21 de Fevereiro
de 2008 - Flávio Gusmão - Repórter
da Rádio Nacional da Amazônia - Brasília
- A organização Hutukara Associação
Yanomami (HAY) acusa parlamentares da Comissão
Especial de Mineração em Terra Indígena,
da Câmara dos Deputados, de tentar persuadir
os índios a aceitar a exploração
mineral nas áreas de reserva.
Os parlamentares teriam defendido
a causa durante visita, no último dia 14,
às aldeia Xirimihwiki e Auari, em Roraima.
A comitiva chegou sem que os índios fossem
avisados. De acordo com a entidade que defende os
Yanomami, só foi permitida a presença
da associação depois de muita insistência.
O principal argumento dos defensores
da regularização da exploração
de minério em terras indígenas é
de que os moradores das reservas passariam a receber
um percentual do que fosse retirado da terra.
Segundo o presidente da Comissão
de Mineração em Terra Indígena,
deputado Édio Lopes (PMDB/RR), existem experiências
bem-sucedidas em reservas do estado do Amazonas.
Os índios cobram uma taxa dos caminhões
carregados de minério que passam pelas terras
demarcadas e chegam a lucrar R$ 120 mil por mês.
O deputado argumenta que a exploração
em áreas de reserva está prevista
na Constituição e que a intenção
dos parlamentares é regulamentar essa atividade
para beneficiar a economia do país e os indígenas.
Édio Lopes atribui a resistência
dos povos indígenas em aceitar a exploração
nas áreas de reserva à influência
de organizações não-governamentais
(ONGs). "Quase todas as ONGs tentam confundir
o garimpo com a mineração. Uma coisa
não tem nada a ver com a outra. São
processos distintos. Processos que no Brasil mesmo
temos a diferença dos resultados de um e
de outro", afirma.
O secretário do Conselho
Distrital de Saúde dos Yanomami e dos Ye'kuana,
Raul Yacashi Rocha, que acompanhou a comitiva de
parlamentares, diz que os indígenas estão
mais preocupados com outras questões, como
a preservação da cultura e da floresta,
além da chegada de doenças. "Nós
estamos pensando na preservação ambiental
e de nossos costumes. Eles devem também abrir
estradas e isso deve nos prejudicar. Tem também
a questão das doenças trazidas pelos
brancos, revela.
O forte sentimento dos Yanomami
contra a exploração mineral é
resultado da maciça invasão garimpeira
entre maio de 1986 e setembro de 1988. Segundo a
HAY, eram cerca de 30 a 40 mil exploradores. Hoje,
são pouco mais de mil. Com a chegada de doenças
e a introdução de armas de fogo, morreram
centenas de índios.
+ Mais
Povos indígenas da fronteira
com o Peru vão discutir exploração
ilegal de madeira
21 de Fevereiro de 2008 - Ana
Paula Michnik - Da Rádio Nacional da Amazônia
- Brasília - Indígenas da etnia Ashaninka
que vivem na Terra do Rio Amônia, no Acre,
na fronteira do Brasil com o Peru, representantes
da Comissão Pró-índio do estado
e do Centro de Trabalho Indigenista do Brasil vão
se reunir para discutir como combater a exploração
ilegal de madeira na região.
É que empresas peruanas
ligadas ao setor madeireiro aproveitam a inexistência
de marcos fronteiriços entre os dois países
para invadir o lado brasileiro e promover desmatamento.
Além de cometer crimes ambientais, eles invadem
a Terra Ashaninka do Rio Amônia.
As reuniões, que serão
realizadas no município acreano de Marechal
Thaumaturgo e em Sawawo, no Peru, começam
no próximo domingo (24) e vão até
o dia 28 deste mês.
Segundo a representante da Associação
Ashaninka, Alexandrina Pianko, do lado brasileiro
moram cerca de 2 mil indígenas e não-índios
que sofrem com o desmatamento feito pelas empresas
madeireiras peruanas.
"A maior população
indígena está assentada nessa faixa
de fronteira, então todas elas, tanto indígenas
quanto não-indigenas, estão sendo
afetadas diretamente por conta dessas madeireiras
que estão aí nessa faixa de fronteira,
explorando madeiras".
Há mais de duas décadas,
os ashaninka denunciam a invasão na Terra
do Rio Amônia pelas madeireiras peruanas.
Segundo a assessoria de comunicação
da Fundação Nacional do Índio
(Funai), os povos que moram na região da
fronteira entre o Brasil e o Peru estão protegidos.
Para reforçar a segurança,
a administração da Funai no Acre está
elaborando um documento em que solicita a construção
de três postos para fiscalizar a entrada das
empresas peruanas no Brasil.
Não há previsão
de quando esses postos começarão a
funcionar.