não-governamental Conservação
Internacional (CI-Brasil), revela que a implantação
do complexo minero-siderúrgico de Mato Grosso
do Sul (CMS-MS), na cidade de Corumbá, elevará
a demanda por carvão vegetal.
O CMS-MS é formado pelas
empresas Mineração Corumbaense Reunida
(MCR), subsidiária do Grupo Rio Tinto; EBX
/ MMX; Mineração Pirâmide e
a Companhia Vale do Rio Doce.
A pesquisa "Impactos socioeconômicos
e ambientais do complexo minero-siderúrgico
de Mato Grosso do Sul" conclui que o estado
não tem estoques de florestas plantadas suficientes
para atender ao crescimento da demanda de energia,
em decorrência da instalação
do CMS-MS. "A implantação do
CMS-MS deve aumentar a pressão sobre as áreas
nativas do Cerrado e da Bacia do Alto Rio Paraguai,
tanto em Mato Grosso do Sul quanto na Bolívia
e no Paraguai, impactando de forma considerável
a manutenção da biodiversidade da
Bacia, onde está integralmente inserido o
Pantanal brasileiro", diz André Carvalho,
pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade
da Fundação Getúlio Vargas.
Para o gerente do programa Pantanal da CI-Brasil,
Sandro Menezes, "é preciso reconhecer
que a influência do CMS-MS vai além
da região de Corumbá e transcende
também os limites do Mato Grosso do Sul.
Por isso, é necessário realizar uma
Avaliação Ambiental Estratégica
transfronteiriça".
Segundo a pesquisa, entre os anos
de 1997 e 2005, um total estimado em 5,7 milhões
de hectares de áreas nativas foram exploradas
para a produção de carvão vegetal
no Mato Grosso do Sul. A área de vegetação
primária que foi convertida em matriz energética
para os auto-fornos de siderúrgicas - principalmente
as localizadas no estado de Minas Gerais - seria
equivalente a 16% do território do Mato Grosso
do Sul.
Os pesquisadores alertam que,
para atender às necessidades das siderúrgicas
sem que se avance sobre a vegetação
nativa, será preciso investir no plantio
florestal em áreas degradadas não-aplicáveis
à agricultura e localizadas fora da Bacia
do Alto Rio Paraguai. Estima-se que em 2007 o volume
de carvão vegetal consumido pelo CMS-MS foi
de 240 mil toneladas. Para produzir esta quantidade
de matéria-prima seriam necessários
5.500 hectares de áreas plantadas. O estudo
projeta que, em 2015, a demanda pela matéria-prima
vegetal chegue a 2,4 milhões de toneladas,
o que exigiria uma área cultivada de 56 mil
hectares.
Considerando que o ciclo de exploração
do eucalipto é de sete anos, o estado do
Mato Grosso do Sul terá que dispor de 392
mil hectares de florestas plantadas. Atualmente,
a área reflorestada que fornece matéria-prima
para a produção de carvão é
de cerca de 30 mil hectares. "Percebe-se aí
que, se bem planejado e sob os incentivos corretos
do governo estadual, o enorme risco potencial à
biodiversidade da região pode ser transformado
em excelente oportunidade econômica para todo
o estado", afirma Paulo Gustavo do Prado Pereira,
diretor de Política Ambiental da CI-Brasil.
Contextualização
No início de 2006, com
a consolidação de atividades relacionadas
à extração de minérios,
à produção de ferros primários
e de aço, Corumbá tornou-se o espaço
de implantação de diferentes projetos
industriais. Tais iniciativas passaram a ser reconhecidas
como distintos "pólos produtivos",
cada um deles associado à empresa que o protagoniza.
O conceito do Complexo Minero-Siderúrgico
(CMS) apresenta uma abordagem mais abrangente. Ele
inclui os distintos "pólos produtivos"
em implantação, mas ultrapassa os
limites de Corumbá ao considerar a origem
dos múltiplos insumos utilizados nas cadeias
produtivas instaladas no município, conferindo
uma importância regional a esse conjunto de
iniciativas industriais.
Os produtos gerados pelos empreendimentos do CMS-MS
podem ser divididos em três fases, caracterizadas
pelo crescente valor adicionado em cada uma: minério
de ferro, ferros primários (esponja, gusa
e ligas) e aços (longos e planos).